Prefeitura investe R$ 40 bilhões em ações em plantio e proteção ambiental
Ônibus elétricos, coleta seletiva, bosques e o plantio de mais de 120 000 árvores fazem parte dos investimentos
Ela foi reconhecida como uma “Cidade Árvore do Mundo”, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU). Somente neste ano, recebeu cerca de 120 000 mudas plantadas em diferentes regiões, principalmente nas periferias. Também comemora a expansão da coleta seletiva domiciliar, que hoje chega a 100% de suas vias (leia abaixo). Por mais incrível que pareça, estamos falando de São Paulo, a maior metrópole da América Latina. Apelidada de “selva de pedra”, a capital do estado vem mostrando que pode ser menos cinza.
Pelo menos é essa a meta da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), 58, que vem apresentando em números o tamanho do empenho em aumentar a cobertura verde da cidade. Somente entre 2024 e 2025, foram R$ 40 bilhões de investimentos em ações de proteção ambiental, diminuição das emissões de CO2 e destinação correta de resíduos sólidos. Em entrevista exclusiva à Vejinha, Nunes detalhou as medidas aplicadas nos últimos anos, cujo resultado mira em conquistas ousadas. Um exemplo é a meta de neutralizar as emissões de CO2 do município até 2050. “A pauta verde precisa estar integrada à habitação digna, à proteção dos mananciais e à inovação na mobilidade”, afirma o prefeito.
Entre as ações em fase de implementação, está a modificação do corredor de ônibus da Avenida 9 de Julho. O projeto-piloto, que deverá estar em funcionamento até o final do ano, vai criar um cinturão verde que irá do Terminal Bandeira à Rua Groenlândia, no Jardim Europa. Com orçamento de R$ 1,3 milhão a obra inclui o alargamento das calçadas e paradas de ônibus modernizadas. Essa e outras propostas começam a ganhar notoriedade internacionalmente. “Além do reconhecimento da FAO, também fazemos parte do grupo C40”, comemora Nunes, referindo-se à entidade global que reúne cidades que adotam ações climáticas urgentes.
No Brasil, além de São Paulo, Curitiba, Salvador e Fortaleza fazem parte desse grupo. Nem os desafios para integrar a pauta ambiental às questões de moradia e de mobilidade urbana têm atrapalhado os planos, na visão do prefeito. “Com vontade política e com as finanças municipais em ordem, isso está sendo possível e hoje já contamos com cerca de 54% de cobertura verde na cidade”, afirma o gestor, que implementou o Orçamento Climático para o município a fim de garantir que o tema do meio ambiente esteja integrado a todas as esferas da administração.
Dentro desse “pacote ecológico”, está a criação de novos parques e bosques urbanos, que prometem trazer um refresco nas ondas de calor já vistas em São Paulo. De 2021 para cá, a gestão Nunes entregou doze novos parques municipais. O mais recente, inaugurado em junho deste ano, é o Morumbi Sul, no Campo Limpo. Os bosques urbanos, que funcionam como pequenas florestas espalhadas pela cidade, deverão somar cinquenta unidades até 2028. “Cada bosque é capaz de baixar em 6 graus a temperatura da região”, revela o prefeito.
Há, ainda, os jardins de chuva, que são espaços permeáveis instalados em locais propensos a alagamentos. “Queremos chegar a 1 000 unidades”, contabiliza. Entre os projetos mais queridos do governante está a frota de ônibus elétricos que já roda na capital e que vem, gradativamente, substituindo os coletivos movidos a óleo diesel. Os veículos elétricos — já são 1 000 — utilizam o sistema BESS de baterias eletroquímicas, capazes de armazenar a energia como uma espécie de power bank. “Eles são muito mais silenciosos, com ar condicionado e lugar para carregar celular. Até para os motoristas está mais confortável”, afirma Nunes, que assinou uma portaria obrigando que todo novo coletivo que entre em funcionamento, no futuro, opere no mesmo sistema.
O projeto de eletrificação da frota — orçado em R$ 6,5 bilhões — recebeu o prêmio Local Leaders, da Bloomberg Philanthropies, na categoria “Transporte limpo e confiável”, saindo na frente de localidades como Oslo, na Noruega, e Jacarta, na Indonésia. Mas o melhor, diz o prefeito, é o benefício ambiental, uma vez que são justamente os veículos que circulam pela capital os responsáveis por 60% dos gases tóxicos que poluem o ar. E os ônibus respondem por mais da metade desse percentual (55%). “Cada ônibus elétrico evita a emissão de 87 toneladas de CO2 e deixa de consumir 35 000 litros de diesel por ano. Isso equivale ao plantio de 6 400 árvores”, diz Nunes.
Falando nelas, as árvores ganharam, recentemente, mais atenção da prefeitura, por meio do Inventário Arbóreo — programa que vai permitir mapear mais de 650 000 unidades em três anos. “Isso é feito com um carro com câmera, que capta em 360 graus. Isso facilita a prevenção de quedas e a adoção de um cuidado mais eficiente”, garante o prefeito.
Comumente às voltas com críticas, cada vez que um empreendimento privado derruba a vegetação para a construção de edifícios, a prefeitura vem dedicando parte dos esforços — e do orçamento — para ampliar as áreas de proteção na cidade. Desde 2024, 51 novos locais foram declarados como área de preservação ambiental. A medida adicionou 18 000 hectares de Mata Atlântica, córregos e nascentes ao patrimônio público. “Isso equivale ao tamanho da cidade de Paris”, informa Nunes. Assim, diz ele, São Paulo passou de 11% para 26% de seu território protegido permanentemente.
O Programa Mananciais, que recebeu R$ 3,77 bilhões em 2021 e 2024, levou urbanização ao entorno das represas Billings e Guarapiranga — fundamentais para o abastecimento de água para a população paulistana e que não podem apresentar um crescimento desordenado. “Conseguimos beneficiar 26 000 famílias da região”, conta Ricardo Nunes, cuja gestão também é responsável pela implementação do Aquático-SP, embarcações (seis, no total) que conectam os terminais Mar Paulista e Parque Linear Cantinho do Céu. Os impactos são consideráveis, sendo o principal a diminuição do tempo de deslocamento, que caiu de 1 hora e 20 minutos (quando feito por terra) para 17 minutos.
Mas, para além das iniciativas de sua gestão, o prefeito reitera que é essencial a colaboração da população, principalmente na conscientização da importância de separar resíduos orgânicos de recicláveis. “A cidade gera, por dia, 12 000 toneladas de lixo doméstico. Hoje, conseguimos reciclar somente 3% disso. A meta é chegar a 12%”, diz. Mas, para isso, é preciso que mais pessoas façam o descarte corretamente e evitem jogar móveis e utensílios em locais inapropriados. “Estamos fazendo a nossa parte”, comenta Nunes, que começou a substituir os caminhões de coleta de resíduos comuns, da prefeitura, por veículos movidos a biometano — combustível derivado do biogás que evita o consumo de diesel. “Já temos 200 caminhões rodando, mas a meta é renovar todos os mais de 800 que circulam na cidade”, assegura o prefeito. Pelo jeito, a cidade vai perder a sua alcunha mais famosa.
Coleta seletiva domiciliar chega a 100% das ruas da cidade
A coleta seletiva alcançou, neste ano, 100% das ruas da cidade, segundo a gestão municipal. A megaoperação, que possui 6 000 funcionários e 842 veículos (fotos), é feita uma vez por semana e recolhe em média 7 000 toneladas por mês, o que corresponde a 280 toneladas por dia. Os caminhões passam de forma alternada nas regiões, divididas em duas: o agrupamento Noroeste, que compreende o centro, além das zonas Norte e Oeste; e o Sudeste, que corresponde às áreas Sul e Leste. A primeira está sob responsabilidade da concessionária Loga, e a outra, da Ecourbis.
Após o processo de coleta pelas empresas, os resíduos são destinados prioritariamente para 29 cooperativas habilitadas. 100% do que é comercializado com o material é revertido em renda aos 940 cooperados. A outra parte é enviada para as centrais de triagem Carolina Maria de Jesus, na Vila Sabará, e Ponte Pequena, na Avenida do Estado, onde é prensada e pesada. As unidades são as únicas da América Latina com um sistema mecanizado de separação de lixo reciclável, tendo maquinários que conseguem fracionar 500 toneladas diariamente.
Posteriormente, os resíduos são leiloados e 50% do valor retorna para as cooperativas, custeando despesas de manutenção, equipamento, espaço físico e veículos. O restante é investido em capacitação profissional e auxílio aos catadores. Além da coleta domiciliar, a cidade possui 3 106 ecopontos de entrega voluntária na região Noroeste e outros 7 563, onde os moradores podem levar seus recicláveis limpos e separados todos os dias da semana. (Luana Machado)
Publicado em VEJA São Paulo de 21 de novembro de 2025, edição nº 2971
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