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‘Pensavam que havia droga no avião’, diz servidor de Guiné Equatorial

Após ter sua mala de dinheiro e relógios apreendidos pela Receita Federal, o vice-presidente do país africano foi liberado para seguir viagem para SP

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 16 set 2018, 16h30 - Publicado em 16 set 2018, 16h20
Mala com dinheiro da comitiva  (Reprodução Polícia Federal/Veja SP)
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Após ter sua mala de dinheiro e seus relógios apreendidos pela Receita Federal no aeroporto de Viracopos (SP), na última sexta-feira (14), o vice-presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Nguema Obiang, foi liberado para seguir viagem para a capital paulista com 10 000 reais em espécie para ele e toda a comitiva. Foi o que relatou o primeiro-secretário da Embaixada da Guiné Equatorial no Brasil, Leminio Akuben, em uma conversa exclusiva por telefone. O episódio da apreensão foi revelado no site do Estadão na tarde de sábado (15). Seguem os principais trechos:

É verdade que a Receita apreendeu 1,5 milhão de dólares em dinheiro e uma grande quantidade de relógios trazidos pelo vice-presidente?

Efetivamente, sucedeu isso. Tínhamos autorização diplomática, avisamos que o vice-presidente chegaria. Há um artigo da Convenção de Viena que diz que sempre que viaja um dignitário, sua bagagem pessoal não é verificada. 

O que deu errado?

Chegamos ao aeroporto, a Polícia Federal nos acompanhou para receber o vice-presidente, o que fizemos com toda tranquilidade. Nos conduziram para a porta doméstica, onde o vice-presidente ia pegar um helicóptero para São Paulo. Naquele momento, fomos agredidos. Disseram que a maleta do vice-presidente teria de voltar para passar por uma inspeção aduaneira. Ficamos confusos, porque nunca foi assim. O vice-presidente ficou no carro e nós voltamos para a aduana. 

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Chegando lá, o que aconteceu?

Falei para eles que o vice-presidente tem isenção de abrir as malas e passar por inspeção. Liguei para o Itamaraty, e o Itamaraty enviou um documento urgentíssimo para que a Receita pudesse liberar o vice-presidente (essa informação é desmentida por fontes do ministério). Mas o documento foi prontamente denegado pelas autoridades aeroportuárias. Disseram que teríamos de abrir a mala.

Qual foi sua reação?

Pedi para não abrirem com força. Então me deram um minuto para abri-la, do contrário iriam pegá-la e rompê-la à força. Fiquei com muito medo. Eles estavam armados. Fui correndo rapidinho até o vice-presidente, acompanhado por dois policiais, quase como um preso. Pedi um minuto para explicar a situação ao vice-presidente. Ele ficou muito nervoso e me entregou a chave.

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E encontraram o dinheiro e os relógios. Por que trazer essa quantidade em espécie?

O vice-presidente viria a Brasília para um atendimento médico e depois iria para Cingapura em missão oficial. Os relógios são todos usados. Todos têm as iniciais T.N.O, Teodoro Nguema Obiang. Eles prenderam tudo e me deram recibos. Depois disso, me deram um tratamento normal. Acalmaram-se.

E o vice-presidente?

Ficou no aeroporto até as 17 horas, depois foi liberado. Nós, da comitiva, fomos conduzidos a outra parte do aeroporto para sermos interrogados um a um pela Polícia Federal. Saímos de lá às quatro da manhã.

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É verdade que eles ficaram perguntando sobre droga?

Pensavam que havia droga no avião. Mas não havia sequer indícios. Graças a Deus, porque o vice-presidente não usa droga. São informações falsas que o Ocidente fala, mas ele não usa nada disso.

O que aconteceu após os interrogatórios?

Nos deram 10 000 reais, que é o único valor que o vice-presidente poderia trazer ao Brasil. Mas, por exemplo: onde moramos, R$ 10 mil não dá para pagar nem um minuto. Tentei explicar que ele mora em um hotel de luxo porque é um vice-presidente. 

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E agora?

Estamos numa situação muito difícil, porque não temos nem como fazer depósito no hotel. Se não fôssemos bons clientes, estaríamos morando na rua. Com 10 000 reais, você sabe São Paulo é uma cidade imensa. Uma comitiva não pode viver com R$ 10 mil.

Ah, o dinheiro era para ele e para a comitiva.

Sim. Propus que liberassem o dinheiro, porque é do Estado. E tem pessoas a quem o dinheiro lhes corresponde. Não é todo do vice-presidente. É um dinheiro de Estado para os serviços que vai fazer depois do Brasil. 

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Vocês não usam cartão de crédito?

Tenho meu cartão de crédito. Não sei explicar se o vice-presidente tem ou não. 

Do ponto de vista formal, existe alguma providência que a embaixada vá tomar, por causa da revista das malas?

Vamos reiterar que devolvam as coisas ao vice-presidente. E, como diplomatas, vamos tomar providências junto ao Ministério das Relações Exteriores.

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