Nizan Guanaes abre nova sede do N.ideias, de estratégias em comunicação
Nascido em Salvador, publicitário completa 40 anos em São Paulo, cidade que, segundo ele, lhe deu oportunidade para voar
Nizan Guanaes nasceu na Rua do Carmo, número 4, no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, no dia 9 de maio de 1958. Aos 66 anos, o publicitário e empresário baiano comemora quarenta deles em São Paulo, quase dois terços de sua vida. “As pessoas sempre me perguntam qual a melhor ideia que eu já tive”, conta. “E respondo: foi mudar para São Paulo. Porque a cidade me deu tudo. Uma pista para voar. Não adianta ficar falando ‘o cara é um avião’; se não tiver pista, não tem voo.”
Nizan é só gratidão para falar da capital e da forma como foi recebido. “São Paulo não te pede certidão de nascimento, nem carteira de identidade, ela te acolhe e quer sua dedicação. É a melhor do Brasil porque aqui tem uma junção de gente de tudo quanto é lugar”, afirma. Ele já foi considerado um dos cinco brasileiros mais influentes do mundo, eleito pelo Financial Times em 2010.
Temos uma abundância de talentos e precisamos pensar na cidade. Veja o que o Pedro Tourinho fez com Salvador, está fervilhante. Precisamos de uma troca de guarda geracional, de um sopro de juventude, sem esquecer dos mais velhos. Quem prevê o futuro é a mãe de santo e ela é velha (risos).
Nizan Guanaes
Com uma trajetória profissional brilhante e capacidade de se reinventar, Nizan recebeu Vejinha para conhecer, em primeira mão, a nova sede do seu escritório de estratégias de comunicação, o N.ideias, na Faria Lima, projetado pelo arquiteto Sig Bergamin, todo em “vermelho-xangô”, cor do seu orixá. “Vermelho é paixão, uma cor visceral”, destaca. O lugar traz elementos de sua história, repleta de baianidades, e fotografias de personalidades que o inspiram, de Gilberto Gil a Jean-Michel Basquiat, de Winston Churchill a Mario Testino, de David Bowie a Jorge Amado.
Depois de trazer a agência baiana DM9, fundada por Duda Mendonça, para São Paulo e fazer dela uma das maiores do país, e de construir o ABC, Nizan decidiu que queria reduzir suas operações e vendeu, em 2015, o Grupo ABC, uma holding que estava entre as maiores do mundo, com quase vinte agências, entre as quais Africa e DM9, para o grupo Omnicom, em uma transação considerada a maior do mercado publicitário brasileiro. “Eu já tive um grupo com 2 500 funcionários, dez prédios”, afirma. “A gente tem que escolher se quer ser um transatlântico ou um jet ski. Mudei a lógica. Como quero cuidar de tudo, só tenho poucos clientes, uns seis ou sete. Antigamente, era Golias, agora é Davi.”
Hoje, ele é CEO da N.ideias, fundada em 2020, e estrategista de comunicação das principais marcas do país. “A N.ideias é enorme, só que pequena. Só pego clientes ‘uau’”, avisa. Entre eles, o Banco Itaú, o iFood e a Suzano. Ano passado, foi estudar em Harvard e se formou no curso Owner/President Management. Como ele não para, é também colunista do jornal Valor Econômico, onde escreve textos autênticos e divertidos, e se orgulha de ter feito junto com seu psiquiatra, Arthur Guerra, o livro Você Aguenta Ser Feliz? (Sextante), que entrou na lista de best-sellers do jornal O Globo.
Eu sou o capitalista em pessoa. Outro dia eu disse qualquer coisa no digital e um cara falou que eu era comunista. Nunca ninguém me acusou disso (risos). Mas meu avô era comunista, líder sindical. Não sei se sou a esquerda da direita ou a direita da esquerda. Sou fluido.
Nizan Guanaes
Em uma conversa com Nizan é nítida a percepção de que suas ideias estão em ebulição. Ele divaga sobre assuntos diversos, emendando um no outro, de forma empolgada, gesticulando, um mar de ideias. De acordo com o publicitário enraizado em São Paulo, muito do seu amor pela capital vem do grande amigo Washington Olivetto, falecido no último dia 13, aos 73 anos. Quando nos encontramos para esta matéria, o publicitário ainda era vivo e Nizan o mencionou diversas vezes na conversa, com admiração e entusiasmo. “Esse amor por SP vem muito do Washington. Eu o conheci em uma gafieira em Salvador. Estava lá, o maior publicitário do Brasil, dançando. Fui falar com ele e me apresentei: ‘Você é meu Deus e um dia eu sonho em trabalhar com você’”, conta. “O Washington Olivetto é o João Gilberto. Pois a propaganda antes dele era toda empolada. É o primeiro cara que começa a colocar cultura popular na publicidade, o Garoto Bombril, Meu Primeiro Sutiã. Mas, por outro lado, tinha grandes diretores de arte que davam um acabamento bonito às campanhas.”
Ele acredita que essa conexão com o popular fez a diferença na sua chegada a São Paulo. “Eu aprendi que tinha que dar valor a este meu lado, pois temos uma tendência natural de ser colonizados e nos comportar dessa forma. Essa liberação caiu como uma bênção. Eu trouxe a afirmação disso. De uma maneira até mais extremada. Eu vivia vestido de pai de santo”, revela. O pai de Nizan, um ascensorista que sonhava em ser médico e escolheu a profissão para poder estudar, conheceu sua mãe no elevador. “Ele se formou com 33 anos em medicina, mas teve um infarto com 45”, lamenta.
Neto de um comunista e líder sindical, a linguagem simples era um terreno fértil para o publicitário, que já foi locutor de rádio na Bahia. Nizan conta que teve a sorte de ir conhecendo “paulistanos praticantes” que foram lhe passando também o amor pela cidade. “São Paulo me deu minha mulher, Donata (Meirelles), meus enteados, Zeca e Helena, e meu filho Antônio (do primeiro casamento, com Raquel Silveira).”
Como estrategista da comunicação, Nizan se define como “embaixador do futuro”. Em sua visão, São Paulo precisa de grandes ideias. E cita como exemplo o que Paris fez na Olimpíada. Em sua opinião, a cidade que melhor aproveitou a oportunidade. “Teve estratégia, em vez de ficar construindo elefantes brancos”, afirma.
Uma das suas principais características é a disciplina. “Embora eu seja baiano, não vim na vida a passeio”, brinca. Mas, para Nizan, o descanso também é sagrado. “Jorge Amado me disse uma vez em Paris: ‘Depois das 3 horas da tarde eu recuso conversa inteligente’”, diverte-se. Para relaxar a cabeça, tem algumas táticas. “Adoro assistir a séries idiotas. São as minhas preferidas. É uma espécie de meditação”.
Depoimentos de clientes e amigos sobre o publicitário
Nizan é uma das mentes mais brilhantes do país. Ele é ao mesmo tempo um estratégico criativo e um criativo estratégico. Digo sempre que Nizan é daqueles raros ‘gênios tridimensionais’, com uma habilidade única de ler o espírito do tempo e conectar de um jeito simples e memorável o passado, presente e futuro das marcas.
Eduardo Tracanella, CMO do Itaú Unibanco
Eu conheci o Nizan quando ele se mudou para São Paulo. Fiquei muito encantado com a cabeça dele, a capacidade de reinvenção, de estar sempre à frente do tempo. As ideias dele sempre foram atípicas e ele está deixando um legado digno de estudo para as próximas gerações.
Zé Maurício Machline, diretor de marketing e realizador do Prêmio da Música Brasileira
Nizan Guanaes é um exemplo notável de transformação e resiliência. Conhecer ele foi um divisor de águas para a causa da Casa Santa Teresinha de Lisieux, cujo nome foi ideia dele. Com sua genialidade e coração sensível, ele ainda aportou a maior parte dos recursos para a nova sede da instituição.
Dra. Régia Celli Patriota, presidente da Casa Santa teresinha, que apoia portadores de doenças genéticas de pele
O Nizan já mudou mil vezes e eu fiz todas as casas dele. A gente se identifica muito um com o outro, nos tornamos conselheiros em quesitos de arte e vida. Ele adora o que eu faço e eu sou fã dele. O Nizan é genial, único.
Sig Bergamin, arquiteto e designer
O Nizan vem me ajudando a posicionar a favela. Ele é um tremendo estrategista e construtor de marcas: cuida de marcas como se fossem causas e de causas como se fossem marcas. Mas o que mais me admira nele, não é o que já fez, mas o que ele ainda vai fazer. Nizan está sempre de olho na próxima onda, estudando e treinando.
Edu Lyra, CEO da Gerando Falcões
Nizan relembra memórias com família e amigos
* Colaborou Luana Machado
Publicado em VEJA São Paulo de 8 de novembro de 2024, edição nº 2918