Pai acusado de matar a filha irá a júri popular na terça (30)
O ex-estudante Ricardo Najjar é acusado de matar a filha de 4 anos por asfixia, no episódio que ficou conhecido como "Caso Sophia"
Na próxima terça (30), começa o julgamento de um dos episódios mais assombrosos da cidade, o “Caso Sophia”. O autônomo Ricardo Najjar, de 25 anos, irá para o banco dos réus acusado de ter assassinado sua filha, Sophia Najjar, de 4 anos, em dezembro de 2015. Ele é incriminado pelo 4º promotor do 1º Tribunal do Júri da Capital, José Mario Barbuto, por ter matado a garota por asfixia, além de ter alterado o cenário do crime para confundir as investigações.
Najjar alega inocência. A defesa de seu grupo de advogados, comandado por Antonio Ruiz Filho, afirma que a criança provocou sua própria asfixia, ao colocar na cabeça um saco plástico. Ele aguarda o julgamento na penitenciária Dr José Augusto César Salgado, em Tremembé II, a 160 quilômetros da capital. Ali estão detentos envolvidos em casos de grande repercussão nacional. Um dos colegas de Najjar, por exemplo, é Alexandre Nardoni, sentenciado a trinta anos pelo assassinato de sua filha Isabella, de 5 anos, em 2008.
O autônomo passará por um júri popular composto por quinze pessoas, que serão escolhidas no próprio dia 30. O processo começa às 13h na sala 2162 do plenário 7, no Fórum Criminal da Barra Funda, conduzido pela juíza Renata Mahalem da Silva Teles. Deverão ser quatro dias de julgamento e a sentença poderá sair até a sexta (2). Procurada pela reportagem, a equipe da defesa não retornou o contato.
A mãe da menina, a estudante de Direito Lígia Cancio, de 25 anos, e sua família estão ansiosos. “Além de ter tirado a vida do maior amor da minha vida, Ricardo desestabilizou completamente a vida dos meus pais, das minhas irmãs, sobrinhos e de todos que nos cercam”, diz Ligia. “Minha expectativa é que Ricardo seja condenado. Não por vingança, porque sei que a prisão dele não vai mudar minha vida, não vai aliviar minha dor, nem da minha família. Mas um crime assim, tão cruel, e ainda contra uma criança, não pode ser esquecido e jamais ficar impune”, completa.
O “Caso Sophia” ocorreu na noite de 2 de dezembro de 2015, em um apartamento de classe média no Jabaquara, onde Najjar morava. Na época, ele havia trancado o curso de administração de empresas no Mackenzie e trabalhava como autônomo na própria empresa, que desenvolvia sites.
Lígia e Najjar tiveram Sophia com 19 anos, e a gravidez ocorreu após três meses de namoro. Na época, os avós maternos da garota hospedaram o casal em um quarto em um apartamento de classe média alta na Vila Mariana. O relacionamento terminou quatro meses após o nascimento da menina. Segundo depoimentos de testemunhas, Najjar tinha um temperamento explosivo e, em uma discussão, chegou a jogar um celular contra a parede. Depois da separação, ele costumava visitar a filha aos finais de semana e registrava boa parte desses encontros em fotos nas redes sociais.
No dia do crime, Najjar decidiu buscar Sophia na escola. Ele ficaria um pouco com a menina e então deixaria na casa dos avós maternos, onde vivia sua “ex”. Depois, terminaria a noite com a então namorada.
Por volta das 19h20, Sophia morreu. Segundo conclusão do Ministério Público, o autônomo agrediu a garota, batendo em sua cabeça, causando danos bem graves, como hematoma cerebral e rotura da membrana timpânica. Ainda segundo os autos, ele teria então decidido matar a filha: tampou a boca e o nariz impedindo a passagem de ar, até a menina sufocar.
Depois, de acordo com os promotores, limpou o sangue, pegou uma sacola plástica e colocou na cabeça de Sophia, para simular que ela sozinha e por acidente se asfixiou. Então, ligou para a namorada avisando a tragédia e para o Samu. Eles tentaram reanimar a criança, mas já estava morta.
Segundo a defesa, Ricardo tomava banho com a porta aberta, quando o acidente aconteceu. Sophia teria colocado o saco, caído da cama, batido a cabeça e se sufocado. De acordo com o Ministério Público, as lesões de Sophia e a morte por asfixia não poderiam ter ocorrido dessa forma.
Najjar foi preso no velório da filha, em 4 de dezembro. Passou um mês no 77º distrito policial, em Santa Cecília e depois, levado para Tremembé. Em dezembro de 2016, o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal, deferiu uma liminar e decidiu soltar o réu. No documento, afirmou que havia um prazo excessivo na prisão temporária. Fora da prisão, Najjar foi morar com o pai, em Santo Amaro.
Em março deste ano, o Supremo Tribunal Federal decidiu que ele deveria aguardar o julgamento na prisão e, em maio, Najjar voltou à Tremembé. Seu destino deverá ser decidido na próxima semana. Se condenado, poderá pegar até trinta anos de cadeia.
“Nos meus quarenta anos de advocacia, esse é um dos casos mais tristes do qual participei”, diz Alberto Zacharias Toron, advogado assistente de acusação.