A história de cinco Papais Noéis que animam a criançada nos shoppings
Taxista, contador, ator ou pagodeiro, a cada ano há mais interessados em reforçar o orçamento fazendo as vezes de bom velhinho
O número dos que buscam o papel de bom velhinho tem aumentado e não se restringe a aposentados que querem reforçar a renda no fim do ano. Atraídos pelos cachês pagos por shoppings e lojas (algo em torno de 14 000 reais por um mês de trabalho, com uma jornada diária de dez horas, sete dias por semana), profissionais de áreas diversas se inscrevem em agências especializadas em fazer o recrutamento de papais noéis para prestar serviços ao comércio paulistano.
A Cia. do Noel, por exemplo, começou no mercado natalino em 2012 com um casting de dez contratados. Atualmente, a empresa conta com 240 deles, distribuídos em vários estabelecimentos da capital. De acordo com a firma, a quantidade de colaboradores cresce de 10% a 20% a cada ano. Mas quem são esses senhores de barba branca, com alguns quilinhos a mais, simpáticos e com carisma, que ajudam a criar a magia do Natal em adultos e crianças e ainda intensificam a vontade de presentear amigos e parentes?
A seguir, conheça cinco dos que optaram pela alegria e pela conversa ao pé do ouvido para ganhar um dinheiro extra — as maiores atrações de muitas fotos familiares de dezembro.
Velhinho descolado
Djalma Mazzini, de 69 anos, presta serviços como motorista, mas é por baixo da roupa vermelha que uma tatuagem revela o amor por outro trabalho. “Cativar as crianças e os adultos é minha paixão”, conta ele, que pela segunda vez dá expediente como bom velhinho no Shopping Aricanduva, na Zona Leste. Mazzini afirma que, com os dois serviços, consegue aproximadamente 25 000 reais no mês de dezembro. Junto da tattoo de Papai Noel, o nome dos filhos e o da esposa, que já faleceu. Apesar da barriguinha, ele jura que gosta de fazer exercício. “Sempre caminho pelo bairro”, diz o morador do Ipiranga.
Saudade e lágrimas
Para Orlando Brandão (58), ser Papai Noel virou uma forma de fazer o ator homenagear a irmã, Margareth, que morreu de câncer em 2018. “Era quem mais me incentivava a trabalhar com isso”, recorda. Ela costumava, inclusive, levar amigas ao Golden Square Shopping, em São Bernardo do Campo, orgulhosa de vê-lo conversando com o público. “Depois que Margareth morreu, uma mulher com câncer me pediu a cura da doença de presente. Neste ano, ela voltou e contou que está curada”, afirma. “Foi difícil não lembrar a minha irmã, e mais difícil ainda não chorar”, emociona-se.
Disfarce para as folgas
A vontade de ser Papai Noel surgiu quando David Bitman (70) era bancário. Na época, ele interpretava o personagem em serviços voluntários, usando barba postiça, já que o banco não o autorizava a deixá-la crescer. “Depois que me aposentei, comecei a me dedicar mais. Precisava ganhar dinheiro”, explica Bitman, que ainda trabalha como contador para pagar as despesas da casa. Há seis anos ele recebe adultos e crianças no Shopping Eldorado. Passada a época de festas, Bitman se desfaz da barba. “Senão a criançada não me deixa curtir as férias com minha esposa”, brinca.
Sem stress em dezembro
Quando não está barbudo e vestido de bom velhinho, Eduardo Bianco (66) pode ser visto no ponto de táxi na esquina das ruas Fradique Coutinho e Teodoro Sampaio, em Pinheiros. À paisana, é um taxista comum. Sem os óculos de aros dourados e com a barba mais rala, Bianco conta que se estressa muito no tráfego. Por isso, na época do Natal, ele se dedica exclusivamente ao ofício de Papai Noel do Shopping Iguatemi, onde trabalha há três anos. “O trânsito é muito estressante. Não quero levar isso para as crianças.” Casado, pai de dois filhos, Bianco diz que foi no táxi que teve o estalo para investir na carreira natalina. “Sempre tive barba. Um dia uma mulher me parou e me indicou uma agência. E cá estou hoje”, relata, cinco anos depois e, segundo ele, com uns quilinhos extras.
Noel pagodeiro
Além de se divertir (e divertir os outros) sendo o Papai Noel do Shopping Center Norte desde 2010, Domingos Agatão (67) faz de tudo para estar presente nas rodas de samba que frequenta toda sexta-feira perto de casa, na Vila Clara, na Zona Sul. “Não perco uma. Eu toco percussão lá. Aproveito também para tomar uma cervejinha”, diz. Agatão começou a trabalhar como Papai Noel por necessidade, quanto tinha 42 anos. Hoje, a atividade virou um complemento de sua renda. “É um dinheirinho que ajuda muito”, afirma ele, que, durante o ano, atua como representante comercial.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 25 de dezembro de 2019, edição nº 2666.