Pesquisadores identificam duas plantas consideradas extintas em SP
Espécies foram encontradas durante expedição no Parque Estadual de Lagamar, em Cananeia
No Litoral Sul de São Paulo, o Parque Estadual Lagamar de Cananeia é um santuário que preserva grandes parcelas de vegetação natural da Mata Atlântica. Nessa unidade de conservação, que possui tamanho equivalente a quase 4 000 campos de futebol, um grupo de pesquisadores descobriu duas espécies de plantas nativas consideradas em extinção no estado. “A equipe tinha o objetivo de coletar informações para o Plano de Manejo, que é o principal instrumento de gestão das unidades de conservação”, explica a pesquisadora Cíntia Kameyama, do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), que integrou o estudo.
O trabalho em campo, que ocorreu em 2019, resultou na coleta das espécies Myrcia loranthifolia, da família da jabuticaba e da pitanga, e Peperomia diaphanoides, um tipo de erva que costuma viver em cima de árvores de alto porte. Ambas estavam em uma área preservada de restinga, ecossistema litorâneo. “A Peperomia diaphanoides é bem pequena e estava sobre o tronco de outra planta. Por isso, foi preciso um escalador de árvores para alcançá-la”, conta Claudio de Moura do IPA, que realizou a coleta de dados.
O estudo mapeou 540 espécies de plantas vasculares, que possuem raízes e vasos condutores de seiva. Dentre elas, vinte estão presentes em listas de espécies ameaçadas, nas categorias em perigo, vulnerável e criticamente em perigo. “É uma classificação internacional que foi adaptada para a publicação da Lista Oficial das Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção no Estado de São Paulo, em 2004. Ela precisa de revisões periódicas, porque a definição de grau de risco depende do registro ao longo dos anos”, explica Claudio.
Com a descoberta, publicada em junho, o grau de risco da Myrcia loranthifolia, que teve coletas recentes em outras áreas paulistas, deve ser revisto. “O estudo demonstra o nível de desconhecimento que ainda existe sobre a nossa flora. E a importância da pesquisa e dos Planos de Manejo. Devem existir outras espécies a ser reclassificadas”, afirma o pesquisador. Em meio a tantas notícias de maus-tratos ambientais, trata-se de um alento.
Publicado em VEJA São Paulo de 18 de outubro de 2024, edição nº 2915