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“Temos de avaliar uma moratória na cidade”, diz Orlando Silva, do PCdoB

Pré-candidato a prefeito, deputado rechaça votação prévia entre postulantes da esquerda e quer tarifa mínima para entregadores de aplicativos

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 17h38 - Publicado em 4 set 2020, 06h00
Orlando Silva, em sua residência, na Saúde: ajuda para “mães crecheiras” (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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O PCdoB esteve ao lado do PT nas últimas oito eleições na cidade. Seu partido cansou de alianças com os petistas?

Passou da hora de o PCdoB ter candidatura própria. Já havíamos ensaiado antes com Netinho de Paula e Aldo Rebelo, mas no último momento a turma desistiu. No começo da conversa, disse que toparia disputar, mas desde que fosse para ir até o fim. Temos de ter projetos próprios. O primeiro turno é da posição, de projeto. O segundo é da exclusão.

Aceitaria uma prévia entre Guilherme Boulos (Psol) e Jilmar Tatto (PT), como sugeriu o candidato petista, para unir a esquerda na capital?

O Tatto é muito meu amigo, mas ele está tentando criar factoides para dar um oxigênio, um gás, à campanha dele, pois tem muita gente no PT costeando o alambrado para pular a cerca. Fazer uma votação dessas é fora de propósito. Parece até uma provocação.

Quais seus planos para enfrentar a crise econômica provocada pelo coronavírus?

O rastro de destruição que a Covid-19 vai deixar na economia será enorme. O nível de desemprego é grande, mas não sentimos o impacto imediato por causa do auxílio emergencial. É necessário foco total para criarmos espaço no orçamento público. A situação requer medidas extraordinárias, como a renegociação de contratos e a suspensão do pagamento de alguns deles. Não temos alternativas.

O senhor sugere uma moratória? Isso não poderia ocasionar uma instabilidade econômica ainda maior?

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Temos de avaliar uma moratória na cidade, sim. O que cria instabilidade é o drama social. Tenho certeza de que muitas empresas que atuam com a administração da cidade têm consciência da dificuldade da prefeitura. Não vamos romper, mas podemos ter uma composição com as empresas para que cada uma dê uma colaboração às pessoas. A situação é muito crítica e é possível fazer um acordo a favor de São Paulo e gerar mais empregos.

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O senhor tentou barrar na Justiça a privatização da SPTuris e do Anhembi, mas o processo foi extinto porque a licitação não saiu. O que sua gestão fará com o atual plano de desestatização?

Essa obsessão dos tucanos por privatização não faz sentido. É possível fazer concessões de algumas coisas, mas não liquidar tudo. São Paulo carece de locais de eventos, e o Anhembi precisa ser reestruturado, necessita de revitalização, não ser liquidado para pagar custeio, conta de luz e cafezinho.

Então a sua gestão vai rever essa e outras concessões, como a dos cemitérios? E as que já saíram, como a do Pacaembu?

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O que tem ato jurídico perfeito, consolidação definida, não pode romper. Agora, vou suspender tudo o que está em curso, incluindo a concessão de cemitérios. Vou cancelar tudo.

“Não é justo que se estabeleça uma escravidão moderna sem nenhuma regra. A municipalidade pode estabelecer tarifas mínimas e contrapartidas”

O senhor é a favor da volta às aulas antes da vacina?

Não, sou contra. Reconheço que vivemos um drama social, mas o ano letivo você recupera; uma vida, não. É impossível pensar em um protocolo nas escolas, pois há o risco de contaminação das famílias e dos professores.

Mas para onde irão as crianças enquanto os pais precisarem sair para trabalhar?

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É um dilema. A prefeitura poderia criar um programa emergencial para cuidadores de crianças. Montar redes de acolhimento. Isso acontece na informalidade e a prefeitura poderia dar uma ajuda.

Reportagem da Vejinha em julho mostrou a situação das “mães crecheiras”, que atuam na informalidade e muitas vezes em estrutura precária e insuficiente.

É preciso ter um padrão, um protocolo. O poder público não pode estimular acolhimento em más condições, mas é uma situação excepcional. É possível dar uma contribuição, um incentivo a elas, mas dentro de protocolos a ser criados.

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Como sua gestão vai tratar as empresas de entrega e transporte por aplicativo?

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A economia colaborativa veio para ficar, e a prefeitura tem a obrigação de regulamentar os aplicativos. Não é justo que se estabeleça uma escravidão moderna sem nenhuma regra. Os entregadores trabalham dezesseis, dezoito horas, sem nenhum direito trabalhista. A municipalidade pode estabelecer tarifas mínimas e contrapartidas. Com isso, podemos instalar praças de apoio para eles e oferecer uma boa infraestrutura.

Há cinco operações urbanas paradas na Câmara. Enquanto isso, o déficit de habitações passa de 369 000. O que sua gestão fará para equalizar a falta de moradias populares?

Já vi estudos que apontam déficit de 1 milhão de moradias na cidade. Vamos ter que multiplicar iniciativas que não são de curto prazo. As operações urbanas não saíram por causa da crise econômica. Muitas empresas titulares desses projetos entraram em crise. Mas não podemos recuar, precisamos insistir.

Como?

Assumindo a prefeitura, vou num prazo recorde incentivar uma linha rápida para colocar investimentos na cidade. A burocracia tem de ser desestimulada. É tanta papelada que ninguém consegue fazer nada, sobretudo no campo imobiliário. Teremos rapidez para licenciamento de empreendimentos.

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O senhor deixou o Ministério do Esporte, em 2011, sob a acusação de receber propina. O processo, em segredo de Justiça, corre até hoje. As denúncias procedem?

A denúncia, forjada, foi ancorada em uma contraprova de uma pessoa que desapareceu do mapa. Nunca consegui notificá-lo. Foi uma farsa. Dizem que recebi dinheiro (na garagem do ministério), mas o ambiente era todo filmado. Eu estava em posição de destaque e era o coordenador de projetos importantes, que depois desencadearam na Copa do Mundo e na Olimpíada.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 9 de setembro de 2020, edição nº 2703.

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