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“O marco da gestão Covas será uma fonte de 80 milhões de reais”

Papo Vejinha: pré-candidato à prefeitura pelo PSD, ex-tucano Andrea Matarazzo diz que reforma do Anhangabaú é um erro histórico

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 18h07 - Publicado em 12 jun 2020, 06h00
Lazer aos domingos: fechamento de novas ruas (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Como o senhor avalia a gestão de Bruno Covas, que começou com João Doria?

Durante o curto período em que o Doria comandou a cidade (um ano e três meses), pelo menos havia ações e discussões. Depois não aconteceu mais nada. Foram três secretários de Educação, as obras dos CEUs que o Haddad não terminou ficaram no meio do caminho. O marco da atual gestão será uma fonte luminosa no Anhangabaú, que custará 80 milhões de reais. Como fazer manutenção de 800 pontos de água e luz se ele não cuida nem das pequenas fontes?

Como vê as medidas municipais e estaduais tomadas no combate ao novo coronavírus?

Quiseram fazer aqui como foi feito na Inglaterra, na França ou na Itália. Nenhum desses países tem 3 milhões de pessoas morando em favela. E nenhum ficou setenta dias parado como nós. Aqui, as pessoas não têm onde ficar. O prefeito e o governador não querem acreditar na São Paulo ideal, mas na imaginação da cidade cosmopolita. Estamos pagando o preço. Mortalidade em alta e economia em baixa.

O que o senhor teria feito de diferente?

Teria investido na periferia. A pandemia nos mostrou que a necessidade de recursos nessas áreas é enorme. Nossa periferia está estacionada no século XIX. O centro parou no século XX.

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O senhor já foi subprefeito da Sé. Que faria para reverter a crise da região?

Faria o que fiz quando estive na prefeitura (secretário de Coordenação de Subprefeituras na gestão Kassab). Reformamos a Sé, a Roosevelt, a República. Fizemos também a nova Rua Avanhandava. A minha ideia é revitalizar, mas tenho de ser realista: revitalizar não é fazer evento. Temos de levar moradores e empresas para a área central. Mas durante as suas passagens pela prefeitura muitas empresas deixaram o centro, como Votorantim e Pinheiro Neto. As empresas saíram quando a gente chegou. Independentemente disso, a vocação do centro é outra, mais voltada para a educação e a cultura. O prédio do Pinheiro Neto (escritório de advocacia) foi reformado e contém várias empresas. Onde ficava a Votorantim está a Secretaria da Agricultura. A instalação de secretarias de estado e município no centro tem vantagens. Como os servidores têm estabilidade, muitos se mudam para perto do trabalho.

Andrea Matarazzo
Matarazzo, na casa da mãe, nos Jardins: “temos de levar empresas para o centro” (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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O que o senhor pretende fazer efetivamente com o Minhocão?

Nunca transformaria o Minhocão em parque. Parque faz mais barulho que viaduto. É criança gritando, sorveteiro tocando a buzina. Aquilo tem de ser demolido, mas em outro momento, quando a cidade não tiver tantas favelas e possuir saneamento básico para todos. A gente precisa olhar dentro da realidade. Não adianta ir para a ilha da fantasia.

O que acha do tombamento dos Jardins e do despovoamento da área, com tantos casarões vazios?

Sou preservacionista por causa da área verde. Acho bobagem tirar o tombamento, mas eventualmente, em algumas avenidas, podem-se fazer ajustes de uso. Não como tentaram na reforma do Plano Diretor, para estimular a construção de prédios. É possível, sem aumentar o gabarito e em vias específicas, como na Avenida Europa, fazer residências multifamiliares, como em Londres ou em Roma. Ajudaria a equacionar o alto valor do IPTU dessas áreas.

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Cinco grandes planos de intervenção urbana estão parados na Câmara. Um deles é a Operação Urbana Bairros do Tamanduateí. É possível destravar esses projetos?

Essas ações precisam ser iniciadas. Na Lapa não estão fazendo nada. Nada andou. A prefeitura tem dinheiro, houve aumento de arrecadação, mas não há capacidade operacional. No ano que vem, a crise financeira estará agravada por causa da pandemia. A prefeitura terá menos recursos. Há um grande desperdício. Nosso orçamento em 2006 era de 13 bilhões de reais (28 bilhões atuais). Hoje é de 70 bilhões de reais. É só escolher prioridades. A sociedade entende tudo isso, só não gosta de ser enrolada.

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“Nunca transformaria o Minhocão em parque. Parque faz mais barulho que viaduto. É criança gritando, sorveteiro tocando a buzina”

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O senhor foi crítico, em 2015, ao fechamento da Avenida Paulista. Qual sua avaliação cinco anos depois? Fecharia outras ruas aos domingos?

Pretendo fechar novas vias, sim, mas antes vamos consultar os moradores. No caso da Paulista, foi aberta aos pedestres, e ponto. É preciso organizar, evitar os arrastões e acabar com a incomodidade, que é muito grande. É necessário disciplinar as músicas, o tamanho dos equipamentos. Camelôs atuando livremente não dá.

Pretende levar adiante o plano de desestatização da atual gestão?

Na minha época, quis privatizar os cemitérios e fui xingado. Deve-se privatizar a operação urgentemente. O da Consolação, onde fica minha família, está em uma situação dantesca. Sobre Interlagos, pretendo alterar o modelo e privatizar apenas as pistas do autódromo, deixando a área verde de fora. Em relação ao Estádio do Pacaembu, quero estudar o que foi feito e, se for o caso, rever o projeto. Aquilo era um parque importante e de graça, que está no meio de um bairro tombado da cidade. Vai dar problema fazer escritórios naquele lugar.

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Quais seus planos para as áreas de mananciais?

Voltaremos com o programa Defesa das Águas, que foi criado em conjunto com a Guarda Civil Metropolitana e tinha como objetivo atuar nas nossas represas. Mas há áreas que estão ocupadas há cinquenta anos. Nesses casos, temos de regularizá-las. Se mantivermos assim, as únicas coisas que continuarão não existindo são emprego e esgoto. Essa é a São Paulo real. Ou então podemos continuar fingindo que ainda é manancial.

O que fará com a Cracolândia? O senhor é a favor da internação compulsória?

Sou, dependendo do caso e de protocolos rígidos. Não vou internar ninguém, é o médico quem vai dizer. Quem já teve um parente nessas condições sabe a tragédia que é. Qualquer coisa é melhor que deixar morrer.

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Como vê o PSDB depois da sua saída e da eleição de Doria?

A evolução do PSDB atual não tem nada a ver com seu passado, mas isso é irrelevante. Pessoalmente, acho que a gestão municipal deve ser suprapartidária. O buraco na rua não é de esquerda ou de direita. Tem de ser tampado. Fora isso, Doria tem o perfil mais adequado a governador do que a prefeito. Como governador, até que está indo bem.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 17 de junho de 2020, edição nº 2691.

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