Moema: shows no Bourbon Street e no Citibank Hall
Durante anos, as duas casas concentraram apresentações de grandes nomes do rock, do soul, do jazz, do blues e da MPB
Às vésperas do início de mais uma temporada de espetáculos — virão para cá neste ano, entre outros, U2, Roxette e Ozzy Osbourne —, São Paulo hoje dispõe de variados espaços para receber os astros da música. Mas, durante anos, era nos palcos de duas casas de espetáculos de Moema que ocorriam as apresentações paulistanas dos grandes nomes do rock, soul, jazz, blues e MPB.
No Citibank Hall — inaugurado em 1983 como Palace —, já foram realizados mais de 3.500 shows e 1.000 eventos, com um público acumulado superior a 4 milhões de pessoas. Pelo palco instalado na Alameda dos Jamaris, num galpão onde funcionava um rinque de patinação, passaram Roberto Carlos, Chico Buarque, Tom Jobim, Caetano Veloso, João Gilberto e os principais roqueiros brasileiros, de Rita Lee a Titãs.
O crítico musical Zuza Homem de Mello, curador do Free Jazz Festival (que teve as edições de 1989 a 1995 realizadas no local), elege a performance do baterista Max Roach, em 1989, como a mais memorável. “Era um músico único, que tocou com Miles Davis, Charles Mingus, Duke Ellington e Charlie Parker, e conseguia extrair melodias de sua bateria.” O produtor musical Carlos Eduardo Miranda aponta o show de James Brown, em 1988, como o mais antológico.
Entre os episódios curiosos, vale citar o de Tim Maia, em 1986. Minutos antes de se abrirem as cortinas, o cantor disse que tinha de resolver um problema no estacionamento. Saiu, pegou um táxi e nunca mais voltou. Em 1987, durante um show dos Ramones, um grupo de skinheads destruiu a porta de vidro e invadiu o hall. Para eles, uma banda punk não poderia cobrar ingressos. A baderna acabou com a chegada de 200 policiais.
Em dezembro de 1993, o bairro ganhou outro palco que ficaria famoso, o Bourbon Street, construído em um casarão dos anos 50 que ocupava uma então pacata esquina na Rua dos Chanés. A noite de abertura, com a presença do guitarrista americano B.B. King, quase naufragou: o empresário que negociava o show desistiu do acordo, mas o artista resolveu comparecer do mesmo jeito. “Ele se preocupou conosco”, conta o diretor artístico Herbert Lucas. “Depois veio mais cinco vezes e acabamos ficando amigos.”
Prova disso é o troféu exibido na entrada: uma guitarra Gibson ES-355, idêntica à sua inseparável Lucille, autografada. Ao longo dos anos, passaram por lá mais de 300 artistas nacionais e 400 internacionais, como Wynton Marsalis e Ray Charles. O cantor e pianista, aliás, teria ficado com ciúme da guitarra de B.B. King e ofereceu um presente para a casa dos sócios Edgard Radesca e Luiz Fernando Mascaro (já falecido), quando a visitou, em 1995: em uma das paredes está exposto seu emblemático terno colorido. “Ray Charles era absolutamente autônomo em suas ações, agia como se não fosse cego”, lembra Herbert.
Os grandes nomes não apareciam apenas no palco. Ron Wood, guitarrista dos Rolling Stones, estava na plateia durante a apresentação da banda paulistana Blue Jeans, em 2002. Fã do guitarrista Marcos Ottaviano, a quem chama de teacher (professor, em inglês), Wood subiu ao palco para uma jam session de quarenta minutos. Desde 2003, a casa ainda promove o Bourbon Street Fest, festival de jazz e blues com shows de rua pelo bairro, geralmente em agosto. No ano passado, as apresentações acumularam 50.000 espectadores e a programação foi incluída no calendário oficial de eventos culturais da cidade.