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Mostra de Aleijadinho exibe peças de autoria contestada

Coleção do empresário Renato Whitaker reúne 51 itens, entre altares, relicários e imagens de santos

Por Daniel Salles
Atualizado em 5 dez 2016, 18h28 - Publicado em 12 nov 2010, 23h27

A vida do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, cultuado como o maior gênio do barroco mineiro, ainda é cheia de mistérios. A começar pelo seu nascimento: alguns falam que teria sido em 1730; outros, cinco anos depois. Um segundo enigma é a doença contraída por ele aos 40 anos e que o deixou cego de um olho e sem boa parte dos dedos. Teria sido lepra? Sífilis? Filho do arquiteto português Manuel Francisco da Costa Lisboa com uma escrava, Aleijadinho foi um dos principais responsáveis pela produção de adornos para igrejas durante o ciclo do ouro de Minas Gerais.

Nesse período, os artesãos dividiam encomendas com colegas, instrutores levavam o crédito pelo esforço de seus alunos e quase ninguém assinava suas obras. Recibos e atas confiáveis indicam que Antônio Francisco Lisboa realizou trabalhos em Sabará e no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. O número de esculturas atribuídas ao artista, porém, não para de crescer. Na década de 60, eram 160; hoje são mais de 400.

Boa parte delas está nas mãos do empresário paulista Renato de Almeida Whitaker. Sua coleção de objetos do mestre mineiro, de longe a maior de todas, reúne 51 itens, entre altares, relicários e imagens de santos. Atualmente em exposição no Museu de Arte Sacra, no centro, as obras poderão ser conferidas pelos paulistanos até o dia 16 de janeiro.

Whitaker começou a amealhar seu tesouro em 1978, após visitar uma mostra sobre Aleijadinho no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A primeira aquisição: uma escultura de Nossa Senhora do Rosário, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “O que mais me atrai nos trabalhos dele é a ilusão de movimento”, conta. Ele não revela o valor que desembolsou pelas peças, avaliadas entre 150 000 e 3 milhões de dólares cada uma. Parte do acervo foi exibida pela primeira vez em 1998, durante a 24ª Bienal de São Paulo. Nos anos seguintes, algumas das obras integraram mostras de museus renomados como o Petit Palais, em Paris, e o Guggenheim, em Nova York. Em 2003, Whitaker entrou na Justiça para barrar a venda do livro ‘O Aleijadinho e Sua Oficina’ (editora Capivara).

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Escrito por pesquisadores do Iphan, o texto reconhece a autenticidade de apenas 128 peças do escultor mineiro e de seus discípulos. Por determinação judicial, revista dois meses depois, os exemplares à venda tiveram de ser recolhidos. “Só tomei essa atitude por não ter autorizado a reprodução de minhas obras”, diz Whitaker.

Especula-se, no entanto, que a razão de seu descontentamento seja outra. “Deixamos de lado a maior parte de sua coleção e ele não tolera isso”, afirma um dos autores, o restaurador Antonio Fernando Batista dos Santos. Explica-se: figuram no livro apenas quatro das peças pertencentes a Whitaker, o que lança dúvidas sobre a legitimidade do resto da coleção. “A quantidade de museus de prestígio que expuseram meu acervo atesta seu reconhecimento”, rebate o empresário.

Engenheiro civil formado pelo Mackenzie, Whitaker fez fortuna na construção civil — ele é dono de uma incorporadora de imóveis, a Tradebank. Em abril passado, aos 69 anos, após uma consulta com um otorrinolaringologista, recebeu um diagnóstico grave. Tinha no rosto um câncer em estágio avançado, felizmente não espalhado para outras áreas do corpo. Submetido a cirurgia, precisou retirar partes do nariz. Desde então, ele reflete sobre qual destino terão suas obras depois de sua morte. “Não quero dividir minha coleção entre meus sete filhos, mas revendê-la para um grupo de empresários que se comprometa a deixá-la exposta.”

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