Tesoura retrô
O clima de barbearia inglesa do século XIX faz da Tommy Guns mais uma razão para sair de Manhattan rumo ao Brooklyn
O Brooklyn sempre foi uma espécie de lado B de Manhattan – barato, bucólico. E bacana, desde que o poeta Walt Whitman inaugurou, no século XIX, a mania dos escritores de trocar a ilha, tida como pretensiosa, pelo continente. Dois séculos depois, cruzar o rio virou moda a ponto de o subprefeito do bairro mais populoso de Nova York, Marty Markowitz, compará-lo à Rive Gauche, margem boêmia do parisiense Sena. Faltava um único “b” digno dessa área de restaurantes, cafés e bares: uma barbearia de grife. Pois é em Williamsburg, a fatia badalada do Brooklyn, que o cabeleireiro inglês Russell Manley acaba de abrir o mais novo Tommy Guns, considerado “o” salão para quem quer cortar e ser visto.
O espaço tem a mesma atmosfera de barbearia inglesa de 1870 dos quatro endereços já existentes – três em Londres e um no Lower East Side, do outro lado do Rio Brooklyn. “Quando abri o primeiro, queria um clima oposto ao dos salões da época, com espelhos dourados e uma equipe esnobe”, diz Manley. Desde 1994, o número 1 fica no Soho londrino, nas instalações de um barber shop de 1927 com móveis de níquel e bancadas de mármore. No mais recente endereço, o xodó é o armário de mogno de uma farmácia de 1870, feito por uma das melhores marcenarias americanas de então, a Reinle-Salmon Co. O lugar é o pano de fundo sob medida para Manley, um sujeito de 41 anos que cultiva a aparência de quem poderia ter sido o barbeiro do poeta Walt Whitman: bigode-escovão, colete, relógio de bolso e sapatos bicolores. As tatuagens aparecem quando arregaça as mangas para cortar (feminino, 95 dólares; masculino, 75), colorir, escovar ou pentear. Apesar do visual milimetricamente pensado, Manley prega a teoria do menos é mais. “Um homem acima dos 20 anos que gasta muito tempo com cabelos tem tempo de sobra nas mãos.”
Tommy Guns. 85 North 3rd Street, Nova York, tel.: 1 (718) 388-8288, tommygunsny.com