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Quais ONGs merecem receber seu donativo neste Natal

VEJA SÃO PAULO consultou 25 especialistas para destacar organizações da cidade

Por Camila Antunes e João Batista Jr.
Atualizado em 6 dez 2016, 09h05 - Publicado em 18 set 2009, 20h28

Cerca de 1 400 organizações filantrópicas atuam em São Paulo. Exatamente por isso, escolher qual deve receber sua doação é uma tarefa árdua. Começa por identificar o tipo de assistência ou a causa que mais lhe sensibiliza, como cuidar de velhinhos ou de crianças em situação de rua. Depois, faz-se necessário separar aquelas que são realmente eficientes das apenas bem-intencionadas – e daquelas que não são bem-intencionadas, claro. Veja São Paulo pediu sugestões de 25 profissionais, estudiosos e investidores que acompanham o dia-a-dia dessas instituições (saiba quem são). Eles indicaram dez ONGs que conhecem e nas quais confiam em cinco categorias: esporte, saúde, educação, cultura e meio ambiente (a única regra era não votar em sua própria organização). Chegaram à redação 148 nomes. Somente 35 foram citados mais de uma vez. Foi este o grupo selecionado para a reportagem a seguir. As dez ONGs mais lembradas são apresentadas com destaque. Aproveite o guia da filantropia e lembre-se de que o melhor dos donativos não custa nada: sua participação.

E agora, José?

CASA DO ZEZINHO

Pessoas atendidas por ano: 1 200

Contatos: https://www.casadozezinho.org.br; 5512-0878

Uma doação de 50 reais: cobre o custo de um aluno por cinco dias

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A festa acabou,/ a luz apagou,/

o povo sumiu,/ a noite esfriou,/

e agora, José?

Os versos de Carlos Drummond de Andrade inspiraram a pedagoga Dagmar Garroux a batizar de Casa do Zezinho seu projeto social. “Quero mostrar que os ‘zés-ninguém’ podem ter futuro”, afirma tia Dag, como é carinhosamente chamada pelos moradores do Parque Santo Antônio, na Zona Sul. A partir de um currículo de atividades que vão de aulas de inglês a curso de webdesign, Dagmar põe em prática um método de ensino cujo objetivo é fazer gente muito pobre sonhar. Mais de 10 000 Zezinhos já passaram pela ONG desde sua fundação, em 1993. “Mas eu comecei esse trabalho na década de 70, quando atendia crianças da favela próxima à minha casa”, lembra ela. Em novembro, Dagmar lançou o livro Pedagogia do Cuidado, no qual conta episódios ocorridos em sua instituição. Boa parte são histórias de jovens que deixaram as drogas e a criminalidade para estudar. “Defendo o direito de a criança escolher seu destino, seja ela de que classe social for.”

Fôlego de menina aos 85 anos

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LIGA SOLIDÁRIA

Pessoas atendidas por ano: 3 200

Contatos: https://www.ligasolidaria.org.br; 3873-2911

Uma doação de 50 reais: paga quinze refeições oferecidas às crianças nas creches

Ao longo de 2008, a Liga Solidária inaugurou duas creches e abriu 240 vagas. Com isso, o número de crianças matriculadas na sua pré-escola subiu para 920. Outra iniciativa que marcou o ano foi a decisão de abrir o Educandário Dom Duarte nos fins de semana. Trata-se de uma antiga fazenda próxima à Rodovia Raposo Tavares, circundada por quinze favelas. Lá funciona a maior parte das escolinhas e dos abrigos da Liga. Com muita área verde, dois campos de futebol, playground e uma piscina, o local passou a ser freqüentado como se fosse um parque. “Mais de 500 famílias vêm aos sábados e domingos aqui”, afirma Carola Matarazzo, vice-presidente da instituição. A Liga Solidária tem 85 anos. Até 2007, no entanto, se chamava Liga das Senhoras Católicas e estava muito associada à imagem de damas da sociedade reunidas para chás, bazares e bingos beneficentes (apesar do trabalho contínuo). Mais de 3 200 pessoas são atualmente assistidas por seus programas. Na conta estão 1 000 famílias que recebem a visita de um agente comunitário regularmente e adultos que freqüentam cursos de alfabetização. Dois terços do orçamento da Liga, de 29 milhões de reais, vêm de parcerias e doações.

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Rua com saída

PROJETO QUIXOTE

Pessoas atendidas por ano: 750

Contatos: https://www.projetoquixote.org.br; 5904-3524

Uma doação de 50 reais: mantém uma criança fora das ruas por um dia. Ela é levada a um abrigo, onde recebe atendimento pedagógico, psicológico e clínico

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Três em cada dez moradores de rua que recebem apoio de ONGs ou órgãos do governo voltam a levar uma vida normal, com casa e trabalho. Os dados são da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. Estima-se que existam cerca de 13 000 sem-teto na cidade. O número de crianças e adolescentes nos faróis também impressiona: 1 800. Nesse grupo há os que dormem em casa todos os dias (50%), aqueles que voltam para casa de tempos em tempos (27%) e os que de fato vivem nas ruas (23%). O trabalho do Projeto Quixote tem sido importante para ajudá-los. Desde 1996, duplas de psicólogos percorrem os locais mais procurados por meninos de rua, como a região da Luz e a Praça da Sé. Aos poucos, eles se aproximam das crianças e, com muita conversa, vão despertando nelas o desejo de ter uma casa e voltar para sua mãe (ou família adotiva). Quando conseguem, levam-nas a um abrigo temporário, onde não podem usar drogas. Oitenta jovens já foram resgatados das ruas pelo Projeto Quixote. Suas famílias, a partir de 2009, terão acesso a um programa de microcrédito. As novidades não param por aí. No ano que vem, a ONG deve ganhar uma sede na Vila Mariana. Lá haverá escola e centro cultural.

Onde o deficiente vira especial

AACD

Pessoas atendidas ao ano: 626 000

Contatos: https://www.aacd.org.br; 5576-0847

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Uma doação de 50 reais: paga uma sessão e meia de fisioterapia ou uma muleta de madeira

Brincando com a bola, a pequenina Mayara Guimarães, de 2 anos (ao lado), parece muito feliz. Ela nasceu com um caroço perto da lombar e teve diagnosticado um problema de má-formação na coluna. Para melhorar o equilíbrio, faz fisioterapia na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Futuramente, deverá ser submetida a uma cirurgia. “Aqui não se busca a cura, mas o limite de cada um na recuperação”, afirma o presidente Eduardo Carneiro. Criada em 1950 para tratar de crianças infectadas pela poliomielite, a AACD mudou bastante seu perfil. Cuida especialmente de vítimas de paralisia cerebral e é cada vez mais procurada por adultos com lesões provocadas por tiros e acidentes de trânsito. “O Brasil fabrica deficientes físicos aos milhares”, lamenta Carneiro. É por isso que, apesar de nos últimos dez anos a AACD ter inaugurado oito unidades (das quais cinco em outros estados), ainda há uma fila de 32 000 pessoas à espera de atendimento.

O tio da Vila Albertina

FUNDAÇÃO GOL DE LETRA

Pessoas atendidas por ano: 800

Contatos: https://www.goldeletra.org.br; 2206-5520

Uma doação de 50 reais: compra seis livros de historinha infantil

Criador da Fundação Gol de Letra, o ex-jogador de futebol Raí gosta de repetir que conhece boa parte de seus alunos pelo nome. “Dedico 60% de meu tempo ao trabalho social”, diz ele, que cuida da unidade paulistana da instituição. Seu sócio Leonardo, parceiro desde os tempos em que ambos defendiam a camisa do São Paulo, coordena a escola do Rio de Janeiro. A Gol de Letra foi inaugurada em 1999, na Vila Albertina, Zona Norte, ao lado do Morro do Piolho. Com pouco saneamento, vielas e escadões que dificultam a passagem de viaturas, o morro estava dominado pelo tráfico de drogas. A chegada da ONG acabou articulando governos e lideranças locais. “Aqui já foi mais violento”, diz Raí. Ao menos ele tem a tranqüilidade de oferecer a seus 800 alunos novas perspectivas. Eles contam com aulas de literatura, teatro, música, capoeira e, claro, futebol. Aos sábados, as quadras, a sala de informática, a biblioteca e a brinquedoteca da Gol de Letra são abertas à comunidade. “Ser educador é minha nova vocação.”

Arte que transforma

INSTITUTO RODRIGO MENDES

Pessoas atendidas por ano: 310

Contatos: https://www.institutorodrigomendes.org.br; 3726-4468

Uma doação de 50 reais: compra uma tela ou um cartucho de tinta colorida

Aos 19 anos, Rodrigo Mendes (à dir.) fazia cursinho para o vestibular de medicina e circulava com a turma do colégio Porto Seguro, onde se formou. Até que foi assaltado ao sair de sua casa, no Morumbi, e levou um tiro à queima-roupa. A bala atingiu a região do pescoço e Rodrigo ficou tetraplégico. Durante o longo processo de recuperação, ele se envolveu com arte e criou o Instituto Rodrigo Mendes, que capacita professores e oferece aulas de pintura e desenho. Os alunos não são necessariamente deficientes. Em 95% dos casos ganham bolsas de estudos (eles vêm de escolas públicas e de outras ONGs parceiras). Todos deixam os trabalhos à mostra no banco de imagens do instituto e recebem até 2 000 reais quando seus desenhos são licenciados e estampados em capas de cadernos ou suvenires. Neste ano, Rodrigo foi selecionado pelo Fórum Econômico Mundial para integrar o comitê de Jovens Líderes Globais, que reúne gente de até 40 anos que tenha realizado algum trabalho de impacto social. Bill Gates e Tony Blair são palestrantes do grupo.

Humanizando o bicho-papão

GRAACC

Pessoas atendidas por ano: 15 500

Contatos: https://www.graacc.org.br; 5080-8400

Uma doação de 50 reais: compra três DVDs, uma fantasia ou uma boneca, o que ajuda a distrair as crianças antes e no decorrer da quimioterapia

Nascido há dezessete anos como uma ONG de médicos e pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo e abrigado numa pequena casa na Vila Mariana, o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc) tinha como missão chamar atenção para a doença. “Quanto mais conhecimento, mais cedo ocorre o encaminhamento para o hospital e maiores são as chances de cura”, afirma o diretor Sérgio Petrilli. Em 1993, quando o McDonald’s lhe destinou pela primeira vez a renda dos sanduíches vendidos durante o McDia Feliz, o sonho de construir um hospital tomou corpo. Cinco anos depois, o prédio de nove andares ficou pronto e aos poucos foi sendo equipado. Cenógrafos desenharam uma brinquedoteca e deram uma cara lúdica à sala de quimioterapia. “Nossa filosofia é curar com qualidade de vida”, diz a pedagoga Patrícia Pecoraro. Ela conta que algumas crianças passam o dia no hospital com fantasia de super-herói. “Assim, sentem-se mais fortes que a doença.” A comemoração de uma década do hospital do Graacc foi marcada pelo lançamento de um novo e ambicioso plano: construir um segundo prédio, três vezes maior, num terreno vizinho doado pela prefeitura. Para o projeto sair do papel, a organização vai intensificar o telemarketing e as ações promocionais. Hoje, 40% de sua receita vem de empresas e de 60 000 pessoas físicas que doam 10 reais por mês. Um detalhe: 95% dos que usam os serviços não teriam condições de pagar por eles.

Oásis do Jardim São Luís

INSTITUTO ESPORTE & EDUCAÇÃO

Pessoas atendidas ao ano: 8 140

Contatos: https://www.esporteeducacao.org.br; 5890-0005

Uma doação de 50 reais: paga nove bolas de vôlei ou dez camisetas para os atletas

Em 2004, a chegada do Instituto Esporte & Educação mudou a paisagem do bairro Jardim São Luís, na Zona Sul. E não só porque os 1 500 metros quadrados onde está instalado – dividido em um campo de futebol, duas quadras poliesportivas, playground e vestiários – é um contraponto a um mar de 84 predinhos populares. Mas por ter dado alguma expectativa a milhares de crianças e jovens entre 3 e 21 anos. “Como eles não tinham nenhum outro centro de esportes, jogavam bola em ruas tomadas pelo tráfico de drogas”, diz Alan Leão, coordenador da ONG criada pela ex-jogadora de vôlei Ana Moser. O distrito do Jardim São Luís é considerado um dos mais perigosos da cidade. Em 2007, registraram-se ali 25 casos de homicídio por 100 000 habitantes, 56% a mais que a média municipal. O Instituto Esporte & Educação também tem unidades em Heliópolis e São Miguel Paulista, que juntas atendem outros 4 706 jovens.

Periferia no mapa

AÇÃO EDUCATIVA

Pessoas atendidas por ano: 1 220 adolescentes da Fundação Casa. Atrai outras 17 000 pessoas para eventos como roda de samba, saraus, exposição de grafite e cursos de formação de educadores e lideranças sociais

Contatos: https://www.acaoeducativa.org.br; 3151-2333

Uma doação de 50 reais: imprime 100 exemplares da Agenda Cultural da Periferia

O circuito comercial de arte e cultura abrange espetáculos e mostras em 35 distritos do centro expandido. São Paulo, no entanto, tem 96 distritos e 70% de sua população vivendo na periferia. Diante dessa constatação, a ONG Ação Educativa criou a Agenda Cultural da Periferia. Nela constam eventos como o sarau da Cooperifa, com poesia e rap, e o Samba da Vela, às segundas-feiras na Casa de Cultura de Santo Amaro. Além de contribuir para que a cidade seja mais integrada, o guia tem outra importante função social: colabora para a reinserção de internos da Fundação Casa, antiga Febem. Neste ano, a Ação Educativa assumiu a coordenação das oficinas culturais oferecidas na instituição. A proposta é despertar os jovens para as atividades artísticas com as quais eles têm afinidade, como o grafite e o hip hop. Com autorização do juiz, alguns chegam a se apresentar em shows e saraus. “Até o ano passado, as saí-das eram só para assistir a peças de teatro e visitar museus”, conta o coordenador do programa, Gildean Silva, mais conhecido pelo apelido de Panikinho, que aparece na foto ao lado.

Sorrisos garantidos

TURMA DO BEM

Pessoas atendidas por ano: 2 300

Contatos: https://www.turmadobem.org.br; 5084-7276

Uma doação de 50 reais: banca o encaminhamento de um adolescente para o dentista. O valor corresponde ao custo da triagem feita nas escolas

Os dentistas da foto fazem parte da Turma do Bem. Eles seguem o exemplo de Fábio Bibancos (no centro, de óculos), que cuida do sorriso de Ana Paula Arosio e Marcello Antony. Desde 1996, Bibancos abre brechas em sua agenda para tratar de adolescentes pobres. O estudante Alex Lima, de 16 anos, foi um dos beneficiados. Há dois anos, tinha vinte cáries, dentes nascidos fora do lugar e muita dor. Sua professora, comovida com o drama do aluno, apelidado de “Piranhão” pelos colegas, escreveu à ONG para pedir ajuda. “Estou usando aparelho,” conta o garoto. “Ele ficou tão sociável que o telefone não pára de tocar”, diz sua mãe, a empregada doméstica Rosilda. Normalmente, a escolha dos pacientes é feita por meio de uma avaliação da saúde bucal em escolas públicas. No foco da ONG estão jovens de 11 a 17 anos, atendidos até atingir a maioridade. Recentemente, a Turma do Bem abriu uma nova trincheira na guerra pelo sorriso. Está pressionando o Congresso para a aprovação de uma lei que instituirá a escova e a pasta de dentes populares, ao custo de menos de 1 real. “A média de consumo brasileira é de apenas uma escova dental por família por ano”, afirma Bibancos.

Especialistas consultados: Claudia Marques, Alfabetização Solidária; Celso Grecco, consultor; Elaine Carvalho, Fiesp; Fábio Bibancos, Turma do Bem; Fernando Moya, Associação Comercial de São Paulo; Floriano Pesaro, ex-secretário municipal de Assistência Social; Francisca Moraes, Tangram Social; Francisco Azevedo, Instituto Camargo Corrêa; Helio Mattar, Akatu; Ivanildo Lourenço, Instituto Ressoar; José Osmar Medina, Fundação Oswaldo Ramos; Kimy Tsukamoto, Ashoka; Malak Poppovic, Conectas Direitos Humanos; Mara Gabrilli, vereadora; Maria Angela Rudge, Cenpec; Maria Helena Gregori, Capacitação Solidária; Marcus Vinícius Ribeiro, Brazil Foundation; Ricardo Montoro, secretário municipal de Participação e Parceria; Sérgio Avelleda, CPTM; Sérgio Petrilli, Graacc; Silvia Rodarte, Unibes; Sônia Bruck, BM&F Bovespa; Sonia Nascimento, Abong; Tomás Carmona, Serasa Experian; Waleska Ferreira, Unilever

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