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Ocupações artísticas invadem o centro de São Paulo

Coletivos como BaixoCentro e Estúdio Lâmina promovem eventos gratuitos que misturam baladas, piqueniques e performances ao ar livre

Por Redação Veja São Paulo
Atualizado em 1 jun 2017, 17h46 - Publicado em 5 abr 2013, 23h21
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baixocentro_03 (Bruno Fernandes/)
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Quem for passar pelo centro de São Paulo nos próximos dias pode sentir a movimentação diferente que vai durar até domingo, dia 14. Trata-se de uma série de manifestações artísticas acontecendo nas calçadas, grupos assistindo a filmes exibidos em praças, músicos espalhados por diversos lugares e, consequentemente, multidões que dançam, cantam e conversam ao redor das atrações. Tudo em locais abertos e de livre circulação (confira a programação). 

Estes eventos fazem parte do Festival BaixoCentro, do coletivo independente homônimo que começou sua segunda edição nesta sexta (5). Com o mote “As ruas são para dança”, o grupo reuniu 503 atrações que estarão acontecem simultaneamente em dez pontos entre os bairros de Santa Cecília, Luz, República, Vila Buarque e Barra Funda. “A nossa ideia é trazer a população para a rua, especialmente a do bairro, e movimentar os espaços públicos. Fazer a integração dos vizinhos e conhecer mais pessoas”, diz Georgia Nicolau, uma das colaboradoras.

O coletivo nasceu na metade de 2011, em Santa Cecília, com a intenção de ocupar praças e locais abandonados com o intuito de revitalizar o espaço com atividades culturais para a população. “Não podemos continuar em uma cidade que não dá para sentar na praça, que o poeta não pode recitar sua obra em público”, diz Georgia. A primeira edição do festival aconteceu em março do ano passado e teve a mesma forma de arrecadação: um crowndfounding (sistema de contribuição voluntária virtual) hospedado no site Catarse para levantar fundos para a estrutura necessária para as atrações. Este ano, o grupo bateu a meta de 62 000 reais arrecadados até quatro dias antes do festival. No primeiro dia de evento, o montante somava 72 000 reais que devem ser revertidos integralmente para as atrações, gratuitas.

Com cerca de 50 pessoas ativas (o grupo é aberto para qualquer um que quiser participar e a lista de integrantes têm mais de 300 nomes), o festival levou mais de um mês para ser organizado e exigiu dos colaboradores uma séries de reuniões e festas para a arrecadação de verba. “Não temos hierarquia, por isso tudo é conversado e cada um ajuda como pode”, conta Georgia. Assim, quem é designer pode, por exemplo, criar a identidade visual, tem aqueles que sugerem artistas e tipos de eventos. Tudo na base do voluntariado. “Fazemos porque acreditamos que a cidade merece ser aproveitada. Quero poder sentar numa praça e curtir a tarde ouvindo música, lendo um livro. Hoje é praticamente impossível”, diz Georgia.

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Mesmo não tendo hierarquia, para produzir o evento de forma mais organizada e segura, os envolvidos lançaram uma cartilha de “como dançar”. No link, disponível no site, eles fazem algumas recomendações e explicam alguns direitos reservados ao cidadão como a própria manifestação artística, protegida pela lei. E lembram que para serem respeitados, também precisam seguir regras, como não obstruir ruas e dançar apenas na calçada ou em praças.  “Resistência a algumas ordens policiais pode ser considerada ‘crime de resistência’. Responder bravo ou xingar um policial é cana na certa. Converse. E dance!”, diz uma das recomendações.

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O mesmo espírito libertário de ocupação do espaço público inspirou a festa Voodoohop, encabeçada pelo alemão Thomas Haferlach e francesa Laurence Trille. Thomas conta que quando chegou em São Paulo se identificou muito com o caos da cidade e não entendia por que as pessoas preferiam pagar caro para entrar em uma balada, quando as ruas poderiam servir como ambiente. Frequentava o Bar do Netão, boteco de portas abertas recentemente fechado na rua Augusta, quando teve a ideia de criar a balada itinerante que traz, além de música, performances artísticas.

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No início, era realizada apenas uma vez por mês, com venda antecipada do ingresso (feita por meio do site) e o endereço e horário divulgados poucas horas antes do evento. O mistério despertou curiosidade e logo foi necessário encontrar espaços maiores e uma regularidade na programação. O Minhocão (Elevado Costa e Silva), no centro, foi o ambiente escolhido e, desde o mês passado, eles promovem as baladas nas tardes de domingo. “Não entendia porque as pessoas preferiam pagar caríssimo, enfrentar filas e ficar em lugares escuros, sem poder sair. Não queria isso”, conta Thomas. “Os prédios do centro são lindos e devem ser preservados”, diz ele, que conta com uma equipe de catorze pessoas fixas, todas voluntárias, na montagem dos eventos.

Há pouco mais de um ano, o centro também passou a abrigar o coletivo de artistas do Estúdio Lâmina. Instalados em um andar de um dos prédios da avenida São João, próximo ao Vale do Anhangabaú, o espaço serve de concentração de artistas que saem para explorar ruas e avenidas. No ano passado, saiu de lá a performance de Raurício Barbosa, As Margens do Centro, em que pintava pessoas diante de muros até que elas “desaparecessem” camufladas nas cores.

As Margens no Centro, In Concretus, Rua Augusta 2
As Margens no Centro, In Concretus, Rua Augusta 2 ()
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“A primeira tentativa foi na Luz, mas policiais não permitiram que nós teminássemos”, diz Jade Rainho, uma das artistas do coletivo e que foi pintada por Raurício. “Tivemos que sair dali. Apesar de estarmos no nosso direito, fomos para outro ponto do centro”, conta. O resultado hoje pode ser visto em pôsteres pendurados em uma das salas do estúdio. O local também hospedará eventos do BaixoCentro. “Os coletivos se unem porque buscam a mesma coisa: deixar o centro mais vivo e mais bonito”, diz Jade.

Badalação fora do convencional

Javali_I Feel Love
Javali_I Feel Love ()

Foi numa tentativa de também fugir dos locais badalados e trazer o público para a região central da cidade que o promoter Emmanuel Vilar levou para o antigo prédio da Lega Italica, na Praça Almeida Júnior, na Liberdade, a festa Javali. “De repente, as baladas já não correspondiam ao meu perfil e por isso, decidi explorar os lugares fora do convencional. O centro tem muitos espaços para serem usados e estão aí, abandonados”, diz. A festa, que começou como uma reunião de amigos cansados dos mesmos clubes, acabou ganhando proporções maiores, com uma edição por mês sempre com ingressos esgotados.

Numa roda de amigos também surguiu o coletivo Barulho.org, grupo de músicos que já participou da Voodoohop, que mescla espaços públicos e privados. “Conversamos com donos de estabelecimentos para usar a estrutura deles e fazer a movimentação gratuita”, diz Piero Falgetano, um dos organizadores. “Começamos com uma vaquinha para comprar as caixas de som, que eram ligadas a um disc-man. Hoje, já organizamos festas maiores, com bandas e DJs e artistas como grafiteiros e a turma do teatro, que também acompanha a gente”, conta.

Para seguir essa turma, é preciso estar ligado nas programações, muitas vezes divulgadas apenas nos sites e grupos em redes sociais. VEJA SÃO PAULO.COM destacou alguns dos eventos que acontecerão durante a semana no festival BaixoCentro. O próprio grupo adverte, no entanto, que datas e locais estão sujeitas a alterações, devido a chuvas e outros imprevistos. Confira a programação completa pelo página do Facebook da organização ou por aqui.

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DOMINGO (14/04)

Palco de Cinema (Esquina da Rua Helvétia com a Avenida São João)

18h: Cinóia

Praça Roosevelt

14h: Oficina de Pandeiro Ylu Brasil – aula aberta de pandeiro

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Desfile de blocos de rua

15h: Lelê de Oyá – maracatu e afoxé

16h: Viemos do Egyto

17h: Jegue Elétrico

18h: Coro de Carcarás- maracatu, dança e parangolés

20h: Ilú Oba de Min – tambores negros e dança dos orixás

Voodoohop No Minhocão

Das 15h às 22h, na altura da Marechal

Recomendação: levar piscinas infláveis, tambores, tecidos, churrasqueiras. Os pick-ups são comandados por Piero Chiaretti, Urubu, Thomash (organizador da Voodoohop), Volatiluz, Calefação Tropicanos, Jardim Elétrico, entre outros. Show de Angela Carneosso e os Bacanais.

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