Projeção indica que nível do Sistema Cantareira pode chegar a 22% em abril
Resultado anterior indicava 17%, mas alteração ainda indica possibilidade de falta de água em 2022, de acordo com professor da USP
A projeção mais recente do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) indica que o Sistema Cantareira pode chegar a 22% de sua capacidade em abril de 2022 caso as chuvas no local fiquem 50% abaixo da média. As informações são do G1.
O Cantareira é o maior reservatório da região metropolitana de São Paulo e abastece 7,2 milhões de pessoas. Neste sábado (10), ele operava com volume útil de 24,7%.
A projeção, divulgada na segunda-feira (6), é mais otimista do que a anterior, que indicava um nível de 17% em abril de 2022, mas não deixa de ser crítica, já que o consumo na região metropolitana de São Paulo costuma ser de 20% entre o período de estiagem e o das chuvas.
A Sabesp, no entanto, afirma que “não há risco de desabastecimento na Região Metropolitana de São Paulo neste momento, mas reforça a necessidade de uso consciente da água”.
De acordo com a hidróloga do Cemaden Adriana Cuartas, para chegar a abril com mais de 22% no Cantareira serão necessárias chuvas acima da média, o que não tem acontecido.
“O cenário mais pessimista de chuvas não se consolidou (25% abaixo da média), por isso o prognóstico para abril aumentou de 17% na última projeção para 22% nesta. A gente ainda precisa que em dezembro chova acima da média. O ideal era que chovesse 25% acima da média. Se a partir de dezembro chover abaixo da média todos os meses, podemos chegar a esse valor de em torno de 20% em abril”, afirma Cuartas.
O problema é que a previsão continua sendo de chuvas abaixo da média, de acordo com o especialista em gestão de recursos hídricos e professor de pós-graduação em ciência ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Luiz Côrtes.
Apesar da projeção ter melhorado em 5 pontos percentuais, chegar a abril com 22% não nos deixaria em uma situação confortável, de acordo com Côrtes. Ele fez uma análise que mostra que o consumo nos meses de estiagem é de cerca de 20% do volume do Cantareira.
Atualmente o Cantareira opera em faixa de restrição, ou seja, com volume útil acumulado igual ou maior que 20% e menor que 30%, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA). Na prática, a mudança de faixa de “alerta” para a de “restrição” diminui a quantidade de água que a Sabesp pode retirar do reservatório.
Depois da fase de alerta, a próxima é chamada de fase “especial”, quando o sistema tem volume útil menor do que 20%. O baixo nível do Cantareira já mudou a operação da Sabesp, que reconhece a redução da pressão nas casas por um período maior. Com isso, relatos de torneiras secas em casa cada vez mais cedo têm se multiplicado entre os moradores da capital e da região metropolitana.
Em julho de 2014, quando houve a crise hídrica, o Sistema Cantareira chegou a zero. Abaixo dele, havia o volume morto, que não foi projetado, originalmente, para uso. Trata-se de uma reserva com 480 bilhões de litros situada abaixo das comportas das represas do Cantareira.
A Sabesp passou a operar bombeando água do volume morto. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população. Em outubro de 2014, o volume do Cantareira chegou a 3,6%. Além do Cantareira, os outros sistemas que abastecem a Grande São Paulo são: Alto Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e São Lourenço. Juntos, eles abastecem 21 milhões de pessoas. Em novembro, as chuvas foram abaixo da média em todos os reservatórios.
Em nota, a Sabesp informou que “não há risco de desabastecimento na Região Metropolitana de São Paulo neste momento, mas reforça a necessidade de uso consciente da água”.
“A projeção para a RMSP aponta níveis satisfatórios dos reservatórios com as perspectivas de chuvas do final da primavera e início do verão, quando a situação será reavaliada. A RMSP é abastecida pelo Sistema Integrado, composto por sete mananciais (Cantareira, Alto Tietê, Cotia, Guarapiranga, Rio Claro, Rio Grande e São Lourenço), que permite transferências rotineiras de água entre regiões, conforme a necessidade operacional.