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Perito é acusado de mentir sobre queda do helicóptero com filho de Alckmin

Hélio Ramacciotti, do Instituto de Criminalística (IC), se tornou réu por não dizer a verdade na investigação

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 fev 2020, 16h03 - Publicado em 11 Maio 2018, 06h00

Três anos após a queda do helicóptero que matou Thomaz Alckmin, filho do ex-governador Geraldo Alckmin, e outras quatro pessoas, uma reviravolta pode alterar as causas apontadas para o acidente. Em 24 de abril, o juiz Renato de Andrade Siqueira, da 1ª Vara Criminal de Carapicuíba, transformou o perito Hélio Ramacciotti, do Instituto de Criminalística (IC), em réu por mentir na investigação.

Em seu laudo, concluído cinco meses depois do desastre, ele afirma que as pás da aeronave prefixo PP-LLS, da empresa Seripatri, se soltaram por desconexão na “cadeia de comando”, dispositivo mecânico entre o piloto e as asas móveis. Segundo o Ministério Público, esse texto copia trechos do relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que tem caráter preventivo e não pode, por lei, ser usado como base em processos judiciais.

Além disso, Ramacciotti teria mentido sobre testes em fluidos e realizado uma simulação em modelo diferente do acidentado, o EC 155 B1, da Airbus Helicopters. O laudo do IC fez a culpa recair sobre a empresa Helipark, responsável pela reforma do veículo. Cinco funcionários chegaram a ser denunciados. “As afirmações falsas causaram o indiciamento indevido”, disse a promotora Camila Moura.

Após ouvir especialistas, o MP concluiu que a falha, se realmente existisse, teria impedido o helicóptero de levantar voo. Ou seja, as pás se soltaram por outro motivo. A promotora instaurou um inquérito e pediu providências à Polícia Civil. A corregedoria da corporação iniciou uma investigação para apurar a conduta de Ramacciotti, e o Instituto de Criminalística começou a refazer o laudo.

Concluído em setembro passado, este novo laudo aponta problemas em uma manutenção realizada pela empresa Helibras, em Itajubá (MG), dois dias antes do acidente. Segundo o documento, uma pintura nas pás não respeitou o prazo de secagem de uma semana indicado no manual do helicóptero. “Os processos de secagem foram abreviados, expondo a aeronave a vibrações que podem ter conduzido a uma falha”, afirma o perito Edwar Folli Júnior, no texto. Em depoimento ao MP, o funcionário encarregado do serviço confirmou que o tempo mínimo não foi respeitado.

A consultora Lídia Harue: três anos entre escombros (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Outra questão levantada no segundo laudo do Instituto de Criminalística diz respeito a uma das cinco pás instaladas no helicóptero acidentado. A peça seria de um lote inicialmente rejeitado pela Airbus, mas depois liberado para o mercado. Em nota, a Helibras, subsidiária da companhia francesa no Brasil, informa que não há histórico de outros acidentes com esse modelo de aeronave causados por falha das pás. Além disso, informou que o trabalho de pintura foi de “baixa complexidade e não contribuiu para o acidente”.

O perito Hélio Ramacciotti confirma que copiou trechos do relatório da Aeronáutica, mas porque concordava com os termos, e nega ter mentido em seu laudo. Ele conta que estava sendo pressionado pela Polícia Civil para acelerar a investigação. “Meus superiores diziam que o governo do estado pedia prioridade nessa investigação”, diz. “Agora querem a minha cabeça”, completa ele, que continua exercendo sua função no IC. Procurados, o governador Márcio França e seu antecessor, Geraldo Alckmin, pai de uma das vítimas, não quiseram comentar o caso.

Paralelo a isso, moradores de uma das três casas atingidas em Carapicuíba continuam esperando pela indenização para consertar os danos. Na residência da consultora Lídia Harue, a parte destruída estava em obras. “Até hoje sou obrigada a conviver com os escombros”, afirma Lídia. “A vizinha subiu o muro para não ver a destruição, mas eu não tenho essa opção.”

Em nota, a Seripatri diz que fez acordo extrajudicial com duas casas, mas Lídia preferiu procurar a Justiça. No processo, um perito contratado pelas partes chegou a um valor de 144 000 reais para reformar a residência, mas ainda não houve decisão da juíza. A analista de sistemas Ana Niechcicki teve um prejuízo de mais de 30 000 reais devido à queda de peças em sua casa, mas recebeu apenas 15 000 reais para os consertos de piso e parede.

“Precisei arcar com o restante, mas preferi pagar do que brigar na Justiça.” A tradutora Maura Fuchs, que mora ao lado e também teve o imóvel afetado pela queda, afirma que a parte destruída (o telhado e um banheiro) foi totalmente reformada, e a terra inundada pelo combustível foi removida. “Ofereceram hotel durante a obra e foram corretos”, conclui.

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TROCA DE ROTA

Os desdobramentos da investigação

Setembro/2015. Laudo do IC afirma que o helicóptero caiu por problema mecânico.
Setembro/2017. Novo laudo aponta defeito na pintura das pás.
Março/2018. O Ministério Público denuncia Hélio Ramacciotti por falsa perícia.
Abril/2018. O perito vira réu.

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