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‘Milagre Brasileiro’ aborda regime militar de forma contundente

Drama, em cartaz na Sala Renée Gumiel, da Funarte, mergulha na questão dos desaparecidos políticos e de como isso afetou quem estava à sua volta

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 10 Maio 2023, 09h54 - Publicado em 9 jul 2010, 20h06

Muito retratado no cinema, na TV e na literatura, o regime militar ainda é pouco esmiuçado no teatro. Inspirado nas consequências sofridas por seus integrantes ou familiares durante duas décadas de repressão, o Coletivo de Teatro Alfenim, fundado pelo dramaturgo e diretor Márcio Marciano em João Pessoa (PB), cria uma contundente — e, às vezes, incômoda — abordagem do tema. O drama Milagre Brasileiro, em cartaz na Sala Renée Gumiel, da Funarte, nos Campos Elíseos, mergulha na questão dos desaparecidos políticos e de como isso afetou quem estava à sua volta.

Ao entrar no espaço, o espectador encontra sete atores em vigília, clamando por atenção. Diante do rosto, eles seguram cartazes que os identificam como “procurados” ou “terroristas”. No centro da arena, uma mulher (a atriz Zezita Matos) evoca a mítica Antígona, que luta contra os tiranos para enterrar um ente querido e, tragicamente, derrama-se sobre as perdas. Em outra cena, um grupo faz alusões à peça ‘Álbum de Família’, de Nelson Rodrigues, à medida que o pai perde o controle sobre os filhos e um deles adere à luta armada. O diretor Márcio Marciano costura a ação com referências históricas, como a decretação do Ato Institucional nº 5 e a vitória do Brasil na Copa do Mundo de 1970. Também utiliza recursos como o teatro grego e o musical — há dois instrumentistas em cena. As metáforas sutis são evitadas e a narrativa direta não poupa os espectadores ao abordar torturas, sequestros e interrogatórios. Sem aliviar.

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