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Freira Rosane Ghedin comanda três projetos musicais do governo

Diretora da Congregação das Irmãs de Santa Marcelina, a irmã assumiu o projeto do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão

Por Mariana Barros
Atualizado em 27 dez 2016, 20h40 - Publicado em 14 Maio 2010, 17h22

De passos apertados e poucas palavras, a irmã Rosane Ghedin, 41 anos, não tem um minuto a perder. Seu dia começa às 4h45, com uma missa logo às 6 horas, e termina por volta da meia-noite, depois de ter jogado vôlei com jovens da Zona Leste. Entre uma coisa e outra, ela gerencia quatro hospitais, noventa unidades de saúde, uma faculdade e um colégio. “Tempo é um luxo que eu não tenho”, afirma. Os modos calmos e o crucifixo pendurado no pescoço contrastam com o que a irmã leva a todo lugar no bolso de seu hábito branco: um iPhone. Presente de colegas, o aparelho tornou-se companheiro inseparável. Com ele, Rosane enfrenta avalanches de mensagens e ligações que invadem seus parcos intervalos. “Entro no carro e já vou respondendo aos e-mails”, diz.

Diretora há cinco anos da Congregação das Irmãs de Santa Marcelina, que desde a década de 60 presta serviços de saúde na Zona Leste da cidade, a irmã viu sua apinhada rotina de trabalho ficar ainda mais corrida. Desde 2008, ela lidera a empreitada de sua ordem religiosa na área da cultura. A convite do então governador José Serra, as freiras assumiram a gestão de três projetos musicais: a Escola Tom Jobim, o Guri Santa Marcelina e o mais importante evento de música erudita do país, o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão.

Na edição deste ano, o festival terá uma semana extra, congregando 83 atrações, em vez das 46 reunidas no ano passado. Outra novidade é que onze delas se apresentarão na capital. A seleção é a primeira sob a batuta das irmãs. Com orçamento de 33,2 milhões de reais, os projetos culturais ficaram a cargo de Paulo Zuben, diretor executivo. Coordenador do curso de música da Faculdade Santa Marcelina, ele foi sondado para assumir a gerência das ações após participar da equipe que traçou o diagnóstico desses projetos. Experientes nas parcerias públicas em saúde, em que gerem 691 milhões de reais e dezoito contratos, as irmãs decidiram aceitar a proposta e criar um modelo que reunisse formação musical e assistência social. “A música foi incorporada de forma meio improvisada”, diz Rosane. “E, desde então, o Zuben nunca mais saiu da minha cola.”

Foi Zuben quem encabeçou a reformulação do modelo pedagógico da Escola de Música Tom Jobim e do Projeto Guri, rebatizado em São Paulo de Guri Santa Marcelina. O próprio festival de Campos passou a investir no aprendizado dos músicos, ampliando o número de bolsistas de 140 para 171 e convidando virtuoses internacionais para integrar o corpo docente. Iniciantes moradores de áreas carentes também ganharam oportunidades. Com 7 000 alunos, o projeto Guri Santa Marcelina atende jovens da rede pública que desejam aprender a tocar um instrumento. As aulas aproveitam a estrutura dos CEUs. No ano que vem, a previsão é que todos os 35 polos de ensino do projeto, tanto na capital quanto no interior, passem às mãos das irmãs.

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Nascida no Paraná, em uma família de fazendeiros que sempre fez trabalhos sociais, Rosane havia tido até hoje um contato escasso com a música. “Na adolescência, eu dançava tango e canções tradicionais gaúchas, mas hoje não sei mais nada”, lembra. Apesar do espírito solidário, seus pais tiveram grande dificuldade em aceitar a escolha da filha pela vida religiosa — para eles, fazer o bem não requeria optar pelo monastério. Aos 15 anos, a determinação da jovem levou-a a passar uma temporada na companhia das irmãs. A decisão, no entanto, não ocorreu sem sofrimento. Para seguir adiante, ela teve de deixar para trás um namorado de quem “gostava demais”. Corroída pela dúvida, chegou a desistir e a retornar à casa dos pais. Três anos depois, fez a opção derradeira. Com o passar do tempo, a relação com os pais e irmãos se apaziguou. Hoje, ela conversa com a mãe todos os dias, mas considera as 34 irmãs com quem divide a casa sua verdadeira família. Afazeres domésticos, como cozinhar e selecionar a canção que despertará as demais, são divididos entre todas. O mesmo vale para as tarefas administrativas.

Rosane assumiu a gestão geral para tentar salvar a congregação de um colapso financeiro. Formada em enfermagem e pós-graduada em administração hospitalar pela Fundação Getulio Vargas, ela foi conclamada a retornar dos EUA para pôr as contas em ordem — à época, cursava um mestrado na área de transplante na Universidade de Seattle. Com o sucesso à frente da administração, o sonho de prosseguir os estudos teve de ser abandonado. Para Rosane, o desejo de enveredar pela investigação científica jamais entrou em confronto com a fé. “A ciência só mostra que Deus já sabia de tudo o que só agora estamos descobrindo”, afirma, tranquila no meio da correria diária de sua vida.

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( / Festival Internacional de Campos do Jordão)
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( / Festival Internacional de Campos do Jordão – Sala São Paulo)

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