Sambódromo do Anhembi terá primeiro camarote LGBTQIA+ do Brasil
São Paulo prepara Carnaval repaginado, agora gerenciado por empresa privada, que planeja mais recursos
Vai depender, claro, da situação da pandemia. Nos bastidores, porém, São Paulo já prepara um Carnaval repaginado para o Sambódromo do Anhembi em 2022. No abre-alas das mudanças, virá o primeiro camarote LGBTQIA+ do país, que será anunciado oficialmente nesta semana. Além disso, um grupo privado assumiu a organização do evento (no lugar da Liga das Escolas de Samba) com a proposta de trazer serviços, comidas e decoração de “nível de jogo de Copa” (nas palavras desses empresários) para o público dos desfiles.
Batizado de Camarote Sensação, o espaço dedicado à diversidade vai receber 700 pessoas por noite (veja os croquis abaixo). “Será hétero friendly (amigável para héteros). Vamos acolher todos com respeito e carinho, ao contrário de como somos recebidos por aí”, diz Ricardo Gomes, que preside a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil e está à frente da iniciativa junto do marido, Darlan Schmidt. As entradas vão custar a partir de 1 150 reais. Além da área, o grupo reservou 1 500 ingressos nas arquibancadas para uma ação social de inclusão. “Serão destinados a LGBTs que não frequentam o Carnaval por falta de recursos”, diz Ricardo. Ao todo, os organizadores investiram 2,6 milhões no projeto.
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Até 2020, o Carnaval paulistano era organizado, da venda dos ingressos à limpeza dos banheiros, pela Liga das Escolas, que não é exatamente especializada em promover eventos — e já precisa cuidar da qualidade dos desfiles na passarela. “A comida era uma das principais queixas. Basicamente espetinho, hot dog e pastel de qualidade ruim e preço alto”, diz Jairo Roizen, compositor de sambas-enredo e diretor de comunicação da Liga.
Nos próximos cinco anos, a tarefa fica a cargo da ALK, criada por sócios que já forneceram comes e bebes para eventos como a Fórmula 1 e o festival Lollapalooza. A saída para repaginar o Carnaval, segundo afirmam, é arrecadar mais dinheiro (expor melhor os patrocinadores e aumentar os camarotes com deques de madeira; veja abaixo) e, assim, bancar uma estrutura mais chique. A Liga faturava 14 milhões de reais com ingressos e apoios de quatro patrocinadores — cujas marcas só não podem aparecer na transmissão da TV, que tem outros acordos.
A ALK espera fechar com treze empresas e arrecadar 20 milhões de reais. “Daria para ‘empatar’ com os gastos. A ideia é mostrar qualidade e lucrar nos anos seguintes”, diz Andrés von Simson, CEO da ALK. “Só em patrocínios, devemos obter seis vezes o que a Liga conseguia”, ele diz.
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Com os recursos, a área atrás das arquibancadas, atualmente abandonada e cheia de infiltrações, vai virar lounges e praças de alimentação. As paredes degradadas serão cobertas por tecidos. “Será o lugar para o público ficar nos intervalos dos desfiles. Também servirá para ações de marcas”, diz Marcos Leone, sócio da ALK ao lado da mulher, Jacqueline. “Cada setor terá cenografia com painéis de LED, banheiros limpos e boa comida”, afirma. Os ingressos, segundo a ALK, sofrerão só o reajuste da inflação.
Nos últimos dias, a prefeitura autorizou o início das preparações para o Carnaval, mas ainda não definiu a data do evento.
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Publicado em VEJA São Paulo de 14 de julho de 2021, edição nº 2746