Sítio Morrinhos tem relíquias arqueológicas paulistanas em seu acervo
Local abriga cerca de 100.000 objetos históricos
Sede do Centro de Arqueologia de São Paulo, o Sítio Morrinhos, no Jardim São Bento, Zona Norte, proporciona uma viagem ao passado. Não apenas por estar instalado em uma casa bandeirista construída em 1702, dessas com senzala nos fundos e erguidas com a técnica de taipa de pilão. Mas também por armazenar estimados 100 000 itens, com datas que variam de 8 000 a cinquenta anos atrás. Todo o material foi removido do solo da cidade a partir de 1979, quando começaram as primeiras atividades de escavação por aqui. Esse acervo de heranças paulistanas não para de crescer. Iniciado em abril de 2008, interrompido duas vezes por questões burocráticas e finalizado na semana passada, o trabalho de busca no Solar da Marquesa de Santos, casarão da amante de dom Pedro I, encontrou 10 000 itens.
Sob coordenação da arqueóloga Paula Nishida, contratada temporariamente, foram revirados os 45 metros quadrados do quintal da propriedade, no centro. Munida de luva, pinça e afins, a equipe retirou de uma profundidade de até 3,40 metros ossos de animais, porcelana, cerâmica, moedas e fragmentos de jornal com notícias da Guerra da Crimeia (1853-1856). “Só deixamos no local uma muralha de arquitetura medieval, que futuramente poderá ser visitada”, diz Paula. O acervo da entidade conta com achados de escavações públicas e privadas. Qualquer empreendimento que requer licenciamento ambiental precisa fazer uma pesquisa arqueológica, pois a riqueza do solo é considerada patrimônio público. A propósito, a criação do Centro de Arqueologia resultou de um desrespeito a essa regra. Em 2003, duas construtoras deram início a um condomínio localizado no Morumbi sobre um sítio de rochas datadas de 8 000 anos atrás. Após uma ação judicial, decidiu-se pelo ressarcimento ao município. Investiu-se então na criação do centro, que informalmente já funcionava no Sítio Morrinhos. O decreto que oficializou o lugar foi expedido neste ano.
Com uma área de 20 000 metros quadrados, o espaço é aberto à visitação pública de terça a sexta-feira. No ano passado, recebeu 157 871 pessoas. “Atraímos muitos alunos de escolas públicas”, conta a diretora Lúcia Juliani. “As professoras fazem excursões para dar aulas ilustradas de história, geografia e artes.” Os alunos do 3º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Philomena Baylão, também na Zona Norte, tiveram essa oportunidade. “Achei muito legais esses brinquedos”, diz o aluno Victor Pereira, de 9 anos, que visitou Morrinhos ao lado de sua professora
de artes plásticas. “Não conhecia bolinhas de gude feitas de argila.” O entusiasmo que o garoto mostrava era em relação ao item recolhido no sítio arqueológico Capão do Tatuapé Acima, na Zona Leste. “Até o início do século XX, funcionava um orfanato no lugar”, explica Lúcia. Pião e estilingue de madeira, peça de dominó de osso e cabeça de boneca de vidro estão à mostra. Uma urna funerária da tribo tupi encontrada no século XIX em um cemitério do Brás e pontas de flechas indígenas de estimados 5 500 anos achadas no Morumbi são outros atrativos em exposição.
Lúcia Juliani é a única arqueóloga da prefeitura. “Precisaríamos ter pelo menos quatro profissionais a mais”, acredita. Em sua sala de trabalho há pilhas e pilhas de caixas recheadas de sacos plásticos com peças que esperam a vez de ser estudadas e catalogadas. “Se a equipe fosse maior, a população teria acesso mais rápido a tudo o que é retirado do solo paulistano.” O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) informa ter a intenção de contratar arqueólogos, historiadores, restauradores e antropólogos. Mas não há previsão de quando isso vai acontecer.