Agências paulistanas já oferecem pacotes do “turismo vacinal”
Roteiros são personalizados para clientes serem imunizados dos Estados Unidos, mas, antes, precisam cumprir quarentena em países como México e Panamá
“Venham, é seguro. Nós vamos cuidar de vocês.” Voltado para os turistas estrangeiros, o convite tentador feito pelo prefeito de Nova York, Bill de Blasio, deu início ao “turismo da vacina” e não passou despercebido por paulistanos com poder aquisitivo mais alto. Assim como o apresentador Roberto Justus, que também apoiou a alternativa após ser vacinado em Miami, alguns brasileiros decidiram gastar milhares de dólares para visitar os Estados Unidos em busca do tão sonhado imunizante contra a Covid-19.
Fabio Calderon, 32, fundador da agência de viagens Planejante, se arriscou como “cobaia” para a experiência, que já é vendida por algumas empresas, assim como a dele. “Eu tinha uma viagem planejada para o Caribe e calhou de ser no momento dessa notícia. Fui preparado para a possibilidade de conseguir ser vacinado”, conta Calderon, que se hospedou em um resort de Punta Cana antes de ir até Miami.
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Para pousar em solo americano, os turistas devem realizar o teste do tipo PCR e precisam ter passado catorze dias em um terceiro país. No caso dos brasileiros, destinos como México, República Dominicana e Panamá têm sido os mais populares para a espera pré-vacina no último mês, quando as agências de turismo notaram um boom nessa modalidade.
“Infelizmente não é pra todo mundo, tem de ter grana”, antecipa Mariana Rago Furlan, 40, da Assessorato Viagens. O preço das passagens aéreas é um dos itens mais caros, segundo ela, já que o roteiro deve incluir a primeira parada antes de voar até os EUA. Por pessoa, o investimento custa no mínimo 20 000 reais. “O México foi o mais beneficiado por esse movimento. Nós não promovemos a viagem da vacinação, mas organizamos todo o pacote com passeios, hospedagens e voos”, explica Frederico Levy, 52, fundador da Interpoint Turismo. “E não é uma quarentena, você fica livre. As famílias têm aproveitado para tirar férias e relaxar, especialmente casais na faixa de 40 anos ou menos, pois a expectativa de se vacinarem no Brasil ainda é incerta. Sem comorbidade, eles estão lá no fim da fila.”
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Na Flórida e em Nova York, onde os turistas estrangeiros têm se vacinado, a fila de brasileiros promete aumentar, mas nenhuma agência garante a dose. “Só damos o suporte, a vacinação fica por conta do cliente, que vai até um dos postos instalados nos comércios (e parques) americanos”, ressalta Jacqueline Dallal, 58. Em sua agência, a Be Happy Viagens, os pacotes são mais salgados e custam a partir de 50 000 reais por pessoa. “Tenho uma cliente que vai dar a vacina como presente de aniversário de 15 anos para a filha”, revela. “É um custo alto, mas quem conseguir tomar a Janssen, de dose única, reduz duas semanas de estadia no país.”
Alguns dos seus clientes têm feito outro pedido: pousar em Dubai, bem fora da rota, para passar os catorze dias obrigatórios. “É seguro porque eles também exigem PCR na entrada. O cara que escolhe Dubai não quer ir para o México nem a pau”, observa. “Por lá, a situação de Covid está tão descontrolada quanto no Brasil, então a chance de pegar o vírus não é tão pequena”, acrescenta Calderon. Mesmo assim, Cancun tem sido um dos best-sellers, segundo eles.
Com as embaixadas fechadas, o viajante também precisa ter o visto americano em dia, além de considerar os riscos à saúde durante a jornada internacional. “Fiquei com medo e senti que os americanos estão abandonando bem rápido as medidas de proteção”, pondera Calderon. Para ele, a alternativa pode levantar críticas sobre a moralidade do negócio. “Criou-se uma dicotomia sobre a pessoa estar sendo egoísta e furando fila, mas é algo totalmente lícito, não existe nada de errado”, justifica. “Quando você vai tomar vacina em um país que tem de sobra, talvez até esteja salvando uma dose que iria para o lixo no fim do dia. Você está apenas adiantando sua vacinação, não tirando a de alguém no Brasil.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 02 de junho de 2021, edição nº 2740