Voluntários se mobilizam para ajudar sem-teto a enfrentar o frio
Baixas temperaturas já causaram ao menos cinco mortes na capital; saiba como ajudar
O inverno só começa nesta segunda (20), mas os termômetros da cidade anteciparam o que vem por aí. No início da semana passada, as madrugadas bateram na casa dos 3,5 graus, recorde de frio em 22 anos. E os próximos três meses devem ser ainda piores. “Esperamos uma das estações mais rigorosas desde o ano 2000”, diz Marcelo Schneider, do Instituto Nacional de Meteorologia, responsável pelas previsões na capital.
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O cenário para as próximas semanas é bem preocupante, considerando-se os estragos verificados por aqui com a chegada da temporada gelada. Os cerca de 16 000 moradores de rua fazem parte do grupo de maior risco. Ao menos cinco deles foram encontrados mortos ao relento nos últimos quinze dias, um deles em plena Avenida Paulista (veja o quadro), e os demais em Santana (dois casos), Bom Retiro e Belém.
Sensibilizados por essas tragédias, muitos paulistanos começaram a se mobilizar para tentar amenizar o sofrimento de quem não tem casa. A loja de cobertores populares Fibratex, na Zona Norte, muito procurada por entidades que precisam fazer doações em massa, passou a registrar filas de espera de três horas (cada item custa entre 11 e 15 reais). “As vendas aumentaram 90% sobre o que era esperado para o período, chegando a 100 000 mantas por semana”, diz a gerente Brena Cuenga.
A Campanha do Agasalho, promovida pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (Fussesp), teve início em 18 de maio e já arrecadou 138 334 peças, além de 6 000 cobertores, uma quantidade acima da média. “Devemos ter pelo menos 20% mais entregas em 2016”, calcula a primeira-dama Lu Alckmin, presidente do Fussesp. Entidades sociais também se prepararam para ampliar a ajuda. “Com as doações, conseguimos 500 000 reais e reformamos o espaço dedicado ao atendimento da população”, relata o frei José Francisco dos Santos, diretor-presidente do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras).
A partir deste mês, 400 atendidos passarão a receber almoço gratuito, um número 33% superior ao do ano passado. Além disso, foi disponibilizado um albergue das 20 às 8 horas, com cinquenta camas. “Não dá para deixar essas pessoas ao relento, em via pública, desprotegidos”, diz o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, movimento da Arquidiocese de São Paulo.
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A personal trainer Juliana Cardoso Calheiros enfrentou uma saga em lojas abarrotadas nesta semana para ajudar a população carente. Na quarta (8), ela iniciou uma campanha entre seus 10 000 seguidores do Instagram e do Facebook para arrecadar dinheiro, roupas e cobertores. Os itens vão para a Associação Missão Belém, que acolhe quarenta pessoas por dia. Juliana nunca havia usado suas redes sociais para uma mobilização assim, mas, em uma semana, conseguiu 3 000 reais e quatro sacolas grandes de roupas.
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A produtora de vídeo Bruna Alves também entrou nessa corrente. “Sempre achei natural dar uma refeição a quem precisa, mas, com esse gelo todo, tive vontade de ir além.” Em 26 de maio, começou uma campanha do agasalho no Facebook em prol da Oficina Boracea, iniciativa da prefeitura que acolhe 640 pessoas na Barra Funda. “Em poucos dias, distribuí mais de dez sacolas com artigos como casacos e tênis.” Há até gente disposta a ceder a própria residência aos necessitados.
No início do mês, a empresária Alessandra Nahra conheceu “Seu Paulo” em uma marquise de seu bairro, a Pompeia. Ela mora em um sobrado, não tem carro e a garagem tem entrada independente do imóvel. “Achei um absurdo ele passar tanto frio e dei a ele a chave daquela área”, relata. “Se o espaço está vazio e isso não interfere na minha segurança ou privacidade, por que não ajudar numa situação dessas?”
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A ajuda é preciosa. O corpo humano não sobrevive a climas extremos e necessita manter sua temperatura interna entre 36 e 37 graus. O organismo pode sofrer de hipotermia quando o ambiente fica abaixo dos 10 graus e podem ocorrer problemas cardíacos, por exemplo. “Ainda há agravantes como o consumo de álcool, que dilata os vasos sanguíneos e faz o corpo perder calor, e a desnutrição”, explica Arnaldo Lichtenstein, clínico‑geral do Hospital das Clínicas.
Em 16 de maio, como aconteceu nos anos anteriores, começou a tradicional Operação Baixas Temperaturas, que intensifica o acolhimento. Quando o termômetro marca menos de 13 graus, há reforço nas equipes da prefeitura para a retirada de moradores das ruas e a abertura de 1 517 vagas improvisadas para per noite, que se somam às 10 000 fixas dos abrigos.
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Segundo a contabilidade oficial, entre a sexta (10) e o domingo (12), ocorreram 31 300 atendimentos. O Ministério Público conduz um inquérito desde 2014 para apurar se as ações prometidas na Operação Baixas Temperatura são de fato postas em prática. Na semana passada, o MP incluiu no processo os recentes registros de mortes na capital. Reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo na terça (14) mostrou que agentes da administração municipal recolhem colchões e até cobertor das vias.
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Fernando Haddad afirma que são medidas para evitar a ocupação indevida de espaços públicos. “Nós fizemos a desfavelização de dezessete praças na cidade, sem nenhum higienismo. Todo mundo que estava na praça foi acolhido pelos equipamentos da prefeitura. O que estamos tentando impedir é essa refavelização”, disse o prefeito, que anunciou na quinta (16) a abertura de quatro tendas de acolhida próximas ao centro. Sua assessoria informou que os encarregados são orientados a levar sofás e colchões maiores, mas não mantas. A gestão municipal deverá investigar se houve abuso.
Como colaborar
As entidades precisam de doaçãode mantas, alimentos e dinheiro
- › Pastoral do Povo da Rua — Rua Djalma Dutra, 3, Luz. Funciona diariamente, 24 horas. 3228-6223
- › Serviço Franciscano de Solidariedade — Rua Riachuelo, 268, Sé. Diariamente, das 8h às 22h. 3291-4433
- › Campanha do Agasalho — 171 postos de arrecadação na cidade. 2588-5839/5781/5743
Colaborou Adriana Farias