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Revista pessoal na porta da balada ofende

Frequentadoras da casa noturna Sirena, na Praia de Maresias, reclamam de constrangimento

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h31 - Publicado em 18 set 2009, 20h27

A produtora Amanda Cardoso, de 28 anos, desceu a serra com seis amigas, no último dia 11 de abril, para se divertir na badalada casa noturna Sirena, na Praia de Maresias, em São Sebastião, a mais agitada do Litoral Norte e frequentada por um grande número de paulistanos. O que era para ser uma noite animada e cara- – o ingresso chega a custar 100 reais no fim de semana – virou uma experiência constrangedora. “As seguranças que faziam a revista das mulheres se excederam e passaram a mão em todo o corpo das clientes diante de outras pessoas. Saí de lá surpresa e consternada”, afirma Amanda. “Se quem estivesse na fila conseguisse ver o que acontecia, com certeza não se sujeitaria a tal humilhação.” Segundo Amanda, as funcionárias da casa tocaram em suas partes íntimas.

Para testar a abordagem da equipe de segurança, a reportagem de Veja São Paulo foi ao Sirena no feriado do último dia 1º. Afixada logo na entrada, uma placa avisa os clientes sobre a necessidade da vistoria. A revista pessoal não se resume a somente dar uma olhada na bolsa das mulheres com uma lanterna, como é de praxe na maior parte das baladas da capital. As funcionárias passam rapidamente os dedos por entre os seios, nos quadris e nas coxas em busca de armas ou drogas. O procedimento dura cerca de trinta segundos. Remédios são barrados. Não foi possível, por exemplo, entrar com um vidrinho de homeopatia, que ficou retido no caixa. “Você será obrigada a deixá-lo aqui fora, são normas da casa”, disse um funcionário. A inspeção masculina não difere muito daquela realizada em estádios de futebol ou em shows. Entre as mulheres, no entanto, há muita reclamação. Naquela noite, pelo menos seis garotas relataram que se sentiram incomodadas com a abordagem das seguranças. “Achei um absurdo”, afirmou a comerciante Dayanne Pitoli, de Itatiba. Suas amigas fizeram coro. “Foi a primeira vez que isso aconteceu comigo, e não gostei”, disse a fonoaudió-loga Sabrina Sesti Stranieri. “A experiência foi superdesagradável”, contou a comerciante Fátima Ferreira.

Apesar das queixas, não há registro de boletim de ocorrência contra o clube na delegacia local. “Revistar é importante para coibir armas, drogas e garantir a segurança dos frequentadores”, diz o delegado seccional de São Sebastião, Múcio Mattos Monteiro. Em nota, o Sirena afirma que, em quinze anos de existência, a casa teve apenas uma reclamação em relação à revista e que a maioria dos clientes elogia a prática e se sente segura com ela. “O procedimento é realizado dentro de padrões especificamente estipulados para a garantia da segurança de todos, como determina o Código de Defesa do Consu-midor.” Con-tratada pelo Sirena há seis anos, a empresa de segurança KGB, com sede em Guarulhos, intensificou as revistas pessoais em 2006, para atender a um pedido da casa. “A vistoria de lá é mais detalhada do que a que fazemos, por exemplo, em danceterias como a Royal, que recebe um público mais velho”, explica o gerente administrativo Marcelo Pa–ganotti. “No Sirena, já chegamos a utilizar cães farejadores em busca de drogas.”

Não há lei que proíba a revista pessoal em baladas. “O que prevalece, nesse caso, é a questão da segurança”, afirma o advogado criminalista Roberto Podval. A revista só se torna ilegal em três casos: se há excessos por parte dos funcionários, se ela expõe o cliente a humilhação pública ou se há discriminação de qualquer tipo. “Essas situações podem configurar um dano moral passível de processo ou indenização”, diz o advogado especialista em defesa do consumidor Sergio Tannuri. O segurança também não pode colocar as mãos na bolsa ou manusear objetos pessoais sem autorização.

Nem todos os baladeiros passam por esse tipo de constrangimento no Sirena. Para alguns, a revista é mais branda. Foi o que a reportagem constatou depois de observar a atitude dos seguranças. Mesmo com tantas restrições, há quem consiga entrar com drogas. “Sempre passo, porque estou aqui todo fim de semana e já conheço o pessoal da portaria”, disse uma estudante de 22 anos que não quis se identificar. Para provar o que afirmava, ela tirou da alça do sutiã um papelote de ácido lisérgico (LSD). Mesmo com a revista “invasiva”, drogas sintéticas são comercializadas dentro da casa noturna. Vendedores dão plantão na porta que separa a pista coberta da área externa. Um garoto tentou vender à reportagem um papelote de ácido lisérgico por 30 reais. Por meio de nota, a casa nega ter conhecimento ou registro de que esse crime ocorra lá dentro: “Objetos podem ser escondidos em partes íntimas pelo cliente e, em alguns casos, nem mesmo uma inspeção rígida é capaz de encontrá-los”.

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