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Tema da redação do Enem traz reflexão sobre a herança africana

Assunto foi festejado, por estar entre as questões mais urgentes sobre o passado do Brasil escravagista

Por Vanessa Barone
8 nov 2024, 08h00
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Caderno de prova do ENEM 2024. Prova foi aplicado no último domingo (03) (Fotoarena/Folhapress/Veja SP)
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Aplicado a 4,3 milhões de estudantes brasileiros no último domingo (3), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) extrapolou as salas de prova, ganhou a internet e virou assunto em conversas de amigos. Uma das questões, por exemplo, trazia uma crônica da escritora Tati Bernardi sobre o uso da palavra “coisa” em músicas de Caetano Veloso e indagava: “Qual o recurso utilizado na progressão textual para garantir a unidade temática da crônica? ”. O próprio compositor foi para as redes dar seu veredicto: letra A,“intertextualidade, marcada pela citação de versos de letras de canções”. A autora do texto discordou e “marcou” a C: “reiteração, marcada pela repetição de uma determinada palavra e de seus cognatos” — opção, por ora, preferencial entre os profissionais da educação. O gabarito oficial, contudo, só será divulgado no dia 20 de novembro.

Ana Paula Xongani,
Ana Paula Xongani, apresentadora, empresária e ativista de movimentos de inclusão (Iam Leo Marques/Divulgação)

Maior repercussão, porém, teve o tema da redação — “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil” —, festejado pela relevância, mas fora das apostas dos professores do ensino médio. “Gostei muito do tema, principalmente porque ele fez a questão extrapolar o momento da prova, virando discussão entre as pessoas. É assim que se evolui como sociedade”, opina Ana Paula Xongani, apresentadora do programa Se Essa Roupa Fosse Minha, do GNT, empresária e ativista de movimentos de inclusão e pela diversidade racial. O assunto, urgente, pode ter trazido dificuldades a boa parte dos estudantes, justamente pela falta de conhecimento histórico.

Para a antropóloga, historiadora e professora da Universidade de São Paulo (USP) Lilia Schwarcz, o tema é de grande importância em um país que sempre silenciou sobre o seu passado, marcado por tantas pessoas sequestradas do continente africano. Por meio de sua rede so cial, Lilia destacou que as nações provenientes das áreas setentrional, meridional e central da África tinham costumes, formas religiosas e familiares muito distintos. “Mas acabaram se encontrando no odioso tráfico negreiro.”

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Com mais de duas décadas de existência, o Enem avalia o desempenho escolar dos estudantes que estão deixando o ensino médio. Hoje é a principal porta para a educação superior no Brasil, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e de iniciativas como o Programa Universidade para Todos (Prouni). A nota no Enem é utilizada por várias instituições de ensino, privadas ou públicas, e também serve de parâmetro para acesso a auxílios governamentais, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Além da redação, que propunha uma reflexão sobre a nossa herança cultural africana, a prova deste ano trouxe mais questões tratando de temas raciais e identitários. Entre elas, o movimento surgido nos Estados Unidos, Black Lives Matter. Aos jovens de hoje, fica o recado: não basta apenas ser um bom aluno, é preciso também ser um cidadão consciente.

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