“Parecia um anjo”, diz filha de vítima de roubo do “falso judeu”
Homem que usa quipá e simula sotaque estrangeiro invade prédios em Higienópolis desde outubro do ano passado

Um ladrão que se passa por judeu vem cometendo uma série de roubos em prédios do bairro de Higienópolis, região conhecida por abrigar boa parte da comunidade judaica paulistana. O balconista Francisco Danilo Cordeiro Rocha, de 20 anos, segue agindo mesmo após ter sido preso no dia 23 de fevereiro, ao invadir um edifício na Rua Itacolomi.
Na ocasião, o rapaz, que se veste socialmente, utiliza uma bolsa Louis Vuitton, usa quipá (o chapéu típico dos judeus) e simula sotaque estrangeiro, passou despercebido pela portaria, foi ao terceiro andar e entrou em um apartamento que estava com a porta aberta. Ali, Rocha subtraiu 350 reais deixados em cima de uma mesa.
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Dois andares acima, o ladrão usou uma chave de fenda para forçar a fechadura, mas foi descoberto, contido por moradores e preso em flagrante pela Polícia Militar. Na delegacia, acabou liberado após pagar uma fiança de 880 reais: como o crime não chegou a ser consumado (o dinheiro foi encontrado no local dos fatos), foi indiciado apenas por tentativa de furto.
Filha da proprietária deste segundo apartamento, a advogada Pérola Vianna foi chamada à casa da mãe no momento da prisão do rapaz. “Ele é muito cara de pau, pedia para não ser fotografado por motivos religiosos. É um homem que fala baixo, é discreto e educado. Parecia um anjo. Tentou nos enganar, mas não conseguiu”, diz.

Imagens de câmeras de segurança, que VEJA SÃO PAULO obteve com exclusividade, mostram o criminoso chegando ao prédio, falando rapidamente com o porteiro, como se fosse um morador, e entrando no local. Na mesma cena é possível verificar outro homem usando o interfone – a princípio trata-se de um entregador ou visitante. (Veja o vídeo ao final da reportagem).
O início das trapaças de Rocha em Higienópolis começou em outubro de 2015, quando ele invadiu um prédio na Rua Alagoas. O valor levado à época não foi divulgado.
Além dessas duas situações, outra ação consumada foi realizada no feriado de Tiradentes deste ano. No dia 23 de abril, o “falso judeu” usou a mesma artimanha em um condomínio na Rua Maranhão: boa vestimenta, lábia apurada e o quipá.
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Dessa forma, ele enganou o porteiro dizendo-se representante de uma sinagoga local. Procurou por um morador e foi autorizado, pelo funcionário da portaria, a subir. Na ocasião, subtraiu pelo menos 5 000 reais em dinheiro e jóias da residência que estava vazia – a proprietária, que não foi localizada, estava viajando.
A última aparição do rapaz ocorreu na sexta (6), na Rua São Vicente de Paula. Desconfiado de que poderia ser um golpe, o morador de um edifício não autorizou a entrada de Rocha, que saiu do local sem conseguir o que queria.

Polciais do 4º. DP, da Consolação, iniciaram a investigação, mas até agora o rapaz, que ainda não é considerado foragido, está livre para atuar nas vias do bairro.
Francisco Danilo Cordeiro Rocha mora em um condomínio simples em Campos Elíseos, no Centro, com a mãe, uma empregada doméstica que sai cedo para trabalhar e volta tarde. No local, o zelador, que não conhece a trajetória do rapaz no mundo do crime, disse que ele não é visto há mais de um mês.
Entre os vizinhos, no entanto, Danilo, como é conhecido, é visto como um jovem que anda “com más companhias” e que não costuma trabalhar nem estudar.