MP recebe denúncia contra o fim do muro da raia da USP
Obra foi apresentada sem nenhum estudo de impacto ambiental e barulho e fuligem dos carros podem inviabilizar a prática de remo no local
Na manhã desta segunda, 15, o remador Michel Neumark, em nome da comunidade de praticantes do esporte que utilizam a Raia Olímpica da USP, protocolou no Ministério Público do Estado de São Paulo uma denúncia contra o projeto de derrubada do muro que separa o local das pistas da Marginal Pinheiros. A ideia da universidade, que conta com o apoio da prefeitura na empreitada, é substituir o muro por um gradil eletrofundido, aumentando a visibilidade do local para quem está trafegando pela via expressa. Segundo a denúncia encaminhada ao MP, a obra foi concebida sem nenhum estudo de impacto de ambiental e, se for levada adiante sem algumas modificações importantes, coloca em risco o delicado ecosistema da Raia e pode prejudicar a saúde dos frequentadores do espaço. “O muro protege o local contra o barulho e a fuligem dos veículos”, afirma Neumark. “Achamos ótimo tornar o lugar mais conhecido pelos paulistanos, mas, do jeito que está, o projeto é um desastre e inviabiliza a prática de esportes por lá. A alternativa é colocar vidros ou acrílico no lugar do muro”, completa ele.
Procurada por VEJA SÃO PAULO, a assessoria de João Doria disse que não poderia comentar pontos específicos do projeto e enviou para a redação da revista a seguinte nota: “A prefeitura apoia a integração urbanística entre a USP e a cidade. Solicitamos que as questões relativas a detalhes do projeto sejam encaminhadas à universidade, responsável por sua elaboração e execução”. A reitoria da USP, por sua vez, negou-se a comentar as críticas. Segundo apurou a reportagem de VEJA SÃO PAULO, não foi realizado mesmo nenhum estudo de impacto ambiental da derrubada do muro. Os clubes e responsáveis diretos pelo local também não tiveram a oportunidade de opinar sobre o projeto. “O negócio foi simplesmente comunicado a nós pela USP, sem qualquer margem de discussão”, afirmou a VEJA SÃO PAULO uma das pessoas que acompanharam de perto a movimentação em torno do projeto. A expectativa da USP e da prefeitura é que as obras comecem nesta semana e estejam prontas até agosto. As mudanças incluem ainda alterações no paisagismo do espaço, nova iluminação da área e a construção de uma pista de corrida no espaço que separa a Raia Olímpica da Marginal. Tudo isso irá custar mais de 2 milhões de reais, montante bancado por um grupo de empresas. A Prevent Senior, companhia de planos de saúde, por exemplo, será a responsável pela substituição do muro pelo gradil, o ponto mais polêmico da iniciativa.
Inaugurada em 1973, a Raia surgiu como alternativa ao remo na cidade depois que a poluição do Tietê inviabilizou a prática da modalidade no rio. Ela tem 2 200 metros de extensão e 100 metros de largura. Atualmente, cerca de 1 000 adeptos do esporte utilizam o espaço, divididos entre seis clubes: Cepeusp, Pinheiros, Corinthians, Paulistano, Bandeirante e Paineiras. Trata-se da unidade esportiva da USP mais aberta à comunidade externa. Além dos treinamentos, são realizadas ali periodicamente competições, incluindo torneios internacionais. No ano passado, delegações da China e da Rússia usaram o lugar para seus atletas realizarem processo de aclimatação ao país antes das Olimpíadas do Rio. Apesar de estar a poucos metros do Rio Pinheiros, a Raia conseguiu resistir à poluição dos carros. A boa qualidade da água do local, atestada por duas medições anuais, permite a proliferação de peixes, que atraem aves em busca de alimento, como patos, garças e andorinhas. O circuito possui ainda uma rica cobertura vegetal, com destaque para árvores nativas do país, a exemplo de pau-brasil e quaresmeira. A ideia interessante de tornar esse belo conjunto mais visível e acessível aos paulistanos pode ter o efeito colateral de destruir o que ficou preservado ao longo de mais de quatro décadas.