Artesão ministra aulas de crochê a presos

Gustavo Silvestre criou o projeto Ponto Firme e planeja montar uma cooperativa para quem acabou de sair da prisão

Por Catherine Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 23 fev 2018, 06h00 - Publicado em 23 fev 2018, 06h00
“Saio de lá feliz e incentivado a inventar mais”, diz o artesão e estilista Gustavo Silvestre (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Desde 2014 o estilista Gustavo Silvestre, de 40 anos, se dedica ao crochê. Começou na atividade com um curso no endereço especializado Novelaria, em Pinheiros, onde conheceu Lica Isak, proprietária do espaço. A empresária soube de vagas para trabalho voluntário na Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, mas, como a cadeia recebia apenas homens, convidou o colega para se aventurar na empreitada. “A ideia inicial era dar uma aula avulsa, mas isso não é permitido, por questões burocráticas”, diz o profissional. “Então, criei o curso Ponto Firme.”

Lançado em 2015, o projeto oferece aos detentos classes de três horas, duas vezes por semana, para que aprendam as técnicas do crochê. De seis em seis meses, os pupilos ganham certificados de formatura, mas podem seguir com as aulas — há quem esteja participando da iniciativa desde o seu princípio. Cada doze horas de serviço valem um desconto de um dia na pena.

As turmas usam cerca de 100 novelos por vez (doados pela própria Novelaria e pela empresa Linhas Círculo) para confeccionar roupas, colchas, bonecos… “É claro que existe preconceito, trata-se de um ambiente machista”, afirma o professor. “Por outro lado, eles repassam os ensinamentos nas celas e entendem ser algo sério, que cria oportunidades.”

O Ponto Firme começou com apenas onze alunos, mas já formou cerca de 100 presos. Hoje, conta com um grupo fixo de 26 pessoas. Silvestre integrou a Casa de Criadores e tem um ateliê na Casa do Povo, no Bom Retiro, onde faz parte de um coletivo. Por vir do universo da moda, quer que os aprendizes fiquem cada vez mais inteirados desse tema. Percebeu a dificuldade da tarefa, entretanto, ao falar sobre desfiles e ouvir dos detentos: “Mas desfile de escola de samba?”.

Em março, os alunos exibirão suas peças em uma passarela no presídio. Os familiares poderão acompanhar o evento. Silvestre planeja ainda montar uma marca de roupas dos presidiários e uma cooperativa para os recém libertados. O objetivo é possibilitar novas perspectivas e criar chances de trabalho fora do encarceramento. “Saio de lá feliz e incentivado a inventar mais, porque eles colocam muita energia na atividade”, comemora o artesão. “É engrandecedor.”

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Projeto Ponto Firme. www.facebook.com/projetopontofirme

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