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Pets: a cidade cada vez mais deles

Os 2,5 milhões de bichos de estimação que vivem em São Paulo têm 4 500 pet shops à disposição e movimentam 3,6 bilhões de reais por ano

Por Daniel Salles, Giovana Romani e João Batista Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h07 - Publicado em 19 out 2009, 15h38

Frequentar uma creche com monitoramento pela internet, ser credenciado por um plano de saúde, ter um terno risca de giz feito sob medida ou se hospedar sozinho em um hotel-fazenda. Atividades até então restritas aos humanos e inimagináveis a seres de quatro patas agora dinamizam o mercado de produtos, serviços e paparicos para animais de estimação. Os 2,1 milhões de cachorros e os 450 000 gatos domésticos da cidade movimentaram 3,6 bilhões de reais em 2008, soma que corresponde a 40% do mercado nacional. Estima-se que só o setor de medicamentos veterinários para pets fature cerca de 100 milhões de reais por ano na capital.

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“São Paulo funciona como uma espécie de laboratório para novos negócios”, avalia José Edson Galvão de França, diretor executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfal Pet). Isso porque 75% dos animais que vivem por aqui moram em apartamento e consomem apenas produtos industrializados. “Domesticados em uma cidade onde ver e ser visto é um hábito, eles ganharam status de gente.” É o que indica também a pesquisa Radar Pet, realizada pela Comissão de Animais de Companhia (Comac), com 1 307 pessoas de oito metrópoles e divulgada em julho. Em 23% dos lares paulistanos, por exemplo, os bichos são levados a consultas veterinárias periódicas. Nos outros 77%, a ida ao especialista tem caráter emergencial.

Com suas mascotes alçadas à condição de membros da família, alguns donos não medem esforços para tratá-las como tal. “Viver em apartamento, ter menos filhos e estar sempre conectado ao mundo virtual leva a carência de contato físico”, diz Hannelore Fuchs, psicóloga e veterinária. Além de aplacarem a solidão, cães e gatos acabam virando “filhos”. Hoje, podem ser encontrados carrinhos especiais para transportá-los, iguais aos dos bebês, por 1 800 reais. Dormir na mesma cama, dar a mesma alimentação e usar as mesmas marcas de roupa, porém, são sinais de que a relação ultrapassou os limites.

A imposição de regras é fundamental para manter uma convivência harmoniosa com os bichos. “Eles precisam respeitar o espaço e a hierarquia da casa”, explica Mauro Lantzman, veterinário especialista em comportamento animal. O apego excessivo aos pets costuma dar origem a preconceitos. Quem não tem bicho muitas vezes condena aqueles que pagam 420 reais por um suéter Ralph Lauren para um cachorro. “Esses mimos são normais se não atrapalham o bem-estar do animal”, afirma Lantzman. “Mas colocar sapatinhos ou passar perfume vai contra a própria natureza.” Em razão dos poodles Snow Flake e Chockito e do bichon frisé Cotton, a empresária Deborah Pascoal mudou a decoração de seu apartamento, em Moema. Mandou fazer uma rampa de madeira acarpetada para eles não terem de pular para subir e descer da cama dela, onde dormem. “Evita que machuquem as articulações”, justifica. Deborah ainda reservou duas portas de seu guarda-roupa para a vestimenta dos totós, que ficam bravos quando ela retorna tarde do trabalho. “Às vezes, fazem xixi no sofá como vingança.”

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Para se aproximarem de seu público-alvo, os empresários Dinho Diniz e Renata Scarpa mudaram uma das unidades da loja Au Pet Store da Avenida Faria Lima para a Alameda Lorena, nos Jardins. Com inauguração prevista para esta segunda (19), o negócio teve investimento de 1,5 milhão de reais. Nas prateleiras, há até colares de diamantes. Expostas em um viveiro, duas araras-azuis serão responsáveis por receber os visitantes. O par estará à venda por 300 000 reais. Você leu certo: 150 000 reais cada uma. Os sócios mantiveram a matriz na Avenida Europa e esperam faturar 600 000 reais mensais com as duas lojas. “Nosso foco é o cliente das classes A e B”, conta Diniz. Renata prefere lançar mão de uma comparação. “Enquanto as outras grandes lojas são estilo C&A, nós somos como a Daslu.” No caso, ela se refere às duas maiores redes de pet shops da cidade: a Cobasi, com seis lojas, e o Pet Center Marginal, com três.

Ambas são verdadeiros supermercados para animais de estimação e têm cerca de 20 000 itens disponíveis em suas prateleiras. Não à toa, travam uma batalha osso a osso para abocanhar consumidores. A matriz do Pet Center, na Marginal Tietê, recebe 12 000 visitantes por fim de semana e funciona 24 horas. “Crescemos 30% ao ano”, afirma Sérgio Zimerman, diretor-geral da empresa. Trata-se de um índice expressivo comparado à média do setor, de 7% ao ano. “Procuramos nos diferenciar pela qualidade do atendimento e pela variedade dos nossos serviços.” Ao contrário da lógica de outras áreas, no mercado pet nem sempre aquele que tem o menor preço leva a melhor. “O consumidor é guiado pela relação de afeto com seu animal e não pelo valor do produto”, explica Daniela Bochi, supervisora de marketing da Cobasi. “Independentemente da classe social, o dono gasta quanto pode para dar o melhor a seu companheiro.”

A principal loja da rede, na Vila Leopoldina, tem um público predominantemente formado por famílias, na maioria das vezes acompanhadas de seus cães. Uma vez por mês, a veterinária Carla Holms, de 27 anos, vai lá, sempre com sua golden retriever, Blonde. A cada visita, gasta 300 reais em ração e petiscos. Nascida em Santos, Carla mudou-se para São Paulo em 2005. Sentia-se muito sozinha até comprar a cachorra, há dois anos. “Não tinha nem vontade de voltar para casa”, lembra. “Agora somos grandes companheiras.” Elas moram em um apartamento de 70 metros quadrados, no Butantã, e caminham durante uma hora todas as manhãs na Cidade Universitária.

Os produtos que abarrotam as prateleiras das lojas especializadas são lançados em grandes feiras. Maior evento do gênero no país, a Pet South America teve sua oitava edição realizada em julho no Transamérica Expo Center, em Santo Amaro. Passaram por lá 37 000 pessoas vindas de 114 países para conhecer as novidades das 260 marcas expositoras. “Esse sucesso reflete a estabilidade do mercado”, analisa a executiva Ligia Amorim, diretora da empresa organizadora da feira. Os pets têm espaço garantido inclusive em meio às letras: na Livraria Cultura existem cerca de 2 000 títulos sobre o assunto. “O número de pessoas que percebem como os cães e gatos podem ser bons companheiros cresce a cada dia”, afirma a jornalista Fátima Chuecco, autora do Mi-Au Book, repleto de fotos de animais de todo o país. “Com isso, o respeito pelas demais espécies aumenta.” E os gastos também, claro. A bicharada está mesmo com tudo.

MUITO CARINHO, MUITOS GASTOS

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A estudante de administração Ester Menegazzo comprou recentemente Donatela, filhote de lulu-da-pomerânia.

Confira quanto ela gastou (em reais) no primeiro mês ao lado da cachorrinha

Filhote de lulu-da-pomerânia 3 100,00

Ração 109,00

Petiscos 61,90

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Cama 160,00

Coleira 40,00

Brinquedinhos 50,00

Banhos 200,00

Xampu 39,00

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Condicionador 39,00

Perfume 89,00

Lenços umedecidos 39,00

Escovas de dentes descartáveis 39,60

Pasta de dentes 59,00

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Tapetes higiênicos 149,50

Pote de comida 39,00

Bebedouro 39,00

Medicamentos 215,00

Desinfetante bactericida

para a casa 27,00

Total: 4 495,00

E ela ainda pretende comprar

Guia 59,00

Caixa de transporte 395,00

Carrinho 1 800,00

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