‘O Inferno Sou Eu’ traz Marisa Orth como Simone de Beauvoir
Drama traz uma situação fictícia em que a escritora e o marido Jean-Paul Sartre, no Brasil, convivem com uma estudante.
Intérprete de recursos dramáticos, Marisa Orth tornou-se refém do humor desde o seriado de TV Sai de Baixo (1996-2002). Quem assistiu às peças Seis Personagens à Procura de um Autor (1991) e Três Mulheres Altas (1995) sabe que seu talento não se limita à comédia. A retomada do drama se dá de forma ambiciosa: no papel da escritora francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) em O Inferno Sou Eu, poucos meses depois de Fernanda Montenegro comover os paulistanos na pele da mesma personagem no monólogo Viver sem Tempos Mortos.
O texto da paulistana Juliana Rosenthal K., de 29 anos, busca mais um símbolo feminino que a personalidade do ícone feminista. Cria uma situação ficcional na temporada que Simone e o marido, o filósofo Jean-Paul Sartre, passaram no Brasil em 1960. Na visita ao Recife, a convivência com uma estudante (a atriz Paula Weinfeld) derruba mitos e faz com que as duas repensem a vida. “Coitada!” é a expressão que uma solta sobre a outra ao verem-se confrontadas com os próprios limites.
Dirigidas por José Rubens Siqueira, as duas atrizes convencem. Paula é desenvolta em um papel fácil de cair na caricatura. Marisa tenta reproduzir Simone em gestos e na postura. Cuidadosa, evita arroubos emotivos — fugindo de um exagero que a leve a beirar a comédia — e constrói uma Simone de Beauvoir que tem a força e também as fragilidades de uma mulher comum.