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Nova geração de artistas ganha destaque ao retomar tradição da pintura

Entre os nomes mais promissores estão Marina Rheingantz, Rodrigo Bivar, Bruno Dunley e Regina Parra, todos ex-integrantes do 2000e8

Por Jonas Lopes
Atualizado em 14 Maio 2024, 11h34 - Publicado em 21 out 2011, 23h50
Bruno Dunley - edição 2240
Bruno Dunley - edição 2240 (Mario Rodrigues/)
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Há três anos, oito jovens se reuniram em São Paulo para organizar uma exposição em torno da pintura. Inaugurada no Sesc Pinheiros após passar por Florianópolis, a coletiva do grupo 2000e8 (o nome é esse mesmo) atraiu a atenção da imprensa: afinal, atualmente é mais comum que artistas iniciantes se arrisquem em instalações ou vídeos. As revelações foram cooptadas por galerias importantes e hoje exibem um trabalho ainda mais maduro. Entre os nomes mais promissores do cenário estão Marina Rheingantz, Rodrigo Bivar, Bruno Dunley e Regina Parra, todos ex-integrantes do 2000e8, além de Lucas Arruda.

Eles rejeitam, no entanto, a ideia de conjunto. “Nossa intenção era apenas organizar uma mostra. Acabou tomando uma proporção maior do que imaginávamos”, diz Bivar. “Por um tempo incomodou sermos tratados como uma coisa homogênea, mas, como nos separamos logo, foi positivo, ajudou a chegarmos às galerias”, completa Dunley. Para a crítica e curadora Luisa Duarte, é importante ressaltar que eles possuem “poéticas singulares”. De fato, essa geração exibe trabalhos distintos entre si, apesar de compartilhar algumas características — como a relação com a linguagem da fotografia e do vídeo — e de influências parecidas, caso do alemão Gerhard Richter, do escocês Peter Doig, do polonês Wilhelm Sasnal e dos belgas Luc Tuymans e Michaël Borremans. “Eles têm em comum um olhar contemplativo para o mundo”, afirma Luisa.

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Outro motivo pelo qual os artistas ganharam espaço foi o apadrinhamento de figuras consagradas nos anos 80, década conhecida no Brasil como a da volta das telas. Professor de todos eles, Paulo Pasta assinou um texto sobre o 2000e8 e admira a dedicação do pessoal à tinta e ao pincel. “Eles têm uma grande vantagem em relação a nós”, diz. “A década de 70 era marcada pelo conceitual. Ninguém queria saber de pintar, e tivemos de reagir contra isso. Esse sectarismo acabou.” Revelado também naquele período fértil, Rodrigo Andrade passou de modelo a amigo. Recebe os jovens em seu ateliê e troca opiniões. “Confio muito na intuição dos meninos, temos uma troca rica”, declara.

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Marina Rheingantz, um dos nomes mais valorizados entre esses jovens, ressalta a diferença da pintura em relação a outros gêneros. “Tem um tempo completamente diferente. Sem demérito para outros suportes, as telas nascem mais do processo diário de tentativa e erro do que de conceitos”, afirma. Marina, que completa 28 anos na terça (25), aposta em paisagens no limite entre figuração e abstração, com pouca ou nenhuma presença humana. Ela já tem uma tela no acervo da Pinacoteca e conta uma história curiosa sobre a descoberta de seu talento. Em 2006, trabalhava como estagiária na Galeria Fortes Vilaça quando a galerista Márcia Fortes descobriu suas obras em um anuário da Faap. Ela quase a matou de susto ao anunciar que estava demitida. “Quero você no ateliê”, avisou Márcia, para alívio da artista.

Lucas Arruda
Lucas Arruda ()

Algumas técnicas se destacam nos processos criativos. Regina Parra, de 30 anos, fez uso, na série “Rumor”, de imagens captadas por câmeras de segurança, desde prostitutas até ela mesma caminhando na rua. “Fotografo a cena no videocassete e pinto a partir disso, para aproveitar a falta de nitidez”, explica a ex-assistente do diretor Antunes Filho. Rodrigo Bivar, de 30 anos, também aposta em outros materiais. “A pintura se livrou de certos dogmas e hoje pode se apropriar de recursos de fotografia e vídeo”, diz ele. Bivar resgata gêneros tradicionais, como o retrato e a natureza-morta, às vezes envolvendo personagens em situações que provocam estranhamento no espectador, a exemplo de um menino fantasiado de explorador ou de uma figura com um saco de pão na cabeça.

Regina Parra - edição 2240
Regina Parra – edição 2240 ()

Imagens de horizontes retiradas da internet são a fonte de inspiração de Lucas Arruda, de 27 anos. Com base nelas, ele pinta céus, praias, casas e árvores. “Nunca sai igual. Utilizo as fotos como modelo, mas desvirtuo tudo com o uso das cores”, conta. Por sua vez, cenários extraídos da memória, sobretudo da infância — parques de diversões, soldadinhos de chumbo, lousas —, delicados e bem-humorados, aparecem nas telas monocromáticas de Bruno Dunley, também de 27 anos. Em texto publicado no catálogo da última mostra de Dunley, Rodrigo Andrade escreve que essas pinturas “transmitem gentileza e sabedoria na maneira de se relacionar com o mundo”.

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Rodrigo Bivar - edição 2240
Rodrigo Bivar – edição 2240 ()

Alguns desses artistas participam de mostras na cidade. Marina encerra neste domingo (23) uma individual no Centro Universitário Maria Antônia. Bivar, que integra coleções particulares como a do editor Charles Cosac, está em duas coletivas — “Panorama da Arte Brasileira”, no MAM, e “Panoramas do Sul”, no Sesc Belenzinho, no qual há ainda um vídeo de Nunde Regina. Dunley e Arruda já exibiram obras juntos em Buenos Aires. Esse último alcançou neste ano seu maior êxito até agora, uma individual na I-20 Gallery, de Nova York. A mostra rendeu uma crítica entusiasmada do “The New York Times”, na qual ele é comparado ao americano Edward Hopper e ao alemão Caspar David Friedrich.

Para além das características estéticas, é preciso adicionar um quesito importante à carreira desses cinco nomes, cujas telas chegam a custar cerca de 30.000 reais: o mercado. Em um cenário que movimenta no país, segundo especialistas, por volta de 200 milhões de reais por ano, os novos talentos tornaram-se alvo de colecionadores devido ao fato de suas telas serem mais acessíveis do que as de nomes experientes e porque a pintura ainda é considerada, por vários compradores, a técnica principal das artes plásticas. “Com a melhora econômica, tem entrado gente nova no negócio”, afirma o galerista André Millan. Diretor da Fortes Vilaça, Alexandre Gabriel reforça, contudo, a importância de não transmitir aos artistas a pressão pelas vendas: “Temos de respeitar o tempo de maturação do trabalho. Galeria não pode ser apenas o agente comercial”.

MAIS SOBRE OS ARTISTAS

MARINA RHEINGANTZ

27 anos

Galeria: Fortes Vilaça

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Faculdade: Faap

Estilo: paisagens entre a figuração e a abstração, com pouca ou nenhuma presença humana

BRUNO DUNLEY

27 anos

Galeria: Marília Razuk

Faculdade: Santa Marcelina

Estilo: imagens extraídas da memória e tons monocromáticos

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LUCAS ARRUDA

27 anos

Galeria: Mendes Wood

Faculdade: Santa Marcelina

Estilo: horizontes, céus e praias marcados pelo manejo hábil de cor e luz

REGINA PARRA

30 anos

Galeria: Leme

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Faculdade: Faap

Estilo: cenas captadas em vídeos de câmeras de segurança

RODRIGO BIVAR

30 anos

Galeria: Millan

Faculdade: Faap

Estilo: resgate de gêneros tradicionais, como retrato e natureza-morta em situações que provocam estranhamento

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