Prefeitura de São Paulo incentiva adoção de áreas verdes
Razão é a queda no número de patrocinadores, desanimados diante da burocracia e de casos de vandalismo
Quando o educador Alberto Martinho, paulistano de Pinheiros, chegou a Santo Amaro, em 1957, o verde ainda dominava a paisagem. Passadas mais de cinco décadas, ele dá sua contribuição para preservar os poucos espaços que restaram dessa cobertura original. O Colégio Magister, que fundou nos anos 60, gasta mensalmente 10.000 reais para fazer a manutenção de praças e canteiros no bairro. Assim, tornou-se a empresa recordista em parcerias com a Secretaria de Subprefeituras para a gestão desses espaços, com 28 acordos firmados no município. Para a missão, a escola montou uma equipe de cinco jardineiros, adquiriu um pequeno caminhão e mantém um viveiro de mudas. Como contrapartida, pode expor sua marca em plaquetas nos gramados e, assim, consolidar uma boa imagem entre a população. “Não me importo se compensa financeiramente, mas é um trabalho importante para a cidade”, afirma Martinho.
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Iniciativas como a dele, no entanto, têm se tornado menos frequentes. Dos cerca de 5.000 canteiros, praças e outras áreas verdes da metrópole, 700 tinham algum padrinho em 2010. Esse número foi caindo de forma rápida e, atualmente, há apenas 408 acordos em vigor. Entre os motivos para a redução, estão os meses de demora na aprovação das parcerias e o desânimo de patrocinadores diante de casos de vandalismo. A escassez de mantenedores faz mais falta na periferia. Enquanto Santo Amaro e Butantã são as campeãs de áreas adotadas — 88 cada uma —, não há nenhum acordo do gênero em catorze das 31 subprefeituras, a maioria em lugares mais afastados da metrópole.
Na tentativa de reverter a perda, a prefeitura lançou uma campanha para incentivar os interessados, a primeira desde 1985, quando o programa foi criado. Uma cartilha com o passo a passo da adoção está sendo distribuída e há uma versão digital do material na internet. A divulgação vem acompanhada da promessa de desburocratizar o processo. “A maioria das praças não precisa de grandes investimentos, apenas de cuidados”, diz Marcelo Bruni, assessor técnico de obras e serviços da Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras.
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Há diversas modalidades de parceria, das mais discretas às de maior impacto. Em 2008, a Editora Abril, que publica VEJA SÃO PAULO, associou-se à construtora Even, ao banco Itaú e à Petrobras para criar e manter a Praça Victor Civita em um terreno de 14.000 metros quadrados em Pinheiros onde até a década de 80 funcionava um incinerador de lixo. Além de um centro de lazer e de um museu, o local abriga hoje atividades culturais e de conscientização ambiental.
Com frequência, empresas que investem em iniciativas criam um círculo virtuoso. Foi o que aconteceu na Praça Irmãos Karmann, na Avenida Sumaré, revitalizada e cuidada pelo Hospital Samaritano há dois anos. “Os frequentadores, que jogavam muito lixo, passaram a ser bem mais cuidadosos”, conta Rafael de Oliveira, zelador do pedaço. Na Praça Adolpho Bloch, nos Jardins, adotada pelo Grupo Pão de Açúcar, as atrações são os exemplares de paubrasil, quaresmeiras e um pé de manga, que formam um recanto de tranquilidade no cruzamento das movimentadas Avenida Brasil e Rua Colômbia. Egnaldo Santos, que cuida dela há cinco anos, leva mudas não utilizadas para plantar em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, onde mora. “O bairro lá também está ficando mais bonito”, comenta com orgulho.
COMO SE TORNAR UM PADRINHO
1. É preciso elaborar uma carta de intenção com proposta para manutenção ou melhorias do local. Os modelos podem ser retirados nas subprefeituras ou no site, onde também há a lista de documentos necessários.
2. A análise dos pedidos leva, em média, três meses. Os aprovados são chamados para assinar um contrato que pode durar de um a três anos.
3. O “pai adotivo” arca com os custos de manutenção e pode receber consultoria técnica da subprefeitura.
4. Como contrapartida, o administrador ganha o direito de incluir nas áreas verdes placas expondo sua marca.