Belas Artes faz 100 anos com planos de expansão; conheça a história da universidade
Centro Universitário é negócio da mesma família há quatro gerações e foi fundado por amigo de modernistas envolvido na construção do Theatro Municipal

Quando o Centro Universitário Belas Artes foi aberto, em 23 de setembro de 1925, a capital paulista estava longe de ser a metrópole que é hoje. “São Paulo é um bocejar sem fim”, escreveu à época o fundador da universidade, Pedro Augusto Gomes Cardim (1865-1932), em diários preservados pela família. Entusiasta das artes, o jornalista, educador, político e advogado gaúcho foi idealizador do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, figura-chave na construção do Theatro Municipal — então vereador de São Paulo, foi autor do projeto que o viabilizou —, além de membro fundador da Academia Paulista de Letras. “Ele chamava a Belas Artes de ‘a caçula’. Seu desejo era florescer a vida cultural da cidade”, resume Patrícia Cardim, sua sobrinha bisneta e atual CEO da instituição.

Ela é a quarta geração dos Gomes Cardim à frente da Belas Artes, após o fundador, os irmãos Carlos Alberto e Paulo (seu avô), e seu pai, o atual reitor, Paulo Antônio. “Tem um dado (do Índice Global de Empresas Familiares, da PwC) que mostra que menos de 7% das empresas familiares no Brasil chegam à quarta geração. Na educação, qual outra escola do ensino superior está na quarta geração, centenária? Nenhuma”, diz Patrícia. O que explica a longevidade? O reitor responde: “Não chegamos pelo elevador. Foi degrau por degrau. Para não virar uma bolha com 300 000 alunos”.
Originalmente, a instituição ocupou um prédio na Rua Bento Freitas e se chamava Academia de Bellas Artes de São Paulo. Na inauguração, estiveram presentes nomes como o pintor Benedito Calixto e os modernistas Mário de Andrade e Menotti Del Picchia, amigos de Pedro Augusto. “O cardápio do almoço de inauguração da Semana de Arte Moderna de 22 trazia como prato principal o filé Pedro Augusto Gomes Cardim”, conta Patrícia.

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A Belas Artes passou ainda por endereços na Rua Marquês de Itu, na Rua da Liberdade e junto à Praça da Sé, quando dividiu espaço com a Pinacoteca de São Paulo, até se mudar, nos anos 1980, para o prédio da Vila Mariana. E expandiu para outros três campi: no Paraíso, no Shopping Cidade Jardim e em Votorantim. Em 1928, fundou o primeiro curso de arquitetura da capital, extinto em 1932 pelo governo estadual e só retomado em 1979. “Foi encerrado por uma questão ideológica, a de que não deveria existir um arquiteto que tivesse a arte como pilar”, explica a CEO.

Hoje, são quase 100 cursos, entre graduação e pós-graduação, nas áreas de arquitetura, design, comunicação, audiovisual, moda, negócios e tecnologia, somando mais de 7 000 alunos. A instituição também conta com um acervo de mais de 200 000 livros. Desses, cerca de 600 estão na Biblioteca de Obras Raras, muitos vindos da coleção pessoal de seu fundador. Para a próxima década, a meta é chegar a outros estados. “Estamos estudando doze cidades com vocação para a economia criativa”, diz Patrícia.
A universidade celebra os 100 anos com uma Missa de Ação de Graças na Catedral da Sé, no dia 23, às 17h, aberta ao público, e outras duas cerimônias para convidados: no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, no dia 27, e no Theatro Municipal, no dia 28, com um espetáculo sobre a história da instituição, Onde a Tradição Veste o Contemporâneo, com participação da Orquestra Sinfônica Jovem Municipal, do Ballet da Escola de Dança de São Paulo e do Coral Belas Vozes. Na ocasião, será lançado o livro Os Primeiros 100 Anos, com depoimentos de ex-alunos, registros históricos e imagens de acervo. Que venham muitos outros.
Publicado em VEJA São Paulo de 19 de setembro de 2025, edição nº 2962.