Imagens mostram como será restaurante, museu e rooftops do Martinelli
Edifício será parcialmente concedido ao Grupo Tokyo; expectativa é a de abrir espaços dentro de um ano
No que depender dos planos do Grupo Tokyo, o banho de loja que a empresa pretende dar em parte do histórico Edifício Martinelli não deve durar mais do que um ano. Nesse prazo devem ser restaurados 2 570 metros quadrados do edifício para criação de um museu, café, área de eventos, bar, cinema, restaurante e um rooftops no terraço e andares superiores.
“A concessionária possui uma consultoria especializada em o patrimônio para a implantação do projeto e acompanhamento da obra. Acreditamos que teremos agilidade nas liberações para as intervenções e em nossa expectativa todo o processo deve levar aproximadamente um ano”, afirmou Paulo Passini Júnior, CEO do Grupo Tokyo.
A necessidade de uma empresa especializada em patrimônio ocorre porque o prédio é tombado desde 1992. As intervenções que a empresa pretende fazer são numa loja do piso térreo, no terraço localizado no 26º andar e nos andares 25º, 27º e 28º. O que dá facilita o processo é que as intervenções e adequações já estão previamente aprovadas pelos órgãos de patrimônio.
“O Martinelli é um lugar simbólico para a região central, e essa concessão vem contribuir para esse movimento de requalificação, além de dar ao próprio prédio a chance de escrever um novo capítulo da sua história”, afirma Cesar Azevedo, presidente da SP Urbanismo.
Se São Pedro não atrapalhar, já que a chuva tem castigado a capital nos últimos dias, o contrato de concessão de 61 milhões de reais deve ser assinado nesta sexta-feira (16) no próprio terraço do Martinelli. O ato finaliza um processo que vem sendo tocado desde 2019 pela prefeitura, quando foi feita a primeira tentativa para achar um parceiro comercial para explorar o espaço. Pelo acordo a ser concretizado, o Grupo Tokyo poderá explorar o espaço pelo prazo de 15 anos. A outorga fixa mensal estabelecida é de 135 000 reais, valor que será revertido aos cofres da prefeitura.
Espaços
Pela proposta da concessionária, o térreo terá um café e área para receber visitantes. O museu ocupará o 25º andar, que também deverá oferecer um serviço de gastronomia. O 26º andar será o rooftop principal, com restaurante e mesas espalhadas por quatro ambientes. O local também poderá receber eventos e shows. No 27º será possível avistar o centro da cidade um pouco mais do alto pelas sacadas do palacete e aproveitar. No 28º andar deverá receber outros dois ambientes.
O retorno financeiro do Grupo Tokyo virá da exploração comercial dos espaços. Porém, existem regras para isso. A que deve impactar diretamente o público que está acostumado a ir no local é a de manter ao menos um dia por semana para visitação gratuita ao terraço. O serviço de visitação deverá funcionar de terça a domingo, inclusive nos feriados e ser feito de forma ininterrupta durante dez horas por dia e até as 19h, para que as pessoas possam contemplar parte do Centro Histórico à noite.
O Palacete do Comendador Martinelli, a principal atração do prédio, não poderá ficar fechado ao público. Outra obrigatoriedade é criar uma área de recepção na avenida São João para dar informações turísticas aos visitantes. Eventos são permitidos, inclusive no terraço, porém, todos devem ter autorização dos órgãos competentes e não atrapalhar as demais atividades do edifício e nem a circulação dos vizinhos.
História
O Edifício Martinelli, localizado entre as ruas São Bento e Libero Badaró, foi o primeiro arranha-céu da cidade de São Paulo. Idealizado pelo comerciante italiano Giuseppe Martinelli, ele foi projetado pelo arquiteto húngaro William Fillinger, da Academia de Belas Artes de Viena. Sua construção teve início em 1924 e ele foi parcialmente aberto cinco anos depois, em 1929, com 12 andares.
Martinelli (o comerciante) não gostou nada de saber que sua construção disputava o título de maior arranha-céu do Brasil com o edifício “A Noite”, no Rio. Com isso, ele foi agregando novos andares até chegar a 24 pavimentos em 1928. A obra foi embargada pela prefeitura, por não ter licença e desrespeitar as leis municipais da época, que questionavam a conveniência de construções tão altas. O assunto foi parar na Justiça. Uma comissão chegou a conclusão de que o prédio poderia ter 25 andares. Não se dando por vencido, e com o propósito de chegar aos 30 andares, Martinelli decidiu dar um drible nas leis e construir sua nova casa no topo do prédio, que ocupou mais cinco andares (o Palacete do Comendador Martinelli) fazendo com que o prédio chegasse a 105 metros de altura. Mais de 600 operários e 90 artesãos se envolveram nas obras.
O prédio conquistou inquilinos ilustres que envolviam políticos influentes, foi sede de sindicatos e clubes tais como a Portuguesa e Palmeiras, e jornais, além de ter recebido restaurantes, boates, cinema, escola de dança, entre outros. Esse glamour tudo não resistiu ao boom imobiliário dos anos seguintes, e, em 1960, o Martinelli perdeu interesse e entrou em um processo de degradação. Desapropriado em 1975, em 1979 ele passou para administração da prefeitura, que ali instalou alguns órgãos municipais.
A primeira vez que a prefeitura tentou conceder parte da estrutura foi em 2019. Porém, o processo foi barrado em 2020 pelo TCM (Tribunal de Contas do Município). O processo foi retomado em dezembro de 2022 e, em março deste ano, o Grupo Tokyo fez a proposta.