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O assassinato de dois adolescentes expõe os perigos na Cantareira

Pouco mais de 30 quilômetros do centro da cidade, região abriga maior floresta em área urbana do mundo

Por Camila Antunes e Juliana de Faria
Atualizado em 5 dez 2016, 19h25 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Na Zona Norte, a pouco mais de 30 quilômetros do centro, a Serra da Cantareira é um refúgio para os paulistanos que gostam de ficar em contato com a natureza. A reserva de Mata Atlântica e a abundância de água conservam o ar mais puro e a temperatura mais amena que no resto de São Paulo (os termômetros registram até 7 graus de diferença para a Praça da Sé). Macacos e pica-paus têm ali seu habitat e alguns moradores juram que suçuaranas ainda rondam por lá. É nesse cenário idílico que surgem novos condomínios e opções de lazer para os visitantes de fim de semana. Pode-se escolher entre trilhas, cavalgadas e descidas de rapel em cachoeira, além de haver boas opções de restaurantes, bares e boates. Mas não se trata de um paraíso. O brutal assassinato de dois adolescentes no Parque Estadual da Cantareira, onde foram encontrados os corpos na terça-feira passada, revelou os perigos que se escondem na floresta.

O homem que matou os dois irmãos, depois de torturá-los e abusar sexualmente de um deles, encontrou abrigo para suas perversidades na mata fechada. Moradores da favela Jardim Paraná, vizinha do local do crime, dizem que traficantes de drogas também se escondem na área. Além disso, a região é conhecida por servir para o descarte de cadáveres e de carcaças de carros roubados. “Quando tenho de ir à divisa do parque com as favelas, peço escolta à polícia”, afirma o engenheiro agrônomo Fernando Décio, diretor do parque estadual.

No sábado (22), por volta das 11h30, os irmãos Francisco Ferreira Oliveira Neto, de 14 anos, e Josenildo José Oliveira, de 13, entraram na mata fechada à procura de frutas e não retornaram. Outros três adolescentes do bairro contaram à polícia que, no mesmo dia, foram abordados por um homem negro e forte, aparentemente com uma arma na mão, que os forçou a entrar na mata e tentou amarrá-los. Eles conseguiram escapar. Os irmãos Francisco e Josenildo não tiveram a mesma sorte. Policiais encontraram os corpos com dezenas de perfurações e já em estado de putrefação. Ao lado, havia preservativos usados. Suspeitou-se que o assassino fosse um maníaco. “Estamos investigando quatro homicídios ocorridos entre fevereiro e junho, mas ainda é cedo para dizer se os casos estão interligados”, diz Cíntia Tucunduva, delegada da Equipe Especial de Investigação de Crimes contra a Criança e o Adolescente.

Na madrugada de quarta-feira, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) identificou Ademir Oliveira do Rosário como suspeito do duplo homicídio – graças ao retrato falado, elaborado mediante informações dos três jovens sobreviventes. Rosário, que, segundo a polícia, confessou o crime, já havia sido condenado por atentado violento ao pudor e homicídio. Cumpria pena no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Franco da Rocha, em regime semi-aberto. De acordo com o delegado Raul Machado Tilcher, o acusado deixou o hospital na sexta-feira (21) e retornou na segunda (24). Nesse intervalo teria matado os meninos.

Depois que a notícia do assassinato dos irmãos saiu nos jornais, o telefone do Parque Estadual da Cantareira não parou de tocar. Na linha, educadores aflitos queriam cancelar o passeio de suas turmas. “Foi preciso explicar que os núcleos onde há visitação estão isolados da cena do crime”, conta o diretor Fernando Décio. As escolas são responsáveis pelo movimento de 200 pessoas no parque nos dias de semana. Aos sábados e domingos, quando a bilheteria é aberta à população em geral, registra-se a entrada de até 1 200 visitantes, que pagam ingresso de 2 reais. O que se chama de Parque Estadual da Cantareira é na verdade uma reserva florestal de 8 000 hectares, o equivalente a cinqüenta Ibirapueras. “Não dá para controlar o que acontece em toda a sua extensão com apenas vinte vigias desarmados”, afirma Décio. Por esse motivo, foram demarcados quatro pequenos trechos de visitação onde as trilhas de terra batida são largas e há sinalização ao longo do percurso. Neles há também mirantes, lagos e espaços para piquenique. As duas maiores preocupações da administração são a preservação da flora (que nesta época do ano se traduz por combate a incêndios) e a contenção de ocupação clandestina ¬ como a favelização do entorno, o que tem feito a criminalidade aumentar. Bons tempos em que as onças, e não os homens, assombravam os moradores e visitantes da Serra da Cantareira.

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