Em visita a São Paulo com a missão de divulgar alternativas de mobilidade urbana, a vice-prefeita de Amsterdã Carolien Gehrels disse nesta segunda-feira (24) que a bicicleta pode ser uma solução para a capital paulista, especialmente em tempos de manifestações por causa do transporte público. “Os protestos começaram pelo transporte, então dê uma alternativa para eles, dê a bicicleta. Eu acredito que vocês podem usar esse momento tão poderoso para uma mudança radical.”
Carolien veio à cidade para participar de um workshop na Prefeitura de São Paulo promovido pela Embaixada Holandesa de Bicicletas. Um grupo formado por técnicos e empresários holandeses ficará reunido durante toda a semana com representantes da administração paulistana. A expectativa, segundo a vice-prefeita, é abrir uma porta de diálogo e trocar experiências para que a bicicleta seja mais presente na cidade todos os dias, e não só aos domingos, quando é montada a ciclofaixa de lazer. “São Paulo precisa de uma mudança radical, pois não é possível que os habitantes passem mais de uma hora presos no trânsito todos os dias.”
Segundo ela, a cidade precisa atacar três pontos fundamentais: a criação de infraestrutura, aumento de tarifas e custos de carros e educação para que crianças e jovens se tornem novos ciclistas. “Quando você aumenta os custos dos carros, as pessoas passam a considerar a bicicleta como uma alternativa.” Em Amsterdã, por exemplo, a prefeitura aumentou o preço do estacionamento na região central da cidade, afastando os veículos e incentivando as bikes.
Para Carolien, é fundamental também que se crie uma estratégia pública que estimule as pessoas a andar de bicicleta. Um caminho seria contar com a ajuda dos próprios ciclistas que estão participando das manifestações. “Eles têm o poder, a dinâmica de explicar como a bicicleta pode ajudar na mobilidade. É preciso deixar claro que todos os cidadãos têm responsabilidade na mobilidade da cidade.Se você quer melhorar sua cidade, você precisa assumir algumas responsabilidades.”
Calcula-se que 40% dos habitantes de Amsterdã se locomovem pelo transporte público, outros 40% de bicicleta e apenas 20% de carro. Carolien conta que a adoção das bicicletas se deu depois da II Guerra Mundial. Para que houvesse mais espaço para os carros, alguns políticos sugeriram que os famosos canais de Amsterdã fossem destruídos para a construção de mais vias. Essa decisão gerou uma grande manifestação na cidade e foi descartada. Na década de 70, construiu-se uma extensa infraestrutura de ciclovias e ciclofaixas – que hoje chega a 900 quilômetros – e, ao longo dos anos, mais restrições à circulação dos carros foram criadas.