O empresário João Doria Jr. estréia no comando da Casa Cor
Ele trouxe três novidades: aulas gratuitas sobre decoração para o público leigo, palestras com profissionais renomados e um espaço de exposição para homenagear nomes consagrados da arquitetura e da decoração
Nas últimas semanas, ele diz que não dormiu mais de quatro horas por noite. Saía do trabalho na alta madrugada, lá pelas 3 horas, com os cabelos tão impecavelmente penteados como quando chegou, às 9 horas do dia anterior. “O ritmo andou bem puxado”, admite João Doria Jr, com o sorriso que se tornou uma de suas marcas registradas. A jornada, que costuma encerrar à 1 hora, alongou-se devido ao empreendimento mais recente do empresário, jornalista e publicitário: a Casa Cor. Em março deste ano, em sociedade com o Grupo Abril, Doria comprou o principal evento de arquitetura, decoração e paisagismo do Brasil, terceiro maior do mundo – atrás somente de feiras de móveis e design realizadas em Milão e Las Vegas. Cada parte ficou com 50% do negócio, mas ele assumiu a gestão da feira, cuja 22ª edição começa na próxima terça (20), no Jockey Club, onde são esperadas 120.000 pessoas até o dia 9 de julho.
Não se surpreenda se encontrar por lá vários pesos-pesados do mundo corporativo – aonde Doria vai, sempre há algum de seus amigos do Lide, Grupo de Líderes Empresariais. Trata-se de um clube criado por ele em 1996, atualmente com 496 sócios, todos comandantes de empresas com faturamento acima de 200 milhões de reais. Essa turma viaja com as mulheres, uma vez por ano, para a Ilha de Comandatuba, na Bahia, onde ocorre o Fórum Empresarial. Além de curtirem shows, festas e brincadeiras, eles fazem novos contatos e esboçam parcerias profissionais. “Ali conheci fornecedores e amigos”, afirma Paulo Zottolo, presidente da Philips.
Mais do que fermentar o rol de visitantes, a chegada de Doria à Casa Cor promete reavivar um evento que, a despeito do tamanho, estava precisando ser revigorado. Ele trouxe três novidades: aulas gratuitas sobre decoração para o público leigo, palestras com profissionais renomados e um espaço de exposição para homenagear nomes consagrados da arquitetura e da decoração (neste ano, o escolhido é Oscar Niemeyer). “Quero que nossa mostra entre para o calendário internacional”, diz Doria. Um de seus trunfos para atingir tal objetivo é o reconhecido talento para fechar bons negócios durante momentos de descontração. Como os jantares para empresários que promove em sua mansão no Jardim Europa. “Neste mês, reunimos todos os arquitetos da Casa Cor em nossa residência”, conta a artista plástica Bia Doria, com quem ele é casado há quase vinte anos e tem três filhos. Sua casa em Campos do Jordão também vive cheia. Em geral, de lojistas e patrocinadores do shopping de inverno Market Plaza, outro empreendimento dele.
Doria é o tipo de pessoa que desperta simpatia à primeira vista. Sempre elegante e formal, jamais descuida do penteado e da barba, que chega a fazer duas vezes num mesmo dia. Não fala palavrão, não fuma, não bebe nem fala mal de ninguém. Se precisa repreender alguém, mantém o tom de voz baixo. Chama a empregada de “dona”, o jardineiro de “senhor” e os funcionários pelo primeiro nome. Envia cartões de parabéns aos amigos e distribui brindes aos clientes (ou melhor, sócios). É pontualíssimo. Quando a agenda fica abarrotada, recorre a seu helicóptero, um Bell 407.
Quem conhece Doria apenas por seu programa de entrevistas Show Business, transmitido pela Rede TV!, fica surpreso com sua história. Filho do deputado federal João Doria, encarou uma mudança drástica de rotina depois que o pai foi cassado, em 1964, e se exilou na França. Despediu-se dos confortos da vida de classe média alta e, aos 13 anos de idade, começou a trabalhar numa agência de publicidade. “Ainda estudava à noite.” Sua mãe, Maria Sylvia, virava-se como podia com uma pequena fábrica de fraldas de pano. Aos 25, ele atuou na campanha de Franco Montoro ao governo. Aos 27, tornou-se secretário municipal de Turismo e, depois, presidente da Paulistur e da Embratur. Participou da campanha Diretas Já. É essa biografia que Doria gosta de apresentar como credencial. Especialmente quando acusam de elitista o movimento Cansei, capitaneado por ele após a queda do vôo 3054 da TAM, no ano passado. “Ganhamos respeito e espaço para reclamar.”