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Osesp tem vagas ociosas no quadro de violinistas

Mesmo com salário de 10 300 reais, duas vagas no naipe de cordas da Orquestra Sinfônica do Estado estão desocupadas desde 2008 por falta de candidatos à altura

Por Daniel Salles
Atualizado em 5 dez 2016, 18h58 - Publicado em 5 fev 2010, 13h21

Salário de 10 300 reais mensais, com direito a décimo terceiro, plano de saúde e seis semanas de férias. Isso para a nobre função de executar solos durante apresentações e chefiar parte dos músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp, a mais prestigiada do país. Apesar disso, as duas vagas mais importantes do naipe dos segundos-violinos estão sem ocupantes desde que foram abertas, em fevereiro de 2008. Apareceram trinta candidatos. “Nenhum foi aprovado para a fase de testes”, conta o regente Antônio Carlos Neves Pinto, responsável pelo processo seletivo (veja como é feita a escolha no quadro abaixo).

Numa comparação exagerada, o ex-maestro da Osesp John Neschling, que deixou os postos de diretor artístico e regente titular em 2009, costumava dizer que tocar na orquestra é tão difícil quanto ser presidente da República. De fato, ocupar os postos-chave costuma ser tarefa árdua. Mesmo para quem já é da casa, como o americano Matthew Thorpe, músico do grupo desde 1998. Foram necessárias seis tentativas para que ele conseguisse ser promovido da posição de violino de fila (também chamado de tutti) à de assistente do chefe dos segundos-violinos. “A cobrança é altíssima e qualquer nervosismo pode arruinar a apresentação do candidato”, diz ele, que hoje integra o comitê de escolha dos novos quadros. Segundo Thorpe, ainda faltam no Brasil grandes músicos do naipe de cordas. E para provar seu ponto de vista ele lembra que vinte dos trinta violinistas da Osesp são estrangeiros. “Isso nos obriga a procurar em outros países”, afirma.

Quando a busca parte para outros continentes, a situação se complica por causa dos salários. Embora 10 300 reais estejam acima da média dos brasileiros, às vezes são considerados pouco convidativos para quem vem de fora. Qualquer integrante da Sinfônica de Chicago recebe, no mínimo, o equivalente a 18 000 reais por mês. “Para alguns profissionais, simplesmente não compensa toda a exigência daqui”, diz a presidente da associação dos músicos, a violoncelista Maria Luísa Cameron. Não à toa, uma das primeiras medidas de Neschling ao tomar posse, em 1997, foi promover concursos a cada seis meses. Ao longo de seu mandato, porém, os testes passaram a ocorrer com menor frequência. A razão, comenta-se nos bastidores, seria o gênio forte do maestro. Segundo essa versão, à medida que se desentendia com os músicos, Neschling substituía-os por outros com quem tinha melhor relacionamento. Por esse motivo, existem ainda hoje sete vagas sem titular, além das duas de violinista — músicos “prestadores de serviço” preenchem- nas temporariamente. Uma delas, a de flautista solista, segue nesse sistema desde 2001, quando foi demitido o último ocupante, Rogério Wolf. Sua situação, aliás, é peculiar: no ano passado, ele voltou a atuar como convidado no posto que um dia foi seu.

Recém-empossado diretor artístico da Osesp, o crítico musical Arthur Nestrovski afirma que pretende completar os quadros até o fim deste semestre. “Nosso objetivo é chegar ao Festival de Inverno de Campos do Jordão, em julho, com todas as vagas preenchidas”, diz. Os postos são para flauta, violoncelo, oboé, fagote, percussão, viola e violino de fila, cujos salários giram em torno de 9 000 reais. As datas e os locais dos testes ainda não foram definidos. “Quem for selecionado no exterior será chamado para participar da etapa final, em São Paulo”, adianta Nestrovski. Nesse estágio, a audição será conduzida pelo maestro francês Yan Pascal Tortelier, atual regente titular. Resta saber se haverá candidatos à altura.

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COMO É O PROCESSO DE SELEÇÃO DA OSESP

■ Na primeira fase, além de um currículo, os candidatos enviam um CD ou DVD com registro de uma peça executada por eles.

■ Duas rodadas de audições com o maestro e chefes de naipe esperam os aprovados. Nessa etapa, os aspirantes ficam ocultos por um biombo para garantir a isenção do processo — sem saber de quem se trata, não há como favorecer um amigo, por exemplo.

■ Se houver dúvidas em relação à competência do músico, ele pode passar por um período de experiência de três meses.

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■ Os escolhidos encaram ainda o chamado período probatório. Trata-se de um ano crítico em que um eventual deslize pode render demissão.

 

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