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Pedestre tem que correr para atravessar a rua

VEJA SÃO PAULO testou dez cruzamentos para ver se é possível atravessá-los com facilidade. Em oito, quem não sai no pique fica para trás

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h26 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Quem disse que é preciso esperar a largada da Corrida de São Silvestre, no dia 31, para ver gente correndo na Avenida Paulista? Toda vez que tentam atravessá-la, 1,5 milhão de pedestres que circulam por ali diariamente têm de apressar o passo. E haja fôlego! Eles precisam cruzá-la a 12 quilômetros por hora – três vezes a velocidade média de uma caminhada. Dispõem de apenas nove segundos para ir de uma calçada a outra. Essa é a realidade de quem enfrenta o cruzamento da Paulista com a Alameda Joaquim Eugênio de Lima, por exemplo. O outro lado da avenida ainda está longe quando o vermelho começa a piscar, avisando que o tempo acabou. “Essa correria é difícil para idosos como eu”, diz a aposentada Domitila Faria, de 80 anos. Moradora da Alameda Santos, ela quase sempre tem de esperar, no canteiro central, longos dois minutos e cinqüenta segundos até o verde abrir novamente. Para atravessar de uma só vez e com segurança, seriam necessários trinta segundos, 21 a mais que o programado hoje.

A travessia da Paulista não é a única a exigir pique de atleta dos que andam a pé. Nos últimos dias 3 e 4, Veja São Paulo observou e cronometrou o tempo de abertura dos semáforos de pedestre de dez cruzamentos espalhados pela cidade. Indicados por especialistas, esses locais costumam receber grande fluxo de pessoas todos os dias. São também perigosos. No ano passado, foram palco de 21 atropelamentos. Em oito desses cruzamentos, o tempo de verde destinado às pessoas é insuficiente para atravessar as vias com segurança. O semáforo da Paulista na altura da Joaquim Eugênio de Lima, local de quatro atropelamentos em 2006, é o mais crítico. “As medições provam que somos cidadãos de segunda classe em São Paulo, preteridos pelo carro”, afirma o engenheiro Horácio Figueira, vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres (sim, ela existe), consultor da avaliação. O tempo mínimo de verde necessário foi calculado com base na velocidade média de 4 quilômetros por hora. Equivalente a uma caminhada leve, esse ritmo atende a todas as idades, do idoso ao jovem.

Foi computado o tempo para atravessar, sem direito a paradas no meio. Na maioria das vezes, porém, isso é impossível. No cruzamento das ruas da Consolação e Caio Prado, o semáforo de pedestre no sentido da Avenida Doutor Arnaldo fica aberto só onze segundos. É preciso correr a 10 quilômetros por hora para completar a travessia de uma só vez. Caso contrário, espera-se dois minutos e vinte segundos no canteiro central. “Morro de medo porque já vi vários atropelamentos por aqui”, conta a estudante do Mackenzie Talita Nantes, 22 anos, que passa por lá todo dia. No cruzamento da Avenida Brás Leme com a Rua Voluntários da Pátria, na Zona Norte, a espera é recorde: três minutos e quarenta segundos até o próximo verde. “Impaciente, o transeunte acaba se arriscando em meio aos carros e se expõe a acidentes”, explica o engenheiro de tráfego Alexandre Zum Winkel, especialista em sinalização. De nada adianta aproveitar o vermelho piscante para concluir a travessia. Padronizado em cerca de quatro segundos para todos os semáforos, o tempo não é suficiente para alcançar o outro lado da calçada. “Como raramente há um intervalo de segurança entre o vermelho do pedestre e o verde para os veículos, isso acaba colocando o pedestre na linha de fogo”, diz Figueira.

A CET admite que o tempo de verde nem sempre é suficiente. No ano passado, técnicos revisaram 430 semáforos de pedestre, dos quais 215 ganharam um ou dois segundos a mais de abertura. Ainda é pouco diante de um total de 2?200 sinalizadores. “É difícil fazer essa alteração sem prejudicar o tráfego”, afirma o coordenador do Departamento de Controle de Semáforos da CET, João Cucci Neto. A partir de 2008, o presidente da CET, Roberto Scaringella, promete colocar a segurança do pedestre, e do motorista, no topo da lista de prioridades. “Faremos isso mesmo que a fluidez fique um pouco comprometida.” O objetivo é reduzir a assombrosa estatística de duas mortes diárias por atropelamento. Estão previstas desde a alteração do tempo de semáforo até mudanças na fiscalização (veja o quadro abaixo). “Ainda que tardias, as atitudes são bem-vindas”, diz o engenheiro Figueira.

Pacote antiatropelamento

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Até o primeiro semestre de 2008, a CET promete implantar medidas de segurança para quem anda a pé pela cidade. Confira algumas delas

Mudança de faixas de pedestre na Avenida Paulista

Em todos os cruzamentos, elas sairão das esquinas e serão deslocadas 30 metros para dentro do quarteirão. O tempo de verde para os transeuntes deve aumentar dos atuais nove segundos para trinta. O cruzamento com a Avenida Brigadeiro Luís Antônio estreará a novidade

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Novos semáforos com contagem regressiva

O pedestre saberá quanto tempo de verde lhe resta para atravessar e poderá se programar melhor. Serão 160 novos semáforos, vinte deles na região central e os outros 140 na Avenida Paulista

Multas para os que colocam o pedestre em risco

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Veículos que costumam avançar a faixa de pedestre, mudar de faixa ou virar sem dar seta passarão a ser multados com mais rigor pelos 2 000 marronzinhos da CET

Mapa de risco dos acidentes

Estarão marcadas as doze vias que registraram, no ano passado, seis ou mais atropelamentos fatais. No topo da lista está a Marginal Tietê, com 24 mortes.

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