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Projeto para reflorestar Serra do Mar terá sementes lançadas por drones

Iniciativa encabeçada pelo Instituto Conservação Costeira (ICC) pretende recuperar trechos da Serra do Mar afetados pelas fortes chuvas no Litoral Norte

Por Pedro Carvalho
12 Maio 2023, 06h00
Morro entre a Barra do Sahy e a Baleia, com alguns dos 693 desmoronamentos provocados pela tragédia (Instituto Conservação Costeira/Divulgação)
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O Instituto Conservação Costeira (ICC), uma ONG que atua nas praias do Litoral Norte, promete anunciar nos próximos dias um projeto ambicioso para reflorestar os trechos da Serra do Mar que desabaram após as chuvas de fevereiro. A instituição quer usar drones para lançar milhares de “cápsulas de sementes” sobre as áreas afetadas, para recriar a vegetação perdida na tragédia.

A ONG foi escolhida para encontrar uma solução para o reflorestamento após vencer uma chamada pública do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente), órgão do governo que cuida do tema, cujo resultado foi publicado no início de maio. O ICC tem até a metade de julho para apresentar um plano, mas adianta que os drones seriam a melhor alternativa. “É a única tecnologia que daria conta do recado, uma vez que são áreas de acesso dificílimo. Podemos usar outras técnicas, mas será a principal”, diz Fernanda Carbonelli, fundadora da ONG.

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O drone: projeto deve começar em julho (Pedro Abreu/Divulgação)

A chuva recorde da noite de 18 de fevereiro deixou exatas 693 cicatrizes na Serra do Mar. O ICC pretende reflorestar todos os trechos, mas terá um desafio: um terço das áreas fica em terrenos particulares. “Muitos proprietários podem ‘aproveitar’ o desmatamento e ampliar a ocupação, ou seja, fazer construções — uma vez que, se as árvores estivessem ali, não poderiam tirá-las”, diz Carbonelli. Para não precisar pedir autorização de porta em porta, o ICC estuda soluções jurídicas baseadas em um caso semelhante acontecido em Cubatão. Nas décadas de 1980 e 1990, o governo estadual lançou sementes nas encostas do município, com o uso de helicópteros, para evitar deslizamentos que poderiam atingir o polo petroquímico da região. “A ideia é criar um comitê aberto à participação popular com poder para validar cada fase do projeto”, ela afirma.

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A iniciativa enfrenta, ainda, uma corrida contra o tempo. A estiagem de inverno, segundo os especialistas do ICC, é a época ideal para o plantio. “A ideia é começar o projeto em julho para que, até o fim do ano, sementes germinadas ajudem a conter a erosão das chuvas de verão”, diz André Motta, consultor ambiental da ONG. Se nada for feito, não é difícil imaginar os imensos “tobogãs de lama” que se formariam na estação chuvosa. As cápsulas levam uma mistura de sementes de árvores nativas e espécies de crescimento rápido, para acelerar a recomposição da mata na região.

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Sementes: mistura entre árvores nativas e espécies de crescimento rápido (Pedro Abreu/Divulgação)

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O projeto tem custo estimado entre 1,5 e 3 milhões de reais, que seriam bancados pela iniciativa privada — a captação foi autorizada pelo Consema. Fundado com a ajuda de figurões como Abilio Diniz, o ICC tem longo histórico de parcerias com o empresariado. Em 2013, atuou para a criação da Área de Proteção Ambiental Baleia Sahy, uma reserva de mais de 1 milhão de metros quadrados que se tornou um caso pioneiro de “cogestão ambiental” no país — próxima a regiões de metro quadrado valorizado, a APA é preservada exclusivamente por doações, com custo aproximado de 600 000 reais por ano. “Temos uma fila de interessados no projeto de reflorestamento”, diz Motta.

Se correr conforme o previsto, o plano terá duração de 24 meses. “Com os drones, é possível replantar entre 30 e 50 hectares por dia (os deslizamentos atingiram cerca de 300 hectares)”, afirma Pascal Asselin, cofundador da Morfo, startup especializada na solução que mantém conversas com o ICC para executar o projeto. “Do ponto de vista técnico, quanto antes começar o replantio, melhor”, diz. No mais, será preciso torcer pela natureza. “Não temos a certeza do êxito em todos os trechos, devido às diferentes aclividades e tipos de solo”, diz Carbonelli, do ICC. “Mas é a melhor chance que temos”, conclui.

Publicado em VEJA São Paulo de 17 de maio de 2023, edição nº 2841

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