Paulistanos fazem cursos para enfrentar trânsito na cidade
Em razão dos engarrafamentos e da violência, alguns motoristas recebem até tratamento psicológico
Cerca de 110.000 novos motoristas saem habilitados das 670 auto-escolas da capital por ano. Por causa de problemas como o trânsito caótico e a violência, uma parte dos condutores está investindo mais tempo e dinheiro para retornar às aulas, numa espécie de pós-graduação do volante.
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Existe hoje uma boa oferta de cursos voltados para quem deseja resolver traumas na direção, conhecer melhor o funcionamento dos veículos ou aperfeiçoar habilidades. “Atendemos cerca de 900 clientes por mês que chegam aqui querendo acabar com o medo de guiar”, afirma Cecília Bellina, dona da clínica batizada com o seu nome. “As mulheres são maioria, representando 90% do total.” Criado em 1997 no bairro de Santana, na Zona Norte, o serviço virou uma franquia e tem outras três unidades na cidade.
Entre as pessoas que procuram os cursos, há gente que tem dificuldade até para entrar no carro, tamanha a fobia desenvolvida em relação ao universo dos automóveis. “Certa vez, atendemos um rapaz que suava frio e ficava com a boca seca de tanto pavor”, conta a psicóloga Cláudia Ballestero Gracindo, uma das profissionais encarregadas do tratamento. “Fizemos um treinamento intensivo, com duas sessões por dia ao longo de dois meses, e o problema foi resolvido.”
Outro negócio vem sendo muito procurado pelos paulistanos para ajudá-los a enfrentar perigos do dia a dia nas ruas e avenidas da metrópole. No Centro de Pilotagem Roberto Manzini, em Interlagos, na Zona Sul, os instrutores ensinam os pupilos a desviar-se de obstáculos fixos e em movimento, frear em situações de emergência sem perder o controle do veículo e tomar a curva em ângulo que proporcione segurança, entre outras coisas. Ali são preparados cerca de 5.000 motoristas e pilotos por ano. “Muitos chegam até nós cheio de vícios e sem saber sequer qual é a calibragem correta dos pneus”, revela o proprietário, Roberto Manzini.
Conheça algumas aulas de especialização oferecidas na capital:
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Direção defensiva
Em outubro, o despachante Roberto Sanches Serrano, de 48 anos, compareceu ao Autódromo de Interlagos para aprender a lidar melhor com momentos de risco no trânsito. “Tenho bastante quilometragem, pois dirijo desde a adolescência, mas senti necessidade de tirar uma série de vícios ao volante”, explica. Ele foi acompanhado na ocasião pelo filho, o estudante Rodrigo, de 19 anos. A dupla fez parte de um dos módulos do curso de direção defensiva do Centro de Pilotagem Roberto Manzini. No circuito paulistano, os instrutores ensinam como proceder ao volante durante emergências para evitar batidas. As aulas englobam desde dicas para corrigir o traçado nas curvas quando o veículo ameaça perigosamente sair de traseira até ensinamentos de como aprender a ajustar de forma correta bancos, retrovisores e outros equipamentos do carro para garantir melhor visão e conforto na hora de guiar. São cerca de 5.000 clientes por ano. Ficam à disposição dos aprendizes alguns modelos Renault, mas o recomendável é levar o próprio veículo para se acostumar com as reações dele em situações extremas. O pacote básico do curso custa 300 reais e inclui quatro aulas teóricas e uma hora de prática. Dependendo da quantidade de tempo na pista, o preço pode chegar a 1.200 reais nos módulos avançados.
Centro de Pilotagem Roberto Manzini
Avenida Senador Teotônio Vilela, 328, Interlagos, Tel: 5668-5353.
Medo de guiar
A secretária executiva Cristiane Kernchen Neros, de 30 anos, tirou a carteira de habilitação em 2004, mas vivia frustrada, pois não conseguia dirigir nem no próprio bairro, em Santo Amaro, na Zona Sul. O motivo disso era o pavor de enfrentar as ruas e avenidas a bordo de seu carro. “Cada vez que sentava no banco de motorista, sentia tremedeira e dores na coluna”, conta. “Até crise de choro eu tive.” O problema iniciou-se depois de um pequeno acidente ocorrido ainda nas primeiras aulas da auto-escola. Incomodada com a situação, começou a frequentar desde o mês passado as aulas da clínica Dirigindo Bem, que tem catorze unidades na capital. No tratamento, os condutores são submetidos a uma avaliação técnica, que inclui entrevistas com psicólogos, e depois encaminhados para realizar atividades em grupo com o objetivo de vencer a fobia ao volante. Aos poucos, o aluno é reconduzido ao trânsito, com a ajuda de instrutores. “Estou nesse estágio e já consigo vencer pequenas distâncias”, afirma Cristiane. O custo do serviço varia de acordo com a carga horária: de 750 reais (para 24 dias) a 1.289 reais (45 dias). Um trabalho semelhante é realizado na Cecília Bellina, com mais de vinte anos de experiência no mercado. Lá os valores partem de 445 reais (média mensal) e podem atingir até 10.000 reais (para casos que duram mais de dois anos).
Cecília Bellina
Rua Jovita, 440, Santana, Tel: 2950-1234. Mais três endereços na capital.
Rua Borba Gato, 164, Santo Amaro, Tel: 5521-6357. Mais treze endereços na capital.
Mecânica de salto alto
É possível tornar um pouco mais acessível o universo que se esconde debaixo do capô? Ou desvendar para um ouvido leigo aquele misterioso barulho na roda traseira que anda destoando do conjunto? Para as pessoas que sofrem por não saber distinguir os itens mais básicos das peças do motor, a clínica Cecília Bellina, em Santana, criou em 2009 um curso de mecânica voltado exclusivamente para mulheres. O objetivo não é ensinar operações complexas, como a troca de uma embreagem, por exemplo. Em vez disso, os instrutores utilizam o tempo das aulas para passar noções básicas de funcionamento dos automóveis, dando dicas de como prevenir e identificar alguns problemas corriqueiros. O negócio tem duração de oito horas e custa 60 reais. A próxima turma deve ser organizada em março. “Antes de frequentar a classe, tinha de pedir ao meu pai até para trocar o óleo do carro”, conta a auxiliar administrativa Elaine Almeida da Silva, de 28 anos, que recebeu seu diploma recentemente. “Hoje, consigo fazer sozinha essas operações mais simples de manutenção do automóvel.”
Cecília Bellina
Rua Jovita, 440, Santana, Tel: 2950-1234.
Direção evasiva antissequestro
Os problemas de segurança que atormentam os motoristas da capital funcionam como um combustível para o crescimento do serviço especializado em treinar pessoas ao volante para escapar da abordagem dos bandidos. A empresa UZIL, com sede na Bela Vista, no centro, e uma filial na Penha, na Zona Leste, começou a oferecer esse tipo de aula em 1998. Sua primeira turma contou com oito aprendizes. Hoje, cerca de 120 pessoas por ano procuram os instrutores. A escola é especializada também na formação de seguranças de empresários e executivos. Durante as aulas, que ocorrem em Interlagos ou em grandes estacionamentos, os frequentadores aprendem a fazer manobras como um cavalo de pau em 180 graus em alta velocidade. “A ideia é ajudar a diminuir os riscos a que as pessoas são expostas durante um assalto”, afirma Eli Rahamim, proprietário da UZIL. O treinamento é realizado sempre simulando uma situação real de risco. Até os retrovisores ficam encobertos, pois são os primeiros itens a ser danificados durante uma perseguição. Os matriculados podem usar os próprios veículos ou os carros fornecidos pela escola (Vectra ou Astra).
Rua Humaitá, 450, Bela Vista, Tel: 2389-7008.