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Centro de Valorização da Vida expande atuação para escolas e empresas

Com aumento de procura, entidade busca por novos voluntários

Por Juliene Moretti Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 set 2019, 11h06 - Publicado em 20 set 2019, 06h00
Boris e Silvia viraram voluntários do CVV após perda do filho (Ricardo D'Angelo/Veja SP)
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Toda quarta, antes das 19 horas, o casal de empresários Boris e Silvia Saprudsky vai a um posto do Centro de Valorização da Vida (CVV) da capital para, durante quatro horas, atender os telefonemas dos que se sentem desesperados. Os dois entraram como voluntários em 2018, depois de perder o filho Erik, de 19 anos, e conhecer o trabalho do Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio, mantido pela instituição, que auxilia parentes e amigos de quem tirou a própria vida.

“Fomos muito bem acolhidos e, por isso, decidimos entrar para o voluntariado”, conta o pai. Erik faz parte de uma estatística que não para de subir. Só em 2017 a cidade de São Paulo registrou 547 mortes por suicídio, número 18% superior ao do ano anterior. “Estamos na contramão do estipulado pela Organização Mundial da Saúde, que é reduzir as taxas em 10%”, explica Elson Asevedo, psiquiatra da Unifesp.

Em sua mais recente pesquisa, ele analisa o aumento dos índices nas grandes cidades. Apenas entre jovens de 10 a 19 anos, o crescimento foi de 27% de 2006 a 2015. “Linhas de emergência como o CVV são de extrema importância. Em um momento de crise, em que a pessoa se vê tomada pelo desespero, ela precisa ter um canal com indivíduos treinados para acolhêla e encaminhá-la a um equipamento de saúde.”

Marcel Marchesini –  CVV
Marcel Marchesini, comprometimento para atendimentos semanais (Ricardo D'Angelo/Veja SP)

Boris e Silvia se integraram à rede, que, na capital, tem cerca de 300 voluntários em quatro postos ativos — até o fim de novembro, mais um deve ser aberto, na Penha — e no chat on-line. Desde o início de 2019 até agosto, já foram feitos mais de 316 000 atendimentos. “Se eu tivesse conhecido antes esse trabalho, teria colocado o Erik em contato”, diz o pai. Criado em 1962, o CVV desenvolveu um programa que funciona pela escuta. Nos treinamentos, que duram oito semanas, com reciclagens obrigatórias periodicamente, o voluntário aprende a apenas ouvir, sem dar conselhos. “São dois seres humanos no mesmo nível, um não é melhor que o outro. É preciso estar aberto a escutar e a compreender a dor do semelhante”, diz Lorival Blanco, atual presidente da instituição.

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No país, há mais de 3 200 voluntários de diferentes idades, classes sociais e profissões. Desde o ano passado eles atendem gratuitamente pelo número 188, de qualquer lugar do Brasil. “Antes, pelo 141, era cobrado o pulso de quem ligava. Foram dois anos para conseguir a gratuidade”, diz Antonio Carlos Braga, um dos diretores do CVV. A organização é mantida por doações e conta com as chamadas franquias sociais, que são os postos de atendimento. Cada local é uma associação independente, que recebe os aparatos, como treinamento e orientação jurídica, e fica responsável por criar meios de arrecadar fundos.

O custo para manter um espaço, de 2 000 a 5 000 reais, normalmente é rateado entre seus participantes, mas não há obrigatoriedade de doar nem cobrança pelo serviço. Todo o sistema tem gasto anual de cerca de 1,5 milhão de reais. Um dos gargalos é o número de voluntários. “À medida que as pessoas ficam sabendo do CVV e o procuram, precisamos trazer mais voluntários”, diz Braga. Em 2018, 304 pessoas fizeram 421 330 atendimentos por telefone, chat e e-mail, ou 1 386 por voluntário, em São Paulo. Em uma simulação no chat, a reportagem era o número 107 na espera. O tempo das conversas é variável. Elas podem durar de quinze minutos a uma hora.

Elaine Macedo – CVV
Elaine Macedo, coordenadora do posto de atendimento do CVV no Jabaquara (Ricardo D'Angelo/Veja SP)
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Agora, a instituição quer ampliar a atuação e criou o CVV Comunidade, em que leva o trabalho para escolas, empresas e locais com alto risco, como Brumadinho, também com voluntários que se revezam nos chamados. Um deles é Marcel Marchesini, que, depois de passar uma temporada nos plantões telefônicos, hoje se dedica à divulgação do serviço nesses lugares. “Depois que a gente vive essa experiência, também sofre transformações. Aprendemos a ter um olhar mais carinhoso para o próximo, até a relação com a minha mãe mudou”, conta.

A campanha de prevenção ao suicídio Setembro Amarelo, além de tentar sensibilizar mais pessoas para o voluntariado, joga luz em uma dor invisível. Algo muito diferente do que ocorria na época em que a administradora Elaine Macedo entrou para o programa, em 1995. “Não podia contar o que acontecia, por causa do sigilo, e meus pais ficavam espantados com o fato de eu poder auxiliar quem estava em situação de desespero. Independentemente da idade, do gênero, da região do país, quem liga quer alguém para desabafar”, diz. Nos últimos anos, o debate sobre o tema tem contribuído para que as pessoas o encarem de outra forma. Quando a assistente social Andreia Fonseca entrou no posto de Pinheiros, em 2012, eram apenas dezessete contribuintes. Quando saiu, para assumir a vice-coordenação da regional, em agosto, já eram sessenta. Todos dispostos a ouvir a dor do outro.

RAIO-X DA CAPITAL

Na cidade, os voluntários se dividem em quatro postos e chats

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306 voluntários em 2017
304 voluntários em 2018
223 057 atendimentos em 2017
421 330 atendimentos em 2018

> Ligue 188
> cvv.org.br
> Os postos: Abolição, Jabaquara, Vila Carrão, Pinheiros e Penha (previsto para novembro)
> Para ser voluntário: cvv.org.br/inscricao-para-novos-voluntarios

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 25 de setembro de 2019, edição nº 2653.

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