Petição pelo tombamento expõe futuro incerto do Teatro Aliança Francesa
Ex-funcionária do local, que completa sessenta anos em 2024, alega que prédio está à venda. Associação nega, mas diz que estuda a possibilidade
Uma petição on-line alarmou parte da classe teatral de São Paulo no fim de agosto. Nela, a produtora cultural Lívia Carmona, 40, pede assinaturas para divulgar o pedido de tombamento do Teatro Aliança Francesa, tradicional sala de espetáculos localizada na sede da instituição de mesmo nome, na Vila Buarque. Segundo a ex-funcionária da associação, o prédio estaria à venda, o que colocaria em risco não só o teatro, mas também a construção histórica, assinada pelo arquiteto francês Jacques Pilon em 1955.
Fundado nove anos depois da unidade da Aliança Francesa na capital, o palco, que completa seis décadas em 2024, já recebeu grandes nomes das artes cênicas nacionais, como Gianfrancesco Guarnieri, Marília Pêra e Beatriz Segall. Atualmente, tem em cartaz peças como Papa Highirte, do Grupo Tapa, que ocupa o espaço desde 1986. O teatro é o símbolo da iniciativa cultural da Aliança Francesa, associação sem fins lucrativos destinada à difusão da língua e da cultura do país europeu, presente em várias cidades brasileiras. Além da sede, que possui sete andares e abriga também biblioteca e estúdio, na capital paulista há um braço na Faria Lima, mais voltado para as aulas do idioma.
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Lívia trabalhou como coordenadora cultural da sede durante onze anos. Porém, foi em julho deste ano, três meses depois de sair do cargo, que ela descobriu que o prédio estava à venda — informação depois confirmada a ela pelo superintendente-geral, Nicolas Duvialard — e decidiu enviar uma solicitação de tombamento ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e à Secretaria Municipal de Cultura, para a qual também pediu selo de valor cultural ao teatro. “Sabemos que, quando algum prédio do Centro é colocado à venda, é para pôr abaixo. Decidi agir não só pela minha trajetória lá dentro, mas por respeito aos artistas e à história do teatro”, diz Lívia. Nicolas Duvialard nega que o edifício esteja à venda, mas confirma que a instituição pensa na possibilidade. “A pandemia piorou a situação financeira da Aliança. Estamos analisando o que fazer para nos adequarmos a isso”, diz.
Para ser aprovada, a decisão precisa passar também por um conselho deliberativo, composto por nomes como o diretor do Sesc São Paulo Danilo Santos de Miranda e o ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro. Procurado, Janine não quis comentar sobre o tema, que, segundo ele, ainda está na fase de negociações.
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Essa crise já se arrasta há anos. Segundo Angelo Bojadsen, presidente da AFSP, a unidade da Faria Lima recebe três vezes mais alunos que a do Centro. “Hoje, só metade do prédio da sede é usado, as salas estão vazias”, conta. Isso unido aos preços baixos dos ingressos, ao alto custo de manutenção do teatro e ao fato de que a AFSP, apesar de ligada ao governo da França, não recebe nenhuma verba estatal, complica a sobrevivência do espaço. Bojadsen afirma, no entanto, que a diretoria pretende manter as atividades do teatro, mesmo que em outro local. “Eu sou uma pessoa que valoriza a cultura. Se aparecer um mecenas disposto a manter o teatro como está agora, ele será muito bem-vindo, estamos em busca disso”, conclui.
Este texto foi modificado.
Publicado em VEJA São Paulo de 8 de setembro de 2023, edição nº 2858