Prefeitura demite guarda civil que matou menino em junho
Caso levantou discussão sobre uso de armas de fogo por parte da GCM
O guarda municipal Caio Muratori, que matou o menino Waldik Gabriel Silva Chagas, o Biel, de 11 anos, durante uma perseguição a um Chevette roubado, em Cidade Tiradentes, em junho, foi exonerado a bem do serviço público.
O decreto foi publicado pelo prefeito Fernando Haddad no sábado (24). Desde que o crime ocorreu, Muratori estava afastado do trabalho por determinação médica.
Durante o processo administrativo, movido na Secretaria Municipal de Segurança Urbana, os dois colegas que estavam com o guarda no momento da perseguição foram absolvidos e puderam retornar ao trabalho.
Na noite de 25 de junho, um carro da Guarda Civil Metropolitana realizava uma ronda na região de Cidade Tiradentes quando um motoqueiro se aproximou e disse que presenciou o furto de um Chevette prata. Os agentes localizaram o carro e começaram a perseguição.
Na ação, Caio atirou no carro e uma bala atingiu o menino Waldik Gabriel Silva Chagas, no banco de trás. Os outros dois garotos que também praticaram o furto conseguiram escapar.
No velório de Biel, os jovens de 12 e 14 anos contaram à reportagem que eles só queriam “dar um rolê” com o veículo.
Vinte dias depois do crime, VEJA SÃO PAULO divulgou com exclusividade os áudios da central de telecomunicações da GCM (Cetel) em que o responsável pela comunicação com as viaturas não mandou, em nenhum momento, Caio Muratori abordar a ação.
Na época, o secretário de Segurança Urbana, Benedito Domingos Mariano, afirmou conhecer a existência do áudio. “Há uma resolução de maio de 2008 que proíbe explicitamente esse tipo de ação”, diz.
Questionado se, então, a viatura de Caio Muratori estava descumprindo uma ordem clara, Mariano responde: “Não vou falar desse caso específico, que está sob investigação. Mas vamos avaliar o comportamento da Cetel, que deve falar para os agentes não fazerem perseguições”.
Após o episódio, o prefeito Fernando Haddad editou um decreto que proíbe a guarda de atirar em veículos. Ele disse à época que a abordagem foi equivocada.
Caio Moratori foi autuado em flagrante por homicídio culposo (que ocorre sem intenção de matar), pagou 5 000 reais de fiança e responde ao crime em liberdade. O caso segue em tramitação no Tribunal de Justiça e não há previsão para o julgamento.
Após o episódio, o agora ex-GCM passou a receber ameaças de morte e precisou se mudar da casa em que morava.
Em relação à demissão de Muratori, a advogada Samara Bragantini Rodella afirma que vai recorrer da decisão, e ressalta que a secretaria já havia decidido pela demissão de seu cliente antes da abertura da sindicância. “Eles julgaram e condenaram o Caio antes mesmo da decisão judicial. Isso é um absurdo. E se ele for considerado inocente, como vai ficar?”