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Motoristas de aplicativos já combinam corridas ‘por fora’

Clientela chega a pagar pacotes por mês por carona compartilhada sem a mediação das empresas de aplicativo

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 20 fev 2017, 09h23 - Publicado em 20 fev 2017, 09h22
uber
 (Divulgação/Veja SP)
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No passado era comum que as famílias elegessem um “taxista de confiança” para fazer deslocamentos frequentes – como levar o filho à aula de inglês duas vezes por semana – ou mesmo corridas até o aeroporto “por fora do taxímetro”. O mesmo fenômeno já ocorre agora com motoristas de plataformas como Uber e Cabify.

Nas últimas três semanas, a reportagem conversou com 23 motoristas do serviço – a maioria sob condição de anonimato. Dezessete deles atuavam por mais de uma das quatro empresas autorizadas a operar em São Paulo. E 19 admitiram ter clientes que os chamam “por fora” do aplicativo. “Quando o passageiro puxa assunto, e eu encontro alguma brecha, acabo passando meu cartão com contatos pessoais e de WhatsApp”, relata um deles, que dirige para o Uber há um ano e, no último semestre, também se cadastrou no Easy. Ele conta que costuma levar gente para o Guarujá por 200 reais. “Quando é por fora, posso tirar uns 20% do valor, já que o aplicativo me cobra 25%. Assim, é melhor para mim e também para o passageiro”, diz.

Desde que se tornou motorista, há sete meses, o engenheiro civil Jair de Oliveira Junior, de 50 anos, mescla uma rotina de passageiros Uber e Cabify com atendimentos particulares. “Tem uma senhora, por exemplo, que me chama a cada 15 dias e fecha algumas horas”, conta.

“Geralmente a acompanho ao médico, aguardo a consulta, depois a levo ao supermercado. Ajudo a carregar as coisas, espero o tempo dela.” A prestatividade de Oliveira acaba sempre rendendo outras indicações. “Tenho atendido idosos com problemas de saúde. Em alguns casos, são pessoas que não confiam nos aplicativos e preferem esse contato pessoal.”

Motorista do Uber há cinco meses, um ex-vidraceiro que mora em Taboão da Serra, na região metropolitana, incorporou à rotina um trabalho voluntário que já fazia há um ano: levar um vizinho, deficiente visual, ao tratamento médico semanal que faz no Hospital das Clínicas, no bairro paulistano de Cerqueira César. “São 18 quilômetros. Pelo Uber, custaria uns 60 reais só a ida. Eu cobra 40 reais ida e volta, todas as sextas”, afirma o motorista.

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Situação parecida é a de outro motorista, um ex-metalúrgico que mora no Grajaú, na Zona Sul de São Paulo. Todos os domingos, ele leva uma família vizinha a uma igreja evangélica a 5 quilômetros de sua casa. Fez um pacote em que cobra 180 reais por mês, ida e volta, todos os domingos. “De vez em quando, eles também querem ir ao culto de quinta-feira. Aí não cobro nada a mais por isso, fica de brinde”, conta. Ele também diz que costuma buscar amigos na balada, cobrando por fora.

O músico Luiz Fernando dos Santos Cardoso, de 29 anos, ficou sem carro por quase seis meses. Com shows em bares agendados – ele forma uma dupla chamada Kevin e Nando – praticamente todos os dias de quarta a domingo, passou a se locomover só de Uber. “Aí conheci um motorista gente boa e fechei com ele por fora”, afirma. “Ele quebrava vários galhos, pegava os equipamentos de som em minha casa, ajudava a descarregar tudo no bar… Sempre que precisava, ligava para ele e pronto.”

No caso do aposentado Ednei da Silva Romeiro, de 68 anos, o jeitinho funciona na hora de ir ao médico. Ele mora em Perus, na Zona Norte, e a cada 15 dias tem consulta na Vila Mariana, na Zona Sul. “Minha filha já usava bastante isso de aplicativo e sugeriu encontrar alguém boa praça para fechar um pacote”, diz. De táxi, ele costumava gastar 110 reais por corrida. Agora, paga 70.

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Concorrência

Motorista de Cabify e Uber há 11 meses, uma ex-secretária mostrou para a reportagem um grupo de WhatsApp do qual ela participa só para conseguir serviços de transporte “por fora”. Até então já eram 28 motoristas cadastrados e um “operador”.

“Eles estão montando um concorrente da Uber”, exagera ela. Funciona assim: ao fechar uma corrida feita por um dos aplicativos, o motorista que pertence ao grupo envia a localização de onde está. “Se houver algum pedido de transporte da região, eles mandam a mensagem com o endereço”, conta ela, que pediu para não ter o nome do grupo revelado e não permitiu que a reportagem fotografasse a tela de seu celular.

Empresas

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As quatro empresas consultadas pela reportagem – Uber, Cabify, Easy e 99 – afirmaram que os motoristas são livres e autônomos para realizar outros serviços que quiserem. Mas ressaltaram que a segurança de passageiros e motoristas está no uso das plataformas oficiais. Os motoristas pedem anonimato com receio de que sofram sanções.

Para Maurício Januzzi, da Comissão de Direito Viário da Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo (OAB-SP), o serviço “é irregular”. De acordo com ele, a legislação federal prevê o transporte individual remunerado de passageiros como atividade privativa de taxistas. Quem oferece a corrida por fora também não pode ser classificado como motorista particular contratado com exclusividade.

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