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Paulistanos apostam em armas de choque para evitar assaltos e assédios

Populares na região da Rua 25 de Março, os 'tasers' são vendidos em larga escala

Por Mariana Rosario Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 fev 2019, 09h40 - Publicado em 8 fev 2019, 06h00

Uma tentativa de assalto levou o motorista de aplicativos Carlos Eduardo de Jesus a procurar maneiras de se sentir mais seguro em seu carro. A solução encontrada foi comprar uma arma de choque (também chamada de taser) para acompanhá-lo nas viagens diárias. De cor preta e um pouco maior que um smartphone, o item assemelha- se a uma maquininha de cortar cabelos e conta com uma lâmpada de LED.

Seu choque pode atingir 29 000 volts e para acioná-lo é preciso destravar uma pequena alavanca e pressionar um botão. “Ando com ela na cintura ou no meio das pernas”, revela o motorista. “Alguns passageiros chegam a pensar que estou armado, mas eu digo que é uma lanterna.” Apesar de algumas empresas ameaçarem de expulsão o colaborador que porta esse tipo de equipamento (caso da Uber), o objeto tornou-se assunto frequente nos fóruns on-line de motoristas da categoria, temerosos por sua segurança.

Carlos Eduardo de Jesus: equipamento no carro (Marcelo Justo/Veja SP)

Parte deles adquire o apetrecho na região da Rua 25 de Março, onde a venda é feita por ambulantes que disparam choques em meio à multidão para atrair a clientela (o barulho pode ser ouvido a metros de distância). A reportagem esteve no entorno por três vezes nos últimos dois meses, e em todas elas constatou que a comercialização do armamento era praticada livremente. De acordo com os ambulantes, são vendidas até duas dezenas do item por dia. Os valores vão de 25 a 90 reais, a depender do tamanho e do modelo. O preço, no entanto, pode ser 40% mais baixo se o cliente pechinchar. Tudo, é claro, sem nota fiscal.

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No início de dezembro, após ser questionada por VEJA SÃO PAULO, a Prefeitura Regional da Sé apreendeu cerca de quinze armas de choque por meio da Operação Delegada, que faz rondas periódicas na região. Até a data, o responsável pela pasta, Eduardo Odloak, dizia desconhecer a comercialização de artigos desse tipo por ali. Após a batida, a venda segue ocorrendo normalmente. No Mercado Livre, o arremate sai por valores entre 20 e 173 reais em lojas de 511 anúncios alocados na capital (já foram vendidas 24 900 unidades). Na plataforma, além dos formatos iguais aos da 25 de Março, há opções disfarçadas de batom ou de celular. Outra diferença é a venda por atacado. Pagam-se a partir de 113 reais por quatro unidades do modelo “lanterna”, o mais simples.

A estudante Amanda Silva: medo de assalto (Alexandre Battibugli/Veja SP)

As mulheres também figuram entre os usuários da maquininha elétrica. A estudante Amanda Silva, por exemplo, optou por andar com o também chamado “choquinho” por temer assaltantes e assediadores. “Às vezes, saio do trabalho por volta das 23 horas e não há ninguém no ponto de ônibus”, diz. “Então coloco a arma no bolso e fico com o dedo nos botões.” O aparelho é emprestado por um colega com quem divide o apartamento. O transexual M.S., que pediu para não ser identificado, comprou uma arma de choque após sentir-se ameaçado durante o período das últimas eleições presidenciais. “Se algo acontecer, eu não vou usá-la para ser violento. A ideia é dar um susto e sair correndo”, diz.

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Rua 25 de Março: vendedores disparam o choque para atrair clientes (Roberto Setton/Divulgação)

A facilidade de encontrar essa arma tem uma razão: diferentemente das pistolas que acertam o alvo a distância por meio de um dardo energizado (exclusivas de órgãos de segurança ou empresas que possuem registro no Exército), os tasers que são disfarçados de lanternas, maquininhas, batons e toda sorte de bugiganga não têm venda controlada pelo Exército e, por isso, podem ser comercializados livremente no país.

De acordo com as Forças Armadas, não há nenhum tipo de previsão quanto ao seu controle. Mesmo que o taser não seja desenvolvido para matar, o seu uso não é livre de consequências. Quem levou o choque diz que a dor chega a provocar dormência muscular. “Pode causar arritmia, parada cardíaca ou problemas em aparelhos do tipo marca-passo em algumas pessoas”, diz o médico Nabil Ghorayeb, chefe de seção do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 13 de fevereiro de 2019, edição nº 2621.

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