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São Paulo se torna o terceiro estado que mais recebe venezuelanos

A partir de março, a capital acolherá uma nova leva de imigrantes em fuga da crise em seu país

Por Adriana Farias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 23 fev 2018, 06h00 - Publicado em 23 fev 2018, 06h00
Barrios, em abrigo da Zona Norte: formado em três faculdades (Antonio Milena/Veja SP)
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O venezuelano Luis Edgardo Salazar, de 65 anos, chegou de ônibus a São Paulo em outubro do ano passado. Antes disso, tentara por três meses recomeçar a vida em abrigos de Roraima, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso. Técnico em eletricidade, tinha cruzado a fronteira da Venezuela para o Brasil com apenas uma mala na mão e os bolsos vazios. Deixou três filhos adultos em Caracas, capital de seu país, para fugir da crise que se agrava desde 2013, quando Nicolás Maduro foi eleito presidente.

A inflação ultrapassou a marca de 2 000% em 2017, ante uma taxa já elevada de 56,2% há cinco anos. Lá a situação econômica se tornou tão grave que fica difícil encontrar nos mercados produtos básicos como leite, papel higiênico e desodorante. “Temos um governo muito autoritário, que não soluciona a situação”, reclama Salazar, que fez um pedido de refúgio no Brasil por causa de perseguição política — forma escolhida pela maioria de seus conterrâneos para permanecer em solo nacional. “Viver aqui está sendo um sonho.”

Ele mora com 200 imigrantes no Centro de Acolhida Missão Scalabriniana, no Canindé, o maior dos três equipamentos do tipo na cidade, mantidos com apoio da prefeitura. Lá, há suporte jurídico, apoio psicológico e cursos de qualificação profissional. Assim como outros solicitantes de refúgio, Salazar ganha 85 reais mensais do Bolsa Família como auxílio à sua subsistência, que serão cortados quando ele conseguir uma renda superior a esse valor.

Venezuelanos
O tecnólogo Luis Salazar: Bolsa Família e busca por emprego na capital (Antonio Milena/Veja SP)

Roraima, o principal destino dos venezuelanos no Brasil, por se situar na fronteira, abriga hoje mais de 40 000 imigrantes da Venezuela, o equivalente a 10% de sua população. No último dia 16, o presidente Temer publicou uma medida provisória reconhecendo a situação de emergência social nesse estado fronteiriço, para que haja um aporte de recursos. Os abrigos estão lotados. O governo federal anunciou, então, a intenção de distribuir parte desses imigrantes para outros estados. São Paulo entrará na rota a partir de março e receberá ao menos 350 deles.

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O número de venezuelanos que buscam abrigo no país ainda é modesto, se for considerada a procura por outros destinos. Em 2017, cerca de meio milhão de venezuelanos entraram na Colômbia. Estados Unidos, Espanha, Panamá e México também já receberam grandes levas. Em São Paulo, entidades dedicadas ao acolhimento de estrangeiros estão sendo sondadas.

“Em uma conversa informal, nós nos disponibilizamos a oferecer de trinta a quarenta vagas aos mais vulneráveis”, diz o padre Paolo Parisi, coordenador da Missão Paz, ligada à Igreja Católica, na Baixada do Glicério. A municipalidade também deve ajudar. “Podemos oferecer 100 lugares em nossos abrigos”, explica o secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Filipe Sabará.

Segundo um levantamento do Ministério da Justiça, no ano passado o Brasil bateu o recorde de 17 865 solicitações de refúgio de venezuelanos, número que superou o pedido de haitianos, africanos e sírios. São Paulo tornou-se o terceiro estado que mais recebe essa população, com 528 requerimentos do tipo desde 2016, atrás apenas de Roraima e Amazonas.

Para comparar, em 2013 foram apenas sete pedidos similares em todo o país. A demanda por refúgio, entretanto, consiste apenas em uma das formas de esses estrangeiros viverem legalmente no Brasil. Outros 8 470 venezuelanos, por exemplo, desembarcaram aqui apoiados por uma resolução do Conselho Nacional de Imigração (CNIg) publicada há um ano. Ela permite a concessão de residência temporária àqueles que vieram por via terrestre.

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Venezuelanos
A professora Maria Bourne (Antonio Milena/Veja SP)

“Há outros que vêm direto de avião a São Paulo”, explica o defensor público federal João Chaves, coordenador da área de migrações e refúgios da Defensoria Pública da União na capital. “Eles nos procuram principalmente para saber como obter CPF e carteira de trabalho, o que costuma acontecer em até duas semanas.”

Formado em três faculdades — artes plásticas, administração e ciências sociais —, o venezuelano Edinson Barrios, 49, está na capital desde outubro de 2016 e sonha em poder trazer a família para cá. “Tive uma infecção séria no pé e fui prontamente atendido e medicado em uma unidade de saúde”, surpreendeu-se. “Isso seria praticamente impossível na minha terra natal.” Lá, faltam medicamentos básicos, como antibióticos, e até artigos como gaze e luvas. Ele também vive no abrigo do Canindé, mas por pouco tempo. Conseguiu recentemente um emprego de professor de filosofia na Faculdade Zumbi dos Palmares.

Também acolhida pela prefeitura, Maria Krisztina Halmy Bourne, 53, perdeu o serviço como tutora de inglês em seu país e procura alguma oportunidade há cinco meses. “Não tenho dinheiro nem para comprar um celular para os empregadores falarem comigo”, lamenta. “Estou tentando vagas de camareira. Quero ser feliz aqui. Para a Venezuela eu não volto.”

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