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17. Conheça a importância de Prestes Maia para a cidade

Para o bem ou para o mal, muito da cara de São Paulo, até hoje, se deve ao que ele pensou e conseguiu realizar

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 14 Maio 2024, 09h07 - Publicado em 22 out 2010, 21h55

“Burgomestre” é pouco para Francisco Prestes Maia. Ele foi, sim, o mais perfeito burgomestre que São Paulo já teve, no sentido de que exibia o mais acabado perfil para ocupar a cadeira de prefeito — mas burgomestre é pouco no sentido de que suas preocupações com a cidade nasceram muito antes de virar prefeito e superaram em muito as que ocorrem ao comum dos titulares do cargo. Prestes Maia (Amparo, 1896-São Paulo, 1965) não possuía nem a natureza nem a vocação do político-padrão. Formado engenheiro pela Politécnica, com especialização em arquitetura (na época não existiam as faculdades de arquitetura), seguiu as carreiras paralelas de professor da Poli e funcionário da Secretaria Municipal de Viação e Obras Públicas. Aprofundou-se no estudo do urbanismo. E encontrou na cidade de São Paulo o campo por excelência para direcionar suas pesquisas e aplicar seus conhecimentos. Foi prefeito em dois períodos — de 1938 a 1945, nomeado pelo Estado Novo getulista, e de 1961 a 1965, eleito. Para o bem ou para o mal, muito da cara de São Paulo, até hoje, se deve ao que ele pensou e pôde realizar nesses dois períodos.

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Prestes Maia amadureceu ao longo dos anos 1920, em estudos realizados como funcionário da prefeitura, as ideias que iriam desaguar em suas principais intervenções na cidade. Seu legado principal é o sistema de circulação que combina anéis em torno do centro (“anéis de irradiação”) com avenidas que unem as extremidades da urbe (“avenidas radiais”). O primeiro anel, formado de vias novas ou do alargamento de antigas, constitui-se na sequência das avenidas Ipiranga e São Luís, viadutos Nove de Julho, Jacareí e Dona Paulina, praças João Mendes e Clóvis Bevilácqua, contorno do Parque Dom Pedro, Avenida Senador Queirós e daí de volta à Ipiranga. O objetivo era, e continua sendo, desafogar o núcleo central e facilitar a distribuição da circulação. Um segundo anel compreendeu, entre outras, a Avenida Duque de Caxias e a Rua Amaral Gurgel. E um terceiro, imaginado por Prestes Maia mas realizado pelos sucessores, formou-se com as marginais dos rios Tietê e Pinheiros.

As avenidas radiais que, inversamente, cortariam o centro tiveram sua expressão máxima naquilo que Prestes Maia batizou de “Sistema Y” — uma via que se iniciava no norte (Avenida Tiradentes), atravessava o centro (Vale do Anhangabaú) e, no rumo do sul, se bifurcaria nas duas pernas do “Y” (as avenidas Nove de Julho e 23 de Maio). Nas aquarelas com que, bom desenhista, ilustrava seus projetos, Prestes Maia previa cenários grandiosos para as avenidas, viadutos e pontes. A marginal do Tietê de sua imaginação seria complementada por pontes semelhantes às de Paris. Não precisava tanto. Mas lamente-se que, no riscado das marginais, como de resto na maioria das vias projetadas por ele, o cuidado com o bom gosto tenha sido abandonado. As pontes do Tietê não precisavam ser como as que cruzam o Sena, mas também não podiam acabar tão toscas como as que conferem a São Paulo a lamentável marca de cidade onde pontes são feias, e rios são feios.

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Na conta do haver e dever, Prestes Maia ostenta como legado mais positivo uma visão abrangente e articulada da cidade como nenhum dos antecessores ou sucessores possuiu. O mais negativo é ter desempenhado um papel preponderante no pecado dos pecados de São Paulo, que é o atraso na construção do metrô. Não que ele fosse contra, mas dava prioridade ao transporte de superfície, e, para evitar concorrência a seu plano de avenidas, rebarbou as primeiras propostas nesse sentido.

Em 1945, terminado, no gabinete então situado na Rua Líbero Badaró, o último expediente de seu primeiro período de prefeito, Prestes Maia recusou-se a subir no carro oficial que até então o servira. “Não, obrigado”, disse ao motorista que lhe abria a porta, segundo conta o arquiteto e historiador da cidade Benedito Lima de Toledo, no livro ‘Prestes Maia e as Origens do Urbanismo Moderno em São Paulo’. Achava que, não sendo mais prefeito, não cabia mais valer-se daquele serviço. Tomou, a pé, o rumo do Viaduto do Chá, foi até a Rua da Consolação e ali apanhou o bonde para casa. Ele não possuía mesmo nem a natureza nem a vocação do político-padrão.

 

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