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23. Conheça a história de Dener Pamplona e Caio de Alcantara Machado

Ambos assumiram papéis de pioneirismo num momento de divisão de águas na história de São Paulo

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 14 Maio 2024, 09h08 - Publicado em 22 out 2010, 21h32

Dois brasileiros de origem diversa, diferentes ramos de atividade e perfis opostos, um nascido em Belém do Pará, em 1936, o outro em São Paulo, em 1926, têm como ponto comum o fato de poderem considerar 1958 como seu ano zero. O primeiro é o costureiro Dener Pamplona de Abreu. O segundo, o radialista e publicitário Caio de Alcantara Machado. Em 1958, Dener Pamplona muda seu ateliê, aberto no ano anterior na Praça da República, para a Avenida Paulista. Era sinal de que sua reputação já lhe permitia voos altos. No mesmo ano, Caio de Alcantara Machado abre a Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), a primeira de seu rosário de feiras industriais. A Fenit foi montada no Parque do Ibirapuera e teve o presidente Juscelino Kubitschek na inauguração.

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Nem Dener nem Caio de Alcantara Machado teriam consciência disso, mas assumiam papéis de pioneirismo num momento de divisão de águas na história de São Paulo. A capital industrial começava a ceder lugar a outro tipo de especialização. O novo ímpeto de industrialização trazido pelos anos JK vai sediar as fábricas não mais na Mooca ou no Brás, mas no cordão de municípios ao redor da capital. À cidade de São Paulo caberá a função de sede de eventos e mostruário da produção desenvolvida em outras partes. É esse papel de pioneiros de uma nova vocação da urbe que aproxima Dener Pamplona de Caio de Alcantara Machado.

Ao chegar a São Paulo, em 1954, Dener ostentava, entre outros troféus, o de ter feito o desfile de debutante de Danuza Leão. Nos três primeiros anos, trabalhou para os outros. No quarto, instalou oficina própria e virou uma estrela. Foi o primeiro profissional do ramo a revelar-se um ás da autopromoção. Firmou-se como polo aglutinador do que então se chamava de “alta sociedade” e como árbitro do gosto. O bem-composto tipo de dândi, romântico até o limite do enfermiço, reminiscente de um Oscar Wilde mal acomodado nos trópicos, ajudava. Mais ainda ajudavam os trejeitos. Por fim, claro, havia o talento em que tudo o mais se assentava.

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Caio de Alcantara Machado era ao contrário: careca e vestia ternos comuns. Seu conceito de promoção prescindia da própria pessoa. O pai era dono das Lojas Assunção, que vendiam rádios e vitrolas. Caio criou um programa de rádio, ‘Parada de Sucessos’, que, patrocinado pelas Lojas Assunção, arrebatou a cidade. Mas foi numa viagem a Nova York que se deu o grande estalo. Um amigo americano lhe falou das feiras industriais e sugeriu que as introduzisse no Brasil. Era arriscado, tanto que a primeira Fenit lhe causou prejuízo. Mas o tempo iria provar que fez o certo no lugar certo. O Salão do Automóvel acompanhou a indústria automobilística desde o nascedouro. Outro marco foi a Feira de Utilidades Domésticas (UD).

Dener morreu precocemente, em 1978. Longe iam os tempos em que vestia a primeira-dama Maria Teresa Goulart e em que seu casamento, com a modelo Maria Stella Splendore, foi o acontecimento do ano na cidade. Estava pessoalmente decadente e profissionalmente esgotado. Caio morreu em 2003. Dois anos antes, mereceu o que o hall da fama brasileira tem de mais característico, equivalente, sem ironia, ao arco do triunfo sob o qual desfilavam os generais romanos: foi enredo de escola de samba. No caso, da escola Rosas de Ouro, que o homenageou sob o título ‘Quem Plantou o Palco Hoje É o Espetáculo’. As figuras de Dener e Caio de Alcantara Machado hoje caminham para o esquecimento. No entanto, eles deixaram um legado que contribui para dar uma cara à cidade. Mereceriam ser reverenciados a cada São Paulo Fashion Week e a cada feira do Anhembi.

 

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