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Orquestra Sinfônica: sai John Neschling, entra Yan Tortelier

Osesp terá de pagar 1,2 milhão de reais de multa contratual. Novo maestro tem desafio de de manter o alto nível da orquestra

Por Giuliana Bergamo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h30 - Publicado em 18 set 2009, 20h28

A troca do regente de uma orquestra depois de doze anos não deveria ser pontuada por acordes pesados. Nas principais sinfônicas do mundo, a batuta muda de mãos, em média, a cada oito anos. Sem grandes dramas. O finale do maestro John Neschling à frente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), no entanto, não foi nada majestoso. Demitido por carta no último dia 21, agora vai brigar para que seu contrato, que terminaria em 2010 e estabelece salário de 100 000 reais por mês, seja cumprido. A instituição afirma estar disposta a pagar a multa contratual de 1,2 milhão de reais. Em um primeiro momento, seus integrantes diziam que não desembolsariam nenhum tostão, uma vez que Neschling teria desrespeitado, com críticas públicas, seus conselheiros. “Nossa função é assegurar a harmonia da orquestra e preservá-la contra ingerências externas”, diz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que assinou a tal carta. “Quando vimos que isso não seria possível, decidimos pela demissão. O objetivo agora é pensar no futuro e garantir a qualidade artística da orquestra.”

O futuro a que ele se refere atende por Yan Pascal Tortelier, maestro francês de 61 anos (a mesma idade de Neschling) que conduziu seis concertos na Osesp no ano passado, com resposta positiva dos músicos, da crítica e do público. Filho do violoncelista Paul Tortelier, Yan deu suas primeiras notas aos 4 anos. Passadas quase seis décadas desde então, ele coleciona participações em orquestras de diversas partes do mundo. A mais importante delas é a regência da Filarmônica da BBC, na Inglaterra, de 1992 a 2003. Tortelier também foi o principal maestro convidado da Sinfônica de Pittsburgh, nos Estados Unidos, entre 2005 e 2008, e recentemente conduziu as orquestras de Paris, a Filarmônica do Scala de Milão e a Sinfônica de Montreal.

Por causa do convite inesperado e de compromissos já agendados para 2009, ele deve reger a Osesp por apenas oito semanas neste ano. Essa é uma das principais críticas à escolha de seu nome. “A ausência dele pode causar um vazio de poder. Corremos o risco de trocar autoridade exagerada por falta de pulso firme”, diz o crítico musical João Marcos Coelho. Outra consideração negativa é que o maestro teria pouco conhecimento do repertório nacional. “Neschling fez reviver obras essenciais do patrimônio musical brasileiro”, afirmou a Veja São Paulo o crítico de música Alain Lompech, do jornal francês Le Monde. “Tortelier não tem esse conhecimento, e, neste momento cultural do país, dar continuidade ao trabalho de memória é crucial.”

Quem aplaude a escolha rebate tais argumentos. “O repertório brasileiro não é maior do que o alemão ou o francês. Além disso, faz parte do trabalho de um maestro aprender novas obras”, diz Sabine Lovatelli, presidente do Mozarteum Brasileiro, sociedade cultural que todo ano traz a São Paulo grandes nomes internacionais da música clássica. “O importante é ter qualidade artística. E isso Tortelier tem.” Em maio do ano passado, depois de reger a Osesp por duas semanas, Yan causou ótima impressão entre os músicos, acostumados com o temperamento intempestivo de Neschling. “Fazemos uma avaliação anônima e voluntária depois de cada experiência com os regentes convidados, e Tortelier se saiu muito bem”, conta a violoncelista Maria Luísa Cameron, presidente da associação dos músicos. “Nos últimos tempos, Neschling passou a nos tratar muito mal. Escolhia pessoas para perseguir, gritava e exigia aquilo que não era possível. Quem poderia ser a favor de uma liderança desse tipo?”, diz um dos músicos mais antigos da Sinfônica, que não quis se identificar. “Neschling se achou o rei da cocada preta, mas o que ele fez só foi possível graças à sensibilidade e à vontade política de outras pessoas, como os governadores Mario Covas e Geraldo Alckmin”, alfineta o maestro Júlio Medaglia. “O grande absurdo agora é escolher um francês para reger a maior orquestra do Brasil. Tenho uma lista com pelo menos dez nomes de maestros que fariam isso melhor. O meu está incluído nela.”

Duas gravações de CDs de Neschling à frente da Osesp marcadas para este mês com a gravadora sueca Bis foram adiadas e ainda não têm data para acontecer. A programação dos concertos também está sujeita a sofrer pequenas alterações, que não foram definidas. Assim como o nome do maestro brasileiro que dividirá a batuta com Tortelier. Isaac Karabtchevsky, regente da Orquestra Petrobras Sinfônica, e Fabio Mechetti, atual diretor musical da Filarmônica de Minas Gerais, estão entre os cogitados.

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