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A rotina e os desafios dos paulistanos que não deixam SP parar

Enquanto autoridades de saúde e discussões políticas dominam o noticiário, cidadãos anônimos se desdobram para manter a cidade funcionando na pandemia

Por Pedro Carvalho, Humberto Abdo e Guilherme Queiroz
Atualizado em 27 Maio 2024, 18h22 - Publicado em 24 abr 2020, 06h00
Responsáveis por segurança, mercado, reciclagem, álcool em gel e iluminação de São Paulo: peças fundamentais da metrópole (Alexandre Battibugli, Marcelo Justo, Renato Pizzutto e Rogerio Pallatta/Veja SP)
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Enquanto parte dos paulistanos fica em casa durante a quarentena, alguns profissionais da cidade se viram subitamente diante de um enorme desafio com a chegada da Covid-19. O pessoal da área médica em primeiro lugar, é claro, mas não só esse grupo. Quão indispensável a internet se tornou nos lares de São Paulo nas últimas semanas? E a luz ou a coleta de lixo? De uma só vez, esses serviços se converteram em artigos essenciais, a demanda por eles disparou e as equipes responsáveis foram reduzidas para afastar quem pertence a grupos de risco da doença.

A tempestade perfeita não atinge somente os serviços utilitários, como a iluminação, o transporte e a segurança pública — o que não seria pouco. Negócios como supermercados e aplicativos de entrega, ou mesmo pequenos fabricantes de álcool em gel e cestas básicas, também passaram a ser peças-chave da capital, ao mesmo tempo que tiveram o funcionamento abalado pelas restrições atuais.

São as “atividades essenciais”, assim chamadas nos decretos de quarentena que vigoram na capital até pelo menos 10 de maio. A regra vale para supermercados, coleta de lixo, iluminação pública e outros serviços mostrados na reportagem. Não são os únicos que estão abertos — a liberação inclui ainda postos de gasolina, pet shops, lojas de construção, bancas de revistas e uma lista de setores definida pelo governo estadual e ampliada pela prefeitura, que liberou também call centers, lavanderias, hotéis e outras empresas. As listas estão nos sites dessas administrações públicas.

As histórias das pessoas à frente desses serviços ajudam a entender a complexidade da quarentena paulistana. A seguir, você conhecerá alguns desses cidadãos indispensáveis (e anônimos). Verá que eles têm vivido dias difíceis e momentos gratificantes. Se a pressão aumentou, igualmente se multiplicaram os gestos de reconhecimento da população. Se ficou impossível manter uma vida normal em casa, esses trabalhadores se nutrem das pequenas vitórias diárias nas ruas.

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(Alexandre Battibugli/Veja SP)

Desde que a Covid-19 chegou a São Paulo, as 25 cooperativas de reciclagem que prestam serviços à prefeitura pararam de funcionar, para não expor os recicladores à doença. Por consequência, as duas megacentrais mecanizadas da cidade — onde os funcionários não têm contato com os resíduos — ficaram sobrecarregadas. Elas recebiam 100 toneladas de lixo por dia, agora processam até 180. Para complicar, só um terço dos recicladores está na ativa, para preservar quem pertence a grupos de risco — há 1 006 catadores inativos hoje nas cooperativas.

À frente desse tremendo desafio está Telines Basílio, 55 — que os colegas chamam de Carioca. “Não me considero mais carioca”, ele diz, com o sotaque de Nova Iguaçu (RJ). “Moro há 32 anos em São Paulo, sou um cidadão paulistano.” Telines é presidente da cooperativa que faz a gestão das duas megacentrais (uma na Ponte Pequena, outra próxima a Interlagos), a Coopercaps.

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“A gente precisou reduzir a qualidade do material que é vendido”, ele admite. Para explicar, Carioca aponta um fardo de embalagens plásticas — logotipos conhecidos de amaciantes e desinfetantes estão retorcidos nas faces do cubo colorido. “Ali, por exemplo, era para ter apenas plástico. Se você reparar bem, há um pouco de papel”, ele diz. “Também tem sido impossível deixar os materiais totalmente limpos.”

São detalhes irrelevantes ante a importância das megacentrais na quarentena. Primeiro, porque o volume de lixo doméstico aumentou. Com os paulistanos em casa (e os restaurantes fechados), a quantidade de resíduos recicláveis das casas e apartamentos cresceu 14% em março. Além disso, o dinheiro das vendas tem garantido uma renda de 1 200 reais aos catadores inativos. “As famílias já receberam o primeiro pagamento”, conta.

Telines tem acordado às 4h30 e dormido por volta da meia-noite. Além de se dedicar ao trabalho, ele participa de vinte grupos de WhatsApp de catadores, para organizar ajudas pontuais. Mas é acostumado a desafios. Ex-dependente de drogas, chegou a morar nas ruas em São Paulo, nas regiões do centro e do Cambuci. Livre da cocaína há 21 anos, formou-se em gestão ambiental, fez pós-graduação e viajou o mundo para falar sobre reciclagem. “Tem muita história de superação e cidadania entre os catadores”, afirma. “Neste momento, eles formaram uma grande rede de solidariedade. É algo lindo.”

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(Rogério Pallatta/Veja SP)

 

 

As iniciativas solidárias se multiplicam na pandemia. Apenas o grupo UniãoSP, idealizado pelos empresários Eduardo Mufarej (RenovaBR) e Geyze e Ana Maria Diniz (Penínsu- la, de Abílio Diniz), doou 120 000 cestas básicas no Estado de São Paulo desde o início da quarentena. É um alívio para quem recebe, mas um sufoco para quem providencia os itens. “A gente fazia 110 000 cestas por mês. Em abril, vamos vender 250 000”, diz Fernanda Santos, 27, responsável pelos pedidos da Nostra Mamma, empresa familiar de Cotia, na Grande São Paulo — que forneceu 25 000 cestas ao União SP. “A gente contratou 44 pessoas (eram sessenta) e montou uma segunda linha de produção.”

Os alimentos não estão em falta para as cestas, mas a empresa passa a lidar com atrasos. “Nós compramos da indústria. A demanda para elas está maior, pela alta nas vendas nos merca- dos. Ainda não falta comida, mas os pedidos já começam a atrasar”, explica Fernanda. Na outra ponta, quem compra não quer esperar. “Os doadores precisam das cestas ‘para ontem’. Mas, antes, pediam dez ou vinte cestas. Agora são 10 000”, afirma.

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“É desafiador, trabalho o tempo todo. Tenho uma filha de 4 anos que requer atenção. Fiz aniversário neste mês e chorei muito por não poder abraçar ninguém”, conta.

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(Alexandre Battibugli/Veja SP)

No início de abril, a comunidade da Vila São Pedro, um morro alto e coberto de casas sem acabamento em São Bernardo do Campo, ficou sem luz. Um religador automático — equipamento que reorganiza o abastecimento quando uma fonte falha — pifado deixou 2 300 moradores no escuro em plena quarentena. Bruno Rauseo, 35, chegou ao local com sua equipe de dois eletricistas no início da tarde. Durante 35 minutos, a vizinhança acompanhou o conserto pelas janelas das casas. Quando a luz voltou, o morro todo aplaudiu os funcionários. “As pessoas gritavam ‘heróis, heróis’”, ele relembra.

Há dezesseis anos Rauseo faz reparos na rede elétrica de São Paulo e da região metropolitana. Trabalhou na função na época da Eletropaulo e da AES e agora é supervisor operacional de emergências da Enel, onde comanda uma equipe de 34 pessoas. Nunca viveu tempos assim. “O nível de stress aumentou muito, qualquer reparo é urgente. A população não pode ficar presa em casa sem energia”, ele diz.

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São Paulo tem uma média de 700 emergências por dia na rede elétrica. O volume não mudou na pandemia. O que mudou, como aponta Rauseo, é a urgência. Para complicar, 30% dos funcionários foram colocados em “quarentena preventiva”, para substituírem afastamentos na empresa. “Não posso perder equipe, então criei esse grupo de reserva, que muda a cada catorze dias”, explica Vinicyus Lima, 40, gerente de operações na Enel. Para compensar o desfalque, a companhia interrompeu as manutenções não emergenciais e as ações contra fraudes. Esses times foram deslocados para o setor de emergências, que foi ampliado de 220 para 360 pessoas. Assim, o tempo médio de atendimento caiu 30% e o total de tempo sem luz dos moradores passou de sete horas/ano para 5,8, na comparação entre março de 2020 e o mesmo mês do ano passado. “Estamos focados apenas no atendimento emergencial”, diz Lima.

Na linha de frente dessa missão, Rauseo tem vivido uma série de situações inusitadas como aquela da Vila São Pedro, no início do texto. “Agora, é normal os moradores dos prédios acompanharem nosso trabalho pela varanda”, ele conta. “Às vezes, parece que estamos trabalhando com torcida, em um estádio de futebol”, diz. “Quando o serviço acaba, normalmente eles aplaudem. Mas logo correm para dentro de casa. Vão carregar o celular.”

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(Alexandre Battibugli/Veja SP)

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública alerta: os atendimentos a mulheres vítimas de violência aumentaram 44,9% durante a quarentena no Estado de São Paulo. Os socorros da Polícia Militar passaram de 6 775 para 9 817 na comparação entre março de 2019 e março de 2020. A quantidade de feminicídios subiu de treze para dezenove casos.

Para ajudar as mulheres confinadas em casa, o sistema de BOs eletrônicos teve uma adaptação emergencial. Antes, ele só servia para doze tipos de ocorrência. Agora, registra quase todos os crimes do Código Penal, incluindo violência doméstica e de gênero. “A vítima pode solicitar uma medida protetiva”, explica a delegada Jamila Ferrari, coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher do estado. “Na quarentena, as mulheres provavelmente estão em casa com os agressores. As equipes sabem disso e terão cuidados. Não vão telefonar para a residência ou chegar com uma viatura identificada”, diz.

“Mesmo no isolamento, as visitas periódicas a mulheres que tenham medidas protetivas não foram interrompidas”, completa Lúcia da Silva, subinspetora do programa Guardiã Maria da Penha. “No último mês, muitas pediram que retirássemos os pertences das casas onde viviam”, conta.

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(Alexandre Battibugli/Veja SP)

A primeira reunião de Rafaela Provensi, 35, é sempre às 9 da manhã. Fala com quatro gerentes da Rappi, que depois repassam as orientações a seu time de cinquenta pessoas. Diretora de experiência do consumidor, ela resolve os problemas resultantes da explosão de pedidos de delivery na quarentena. “Chegamos a ter fila de sete dias para a entrega. Agora, em 85% dos supermercados entregamos no mesmo dia.” A marca aumentou em 300% a quantidade de “shoppers” (quem pega os produtos) e em 280% o de entregadores — a empresa não revela os números absolutos. Rafaela faz ainda outras três reuniões diárias com os gerentes e uma semanal com a equipe toda. Ela cria o filho de 4 anos sozinha e agora precisa deixá-­lo com os avós enquanto trabalha.

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(Marcelo Justo/Veja SP)

“Era horário de pico, tinha uma fila de dez pessoas esperando a vez para entrar no supermercado”, conta Adriana Brasil, 40, gerente-geral da primeira loja do Pão de Açúcar em São Paulo, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Naquele dia, ela resolveu se dirigir à porta de entrada para ajudar a organizar o fluxo. “A gente costuma dar prioridade a idosos e gestantes. Mas percebi que tinha uma jovem muito nervosa, com as mãos suadas”, ela diz. “Perguntei se poderia ajudar. Ela falou que estava em choque. Morava com os avós e era a primeira vez que saía de casa na quarentena.” Adriana se ofereceu para fazer as compras. Pegou a lista pelo WhatsApp e organizou a entrega em domicílio. “À noite, recebi uma ligação do exterior. Era a mãe da jovem. Estava nos Estados Unidos e não conseguia voltar para o Brasil. Disse que eu tinha evitado uma crise de pânico.”

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O dia a dia de Adriana está tão atribulado que ela só teve quinze minutos para a entrevista. Além de limitar a entrada (naquela unidade, agora só circulam sessenta clientes por vez), o supermercado passou a higienizar carrinhos e maquininhas de pagamento, instalou proteções de acrílico para isolar a equipe dos caixas e duplicou o time de vendas on-line. “Por outro lado, precisei afastar 25 dos 250 funcionários da loja, por serem de grupos de risco da Covid-19”, ela diz. A empresa contratou 5 000 pessoas no país para lidar com as contingências da pandemia.

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(Marcelo Justo/Veja SP)

Em um dia normal, 3,7 milhões de pessoas usavam o metrô de São Paulo. Agora, na quarentena, são 600 000, uma diminuição de 80%. “Existem uma tristeza e uma saudade envolvidas nisso tudo”, lamenta Marcelo Favarello, 53, supervisor operacional responsável pelas linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata.

Mesmo quase sem passageiros, o serviço precisa seguir em funcionamento — e com precauções extras. As linhas mantêm cerca de 70% da circulação de trens, a depender do horário. O Metrô passou a supervisionar a lotação dos vagões (o limite, agora, é de dois passageiros por metro quadrado). Se um vagão estiver prestes a ficar lotado, um alerta sonoro pede que os usuários na plataforma aguardem a próxima composição. O Metrô, que tem 8 500 funcionários, também desenvolveu um aplicativo interno que calcula as médias de fluxo em diferentes horários.

A limpeza precisou ser adequada à pandemia. Antes, os vagões ganhavam uma faxina no fim do dia. Agora, são higienizados toda vez que os trens chegam às estações finais. Para darem conta do serviço, funcionários que limpavam as áreas internas foram remanejados para os trens e estações. Com isso, houve um reforço de 45% nas equipes desses locais.

No quadro geral, 30% dos funcionários do Metrô foram afastados por estar em grupos de risco da Covid-19. Quem ficou, como Marcelo, precisa dar conta da operação atípica. Mas os times abraçaram a causa. “A nossa equipe estava em um momento de reivindicações, questionando a carga horária, os adicionais… Agora, abandonamos essas questões. Passamos a remar no mesmo sentido, trabalhando mais e sem ganhar hora extra, para fazer o metrô continuar fluindo na cidade”, afirma.

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Fernando Sávio, da TIM: sem máscara apenas para a foto (Rogério Pallatta/Veja SP)

“Você sai na rua e parece que o mundo parou. Ao mesmo tempo, nossa rede está sendo superexigida”, diz Fernando Sávio, 49, responsável pelos equipamentos que transmitem o sinal de internet para os 15 milhões de celulares da Tim no estado.

A infinidade de lives e de videochamadas da quarentena fez o volume de dados que passa por esses aparelhos aumentar. Mas o principal desafio no momento é outro: esse fluxo de bits e bytes mudou de lugar. “As pessoas foram deslocadas (das regiões em que acessavam a rede)”, diz o engenheiro. Nas áreas empresariais, como as avenidas Paulista e Luís Carlos Berrini, o tráfego caiu de 30% a 40%. Nas regiões periféricas, cresceu entre 10% e 20%. “Essa mudança é o fator que mais tem pressionado a rede”, ele afirma. A vistoria das instalações próximas a hospitais, delegacias e grandes condomínios também se tornou prioritária.

Outra coisa que mudou de lugar é a rotina de Sávio. Antes, o engenheiro passava a maior parte do tempo no escritório da empresa, na Avenida Giovanni Gronchi, na Zona Sul. Agora, ele se divide entre a própria casa, na Vila Andrade, e as antenas da operadora — são 1 462 equipamentos de 4G na capital. “Faço vistorias de manutenção preventiva”, conta. Na última semana, ele acompanhou equipes em três pontos do Morumbi. O sinal dessas antenas alcançava a Primeira Companhia do 16º Batalhão da PM e o Instituto de Reabilitação Lucy Montoro, voltado para o atendimento de deficientes físicos.

“O desafio é montar um processo para que nossa atividade não seja afetada pela falta de contato pessoal entre os funcionários”, diz o engenheiro, que trabalha há dezenove anos na empresa e participou da implantação da rede móvel, em 2001. “Nossos técnicos têm trabalhado ininterruptamente”, afirma.

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Karina (atrás) e a sócia Adriana Gimenez: filas pelo álcool em gel (Rogério Pallatta/Veja SP)

“Tenho recebido cerca de 1 000 e-mails por dia. Não consigo mais atender o telefone: as linhas estão completamente congestionadas”, diz Karina Nonato, 33, gerente de administração e vendas de uma fábrica de produtos de limpeza em São Caetano do Sul, no ABC. A Proervas, empresa familiar, da noite para o dia descobriu que guardava no seu estoque o ouro da pandemia: álcool em gel. Antes do novo coronavírus, as vendas não passavam de 10 toneladas por mês. Agora, ficam entre 80 e 150 toneladas. “Temos fila de espera de 250 clientes.”

A linha de produção, por ser automatizada, contava apenas com oito funcionários. A equipe dobrou de tamanho nas últimas semanas. Entre os clientes, estão hospitais do ABC e as polícias Civil e Militar, além de revendedores em outros estados.

Quando os primeiros casos apareceram no país, em fevereiro, o carbopol (produto que dá viscosidade ao álcool em gel) ficou escasso e, obviamente, caro. “A caixa com 22 quilos, que custava 2 000 reais, chegou a 10 000 reais”, diz Karina. O químico vem de países como China e Índia. “Naquele momento, priorizamos os clientes mais antigos.”

A fábrica tem uma loja anexa, que vende itens para o público final. No dia 18 de março, por acaso o aniversário de Karina, a empresa disponibilizou o álcool a preço de custo, devido à escassez nas farmácias da região. “São Caetano tem muitos idosos”, ela conta. “Formou-se uma fila de mais de 1 000 clientes, o produto esgotou-se rapidamente. Depois as pessoas começaram a bater na porta pedindo mais álcool. Naquele dia, cheguei à empresa às 7 da manhã e fui embora à meia-noite”, ela diz.

Além das horas extras, os funcionários passaram a trabalhar com escolta policial em alguns dias da semana. “Abrimos um terceiro turno, durante a madrugada. E estamos de portas fechadas.” Reuniões com clientes, agora, somente com horário marcado. “Vamos investir mais em segurança, nas câmeras e no controle de acesso”, afirma.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 29 de abril de 2020, edição nº 2684.

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