Paulistano faz sucesso com loja de itens para bebês e crianças em Orlando
Richard Harary programa expansão da marca MacroBaby nos Estados Unidos
Os Estados Unidos são destino certo para muitos brasileiros em busca de artigos para bebês e crianças a preços mais camaradas. Mesmo com o dólar nas alturas, as compras costumam valer a pena: o enxoval chega a custar um terço do valor no exterior. Cidade repleta de outlets, Orlando virou uma das paradas preferidas desse público. Nesse cenário, destaca-se a loja do paulistano Richard Harary.
Inaugurada há onze anos, na Avenida Florida Mall, a MacroBaby recebe em média 1 000 clientes por dia (10% deles paulistanos). Ela representa 45% dos negócios da Marco Corporation, holding com dezesseis empresas — entre elas, um negócio de suplementos e outro de entregas —, com estimativa de faturamento de 220 milhões de reais em 2018.
Apesar das cifras, o comércio, que também lucra on-line, ainda é um “bebê” no mercado americano. Enquanto a marca tem apenas uma unidade, a Buy Buy Baby, a principal do setor por lá, por exemplo, possui mais de 100 pontos espalhados pela terra do Tio Sam.
Com o intuito de aumentar sua fatia nesse universo, a MacroBaby prepara a primeira expansão. Na quinta (19), promete lançar um novo espaço em sua sede, batizado de Dolls Maternity. Trata-se de uma peculiar “maternidade” de bonecas. Brinquedos que imitam recém-nascidos ficarão expostos em um “aquário” com vinte bercinhos, ambiente similar ao de um hospital.
A criança escolhe um modelo, uma vendedora vestida de enfermeira pesa o produto e preenche uma certidão de nascimento. Os mimos custarão de 99 a 5 000 dólares (380 a 19 000 reais). “A peça mais sofisticada é idêntica a um neném: movimenta-se, chora, mama e até faz necessidades fisiológicas”, explica Harary, que investiu na brincadeira 200 000 dólares (na faixa de 800 000 reais). Ele pretende levar o “berçário” a outras quinze cidades americanas até 2021 e aumentar seu faturamento em 10% ao ano.
Consultora de enxoval de bebês há uma década, a economista Priscila Goldenberg analisa o sucesso da empresa entre os brasileiros. “As vendedoras falam português, o ambiente parece o de uma Alô Bebê gigante e, além disso, dá para parcelar a conta, um hábito tipicamente nacional”, afirma. São 2 500 metros quadrados de área, tamanho similar ao de algumas lojas de construção daqui, como a C&C. Encontram-se no endereço etiquetas conhecidas como Fisher Price e Kipling e também uma marca própria.
Por estratégia de marketing, volta e meia celebridades e influenciadores digitais postam fotos com sacolas cheias de produtos do local (confira ao longo da matéria). Alguns ganham desconto na nota ou cachês que atingem os 15 000 reais. Para os clientes remotos, é possível agendar um “robô” para fazer suas compras. Uma consultora conecta o consumidor via Skype a um tablet com câmera acoplado a um mastro de 1 metro de altura com rodinhas. De casa, o freguês consegue ver as gôndolas e comandar a direção da máquina. Depois, recebe os itens em sua residência.
Aos 40 anos, Harary vive seu sonho americano. “Desde criança, sabia que moraria em Orlando”, conta. Entre seus parentes, ainda é motivo de piada um vídeo no qual ele, então com 10 anos, aos prantos, recusava-se a sair da minivan alugada, no fim de uma viagem à terra do Mickey. Filho do imigrante egípcio Samy Harary, dono da tecelagem Elenstil Confecções, na Barra Funda, o proprietário da MacroBaby foi criado em Higienópolis e cursou o ensino médio no Colégio Rio Branco. Aos 14 anos, começou a trabalhar no negócio da família.
“Eu era o caçula, e vi que não teria voz na companhia liderada pelo meu pai e pelo meu irmão mais velho”, lembra. Aos 18, mudou-se para Orlando e estudou psicologia na Universidade da Flórida Central. Para conseguir o green card (cartão de residência permanente), decidiu se tornar empresário. “Pela lei, era preciso faturar pelo menos 200 000 dólares por ano”, diz. “Abri então uma empresa de malas.” Um ano depois, Harary já era conhecido como o “rei das malas” no aeroporto da cidade.
A ideia da MacroBaby surgiu em 2007, quando ele percebeu que o mercado era promissor. Divorciado, Harary tem três filhos e só vem com a família ao Brasil uma vez a cada dois anos. “Fico triste, mas, com a violência e a economia instável, não há como trocar os Estados Unidos por São Paulo”, justifica.